No primeiro encontro neste espaço, vamos falar de esporte. Os mais presentes amigos que tenho até hoje, os lugares que já conheci e muito do que aprendi na vida vieram do meio esportivo. Seja na prática ou no trabalho com jornalismo. Se contarmos “apenas” o período de profissão, são 23 anos literalmente vivendo do jornalismo, completados agora em janeiro (60% no meio esportivo), mas se ampliarmos para a prática, então, dos quase 43 anos de vida, pelo menos 37 foram dentro do esporte, em uma relação que se intensifica ainda mais agora pois estou na metade do curso de Educação Física na Esef.
Mas isso não quer dizer, também, que o esporte é sempre bom, positivo, uma experiência inesquecível. Muito pelo contrário. Pode ser um problema enorme. Por diversos motivos, mas vamos nos focar, nesta conversa de hoje, na tragédia da Chapecoense e como o futebol, neste caso específico, ficou em evidência e chamou a atenção de todo o mundo.
A solidariedade foi mundial, mas o que os colombianos fizeram, principalmente a população de Medellín e os torcedores do Atlético Nacional, mostrou na prática algo destacado pelos autores nos livros sobre esporte, na teoria, nos estudos científicos, até entre a maioria dos esportistas, porém, que fica longe da população em geral: no esporte não há inimigos, há, somente, adversários. Ao final do jogo ou competição, tudo está resolvido.
E esse fato de Medellín desencadeou outros exemplos positivos, como o dos integrantes das torcidas uniformizadas do Corinthians, do São Paulo, do Santos e do Palmeiras juntos, em paz, cada um com sua paixão, cantando e homenageando a Chapecoense na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu. Por que não é sempre assim? Por que assim que começara temporada de 2017, veremos esses mesmos torcedores em confrontos, em confusões, em violência gratuita? Por que cada um não pode colocar em prática um dos lemas do esporte e da vida: respeitar para ser respeitado?
Vivemos um período cada vez maior (não apenas em Jundiaí e no Brasil, mas no mundo) de intolerância, de retorno a pensamentos da Idade Média, de racismo e violência no futebol, no esporte. Quem acompanha as redes sociais, vai se lembrar da imagem do “torcedor” do Fluminense ofendendo o do Internacional no metrô do Rio de Janeiro após o rebaixamento do Colorado gaúcho à Série B do Campeonato Brasileiro. Um absurdo (as palavras que esse ato merecia não podem ser escritas neste espaço, mas você sabe bem quais são!).
Será que em uma hipotética situação inversa, se o acidente fosse com os jornalistas colombianos e o time do Atlético Nacional, com base no que estamos vendo diariamente aqui no Brasil, em todas as classes sociais, teríamos o mesmo comportamento? Vale a reflexão que neste caso sai inclusive do meio esportivo.
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O que não podemos deixar de lado é que, usando positivamente, o esporte ensina a ganhar e a perder, a ser humilde, a trabalhar em equipe (até mesmo em esportes individuais), a respeitar e ser respeitado, a ter planejamento, dedicação e foco, a exercitar a concentração, a força mental, a melhorar a qualidade de vida e os índices de saúde e, repetindo, a ter adversários e não inimigos. Por isso é fundamental na vida, para as crianças, nas escolas…
Que a tragédia da Chapecoense sirva para abrirmos os olhos e pensarmos em como estamos distantes desses pontos, não apenas no esporte, como na vida.
ANDRÉ SAVAZONI
Jornalista, corredor amador e estudante de Educação Física.
Foto principal: Francisco Medeiros(Fotos Públicas)