No mundo onde o estranho toma conta, temos as vestimentas. Fica evidente a sazonalidade das coisas e, em pensando em Brasil, tudo é permitido. Diante de tantas bizarrices, algumas são bem mais evidentes e mais visíveis: por que os atletas de crossfit precisam usar calções largos pretos, camisetas pretas, meias de cano longo pretas e tênis pretos? Se não usar preto os exercícios não atingem seus objetivos? Ou se não usar preto não se caracteriza a prática da modalidade? Bizarro, não?
Como já comentei aqui, em vezes anteriores, o mesmo acontece com aquele moletom amarrado na cintura, em grupos de jovenzinhas e de não tão jovenzinhas assim, que tem um efeito “sem efeito”. Alguém explica tamanha bizarrice? Independe de ser calor, frio, vento, chuva, nuvem, lá está o moletom amarrado na cintura, sendo levado para passear, indiscutivelmente. É estranho…
Talvez entre para o rol das bizarrices a máscara em motorista solo, uma vez que a pessoa está sozinha, o carro inteiro fechado, geralmente no meio da rua, fazendo curvas como se fosse uma carreta carregada, mas o que vale é a máscara no rosto. Estranho, desnecessário e sem sentido, apesar dos apelos e informações, que consideram o uso da máscara necessário ao sairmos, mas quando estivermos em contato com outra pessoa; isso leva a entender que eu comigo mesmo não caracteriza outra pessoa, salvo o melhor dos juízos. Mas faz parte do ritual percebido nestes novos tempos.
São percepções de um impacto franco, perto do nonsense, mas atende ao volume de bizarrices a que estamos nos familiarizando, diante de tantas coisas que vemos e vivemos. Em momentos de tamanhas dificuldades e incertezas, estas apenas servem para percebermos o quanto estranho estamos no tornando. E aceitando sem exercer nenhum critério e alteração. Juntos, seremos mais bizarros, talvez seja o próximo lema a ser implantado em nossa confusa sociedade.
Inserido no mesmo contexto, aproximamo-nos do período de maior pressão, no país: as vésperas das eleições. É muito interessante perceber as abordagens e as falas dos pré-candidatos. Todos transitam por todos os espaços físicos, mentais, culturais, ideológicos e espirituais nunca antes percebidos. Este ano, ao menos, todos estão disponíveis para sanar todo e qualquer ponto de vulnerabilidade possível de se sonhar, dos municípios brasileiros. Uma geração de superpoderosos que tentarão superar as dificuldades das urnas, e resolverão todos os problemas existentes; vamos atentar para os discursos e vamos verificar as realizações futuras. Sei que os que já aqui estão não são suficientes, pois não fizeram nada para o bem dos municípios e muito menos dos munícipes. Resta-nos confiar nos próximos. Vejamos.
Do álbum das bizarrices, coisas maiores e piores podem pontuar mais (ou menos, dependendo de nosso posicionamento); um exemplo é a atitude do povo pensando que o Covid foi embora. E a superlotação das praias e parques do país; agora ouve-se que não se vive sem o cinema (inclusive por pessoas que não eram de ir ao cinema, ou que diziam preferir às séries da TV); vivemos um momento de tamanha intolerância que as pessoas não se toleram, inclusive. Triste momento, triste história.
Tal situação me faz pensar no contexto que virá, visto que as vacinas não são para agora e não serão, de imediato, para todos. Muitas perspectivas estão se equivocando com filmes de ficção, em especial se não entendermos o que significa pandemia e qual as consequências dela num futuro imediato, médio e longínquo. A quebradeira econômica, que ainda não começou, de fato, será pequena diante da quebradeira emocional a que todos estaremos sujeitos caso continuemos a acreditar em lendas e contos miraculosos e instantâneos: nada será para amanhã, nunca mais.
Pensem na proposta: porque a população não aguenta, alguns prefeitos, inclusive em Jundiaí, liberaram a abertura dos parques e praças de esportes. Mas não estarão abertas as quadras, os vestiários e os recintos internos. Então vamos ver se eu entendi: abriram-se os portões, com todos os cuidados e zelos sanitários, para que? Para admirar as árvores dos recintos? Para ver se a grama está verde e se as raias das pistas estão ainda fixas no chão? Qual o propósito de tamanha desnecessidade? E me falam que isto aconteceu por pressão? Pressão de quem? Servindo a quem? Contribuindo com que? Bizarro. Isso sim. Bizarro, estranho…
Estamos esquecendo que em tempos de pandemia quem manda é o vírus e ele está firme, forte e manda lembranças. Vale notarmos que algumas partes da Europa iniciam a segunda onda de contágios e que desta vez a coisa não se contenta apenas com diabéticos e asmáticos e idosos (aliás, até estou entendendo que logo terá uma lei para exterminar idosos, uma vez que os idosos são culpados de e por tudo). A segunda onda está varrendo tudo o que encontra. Feliz de nós, brasileiros, que ainda não vencemos nem a primeira onda da gripezinha; teremos tempo para nos estruturar e para pensarmos se a quebradeira econômica prevalecerá sobre a quebradeira emocional que está por vir. Teremos tempo para aprender.
Bizarro está a vida do professor que trabalha quase vinte horas diárias para dar quatro horas de aula, online, com alunos dormentes e escondidos, atrás de microfones e câmeras fechadas, pois já sabem que serão aprovados. E os pais, insatisfeitos e cansados dos herdeiros dentro de casa, forçam os políticos para liberarem as escolas, porque o risco de contágio entre crianças é pequeno e os pais precisam sair para trabalhar e para manter a casa. E o professor? Qual possibilidade tem para demonstrar que está sendo violentado e obrigado a trabalhar muito mais do que antes, para um reconhecimento e aproveitamento discutível?
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Neste quadro, vale pensar no papel das escolas: a quem servem? A quem atendem? Aos pais que querem ver os cadernos cheios e os livros usados, mesmo que o rendimento seja suspeito e raso ou à instrução de pseudo alto nível, com acesso remoto, que ainda não estamos preparados para exercer? Se neste ambiente já tínhamos três universos, a serem a família, a instituição de ensino e o governo (no controle da proposta pedagógica), agora temos mais um: a internet brasileira onde se oferece 10 e se entrega 0,73. Mas a preocupação com a saúde física é o cartão de visitas que encoberta a saúde mental, saúde cognitiva e saúde espiritual. Porque ninguém é de ferro. Pobre escola. Pobres famílias que não entendem e não sabem o que cobrar. Pobres alunos, cujo futuro já estava comprometido antes do advento da pandemia. Triste país inculto, desde antes da pandemia.
De bom? Que é primavera. Que não podemos desistir, mesmo diante de tamanhas bizarrices, deste mundo estranho. Mas não podemos deixar de pontuá-las, sem, contudo tentar resolvê-las. Haja Fé. Haja esperança.(Foto: cena do filme ‘Dr. Estranho’)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.
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