ESPELHO, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?

No dicionário Aurélio, beleza significa:

1- Perfeição agradável à vista, e que cativa o espírito.

2- Mulher formosa.

Interessante falar da mulher, não é mesmo?

Não há designação de bonito para o sexo masculino. A palavra “bonito”, no dicionário, tem os seguintes significados:

1 – Brinquedo, boneco.

2 – Designação comum de uma espécie de atum.

3 – Expressão usada para indicar aprovação ou surpresa.

4 – Expressão usada para indicar desagrado, ironia ou reprovação.

5 – Que é agradável à vista ou ao ouvido.

6 – Que é digno de menção.

7 – Que é digno de reprovação.

8 – Com graça, habilidade ou talento.

Dessa forma, concluo que ao homem não se exige beleza, mas, que seja agradável à vista, tenha graça, talento, virilidade, força e masculinidade, apesar de alguns homens se encaixarem nos significados 1 e 2 acima citados.

Afinal, o que é ser belo, agradável à vista?

O “politicamente correto” diz que não existe pessoas feias, mas sim, preconceitos estéticos.

Ok. Deixaremos o politicamente correto de lado por um instante e vamos divagar.

Sejamos sinceros, você já se deparou com alguém que, literalmente, deu um soco em seu estômago com a sua aparência? Alguém que impediu que desviasse seu olhar por várias frações de segundos? Admita.

Eu admito.

Quando fiz a pós-graduação em Estética e Cosmética na Ibramed, tive aula de cosméticos com uma professora que realmente acertou em cheio meu estômago.

Veja bem, eu sou hetero, porém, ela me fez duvidar da minha escolha.

Confesso, passei a aula toda fascinada por sua beleza. Nunca havia visto alguém tão bonito de perto. Até comentei com ela durante o almoço e, como toda pessoa exageradamente bonita, ela simplesmente sorriu. Nada comentou. Provavelmente, ouve elogios todos os dias.

O que é que as pessoas bonitas têm?

Não é só o desenho do nariz ou a cor dos olhos. De alguma forma, o cérebro faz a leitura daquelas belas faces e formas, identificando a presença (ou a ausência) de alguns aspectos essenciais. Harmonia? Proporção? Delicadeza? Seja como for, em poucos segundos você se sente atraído pelo belo. Ou constrangido pela fealdade.

Ser bonito faz a diferença, enquanto inspira canções, versos, novelas, livros e filmes. Beleza é poder, embora esse tema seja povoado de polêmica.

O escritor Nelson Rodrigues, por exemplo, afirmava que a beleza era algo secundário, irrelevante até. “Ser bonita não interessa. Seja interessante!”, declarou.

Nancy Etcoff, psicóloga da Universidade de Harvard e autora do livro “A Lei do Mais Belo”, lançado no Brasil em 1999 falou: “Dá para dizer que há uma realidade central no belo. Afinal, em todas as culturas, elementos semelhantes têm constituído uma força estética poderosa”. Em seu livro, ela concluiu que, a simetria facial atrai o olhar do expectador, e torna o objeto observado com contornos de beleza.

Eis a chave da questão. A distância entre os olhos e as sobrancelhas, de um lado, a harmonia do nariz com a boca, de outro, seriam os principais definidores daqueles rostos considerados magníficos.

E, curiosamente, não são apenas os seres humanos que têm uma atração nata pela simetria. O zoólogo inglês John Swaldel, da Universidade de Bristol, provou que as fêmeas de alguns pássaros preferem acasalar com os machos que possuem padrões, acentuadamente simétricos.

Na natureza, a beleza carrega uma informação latente: tenho excelentes genes para transmitir.

Simetria, proporção, ordem, clareza. Desde os antigos gregos, os cânones da beleza, têm uma íntima relação com a elegância dos números. Nosso próprio mecanismo de compreensão do universo dependeria da busca desses padrões.

Os gregos chegaram a essa “medida perfeita” cortando uma linha, de tal modo que, a proporção entre o pedaço menor e o pedaço maior fosse igual a linha existente entre o pedaço maior e o todo. É provável que a proporção áurea tenha sido inspirada nas medidas do corpo humano, e de outras formas da natureza, senão vejamos: em uma linha traçada paralela ao corpo, a distância entre o umbigo e os pés, e entre o umbigo e a cabeça, segue essas medidas. Nas obras dos artistas renascentistas Albert Dürer, Leonardo da Vinci e Michelangelo, dentre outros, a beleza é retratada obedecendo essas proporções.

Além das questões simétricas, é possível alcançar maior equilíbrio estético, quando a pessoa utiliza recursos que valorizam seus pontos fortes e sua personalidade. Assim faz o visagismo. Ele ajuda no equilíbrio das formas, alterando a linguagem visual da pessoa, tornando-a mais esteticamente harmônica.

Uma dupla de psicólogas da Universidade da Carolina do Norte, em Charlotte, nos Estados Unidos, que analisou centenas de estudos sobre o assunto, realizados nas últimas décadas, a beleza tanto traz benesses quanto maldições.

Vamos às benesses, primeiramente.

Em seus estudos, descobriram que alunos mais bonitos, em escolas e universidades, tendem a ser julgados por professores como os mais competentes e inteligentes, o que reflete em suas notas. Essa premissa tende a aumentar com o tempo: “Ocorre um efeito cumulativo: ao ser bem tratado, você se torna mais autoconfiante, tem pensamentos mais positivos e, consequentemente, mais oportunidades para demonstrar sua competência”, afirma Frevert.

Descobriram, também, que as pessoas mais atraentes tendem a ganhar melhor e a ascender mais rápido na carreira do que aqueles considerados, fisicamente, menos privilegiados. “As vantagens de uma pessoa bonita começam na escola e a acompanham durante toda a sua trajetória”, conclui Walker.

Até nos tribunais, a beleza parece exercer seu fascínio. Réus mais bonitos têm mais chances de obter penas mais leves ou, até, serem absolvidos. Da mesma forma,  se o indivíduo que entrou com o processo for mais atraente, é para ele que a balança da Justiça tende a pender, fazendo com que obtenha êxito na ação e consiga indenizações maiores. “É um efeito penetrante”, define Walker.

Público e notório que a beleza é algo que se busca a qualquer custo (literalmente). Gasta-se milhões em procedimentos corretivos, o que, para essa dupla de psicólogas é algo totalmente desnecessário, afinal, ser belo não resolve os seus problemas, pelo contrário, pode gerar muitos deles.

Adiante, a maldição de ser belo.

Os resultados desse estudo apontaram que, se você for bonita e for entrevistada por uma pessoa que também se considera bela, mas, em proporção de beleza inferior à sua, provavelmente, não preencherá a vaga pretendida. Puro ciúme.

Os médicos (pasmem!) não levam as pessoas bonitas a sério. O que é um grande problema para diagnóstico precoce de uma infinidade de doenças.

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Ser bonito é sinônimo de solidão. As pessoas “normais” têm medo de se aproximar, inclusive, em sites de relacionamentos. Talvez por medo da rejeição ou de achar que “nunca conseguiriam ter algo com alguém tão bonito”.

Percebeu como ser bonito não é garantia de sucesso? É um atalho cognitivo, elaborado por centenas de anos de evolução, para uma rápida análise e, como toda avaliação demasiadamente rápida, está sujeita a falhas.

Se sua beleza é como a linha do Equador: Existe, mas ninguém percebe, não se preocupe! A sábia atriz Fernanda Montenegro resumiu a importância da beleza numa frase: “A beleza só importa nos primeiros 15 minutos. Depois, você tem que ter algo a mais para oferecer”. Os relacionamentos humanos têm demonstrado que, invariavelmente, a beleza interior suplanta, grandemente, a primeira ilusão que permitiu a dócil aproximação.

Ainda há esperança!!


ELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora.