Alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do Centro Universitário Padre Anchieta (Unianchieta), de Jundiaí, visitaram a cidade de Mariana, em Minas Gerais, e viram de perto a destruição causada pelo rompimento da barragem do Fundão, da mineradora Samarco. Moradores e o Meio Ambiente levarão muito tempo para se recuperar.
Segundo o coordenador do curso, Flávio Gramolelli Júnior, “as visitas técnicas objetivam levar os alunos a vivenciar aspectos diversificados, aproximando as teorias da sala de aula às experiências reais, preparando melhor nossos estudantes para o mercado de trabalho”.
O Jundiaí Agora – JA – conversou com o professor e geógrafo André Luiz da Conceição, que coordenou a visita:
Quantos alunos e professores participaram desta visita?
Participaram da visita técnica 19 pessoas, sendo 18 alunos. Eu coordenei os trabalhos em Mariana.
Quais séries?
A visita foi integrada, na medida em que promoveu o contato entre alunos de diferentes períodos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. Tínhamos alunos do 5º, 6º, 7º e 9º períodos.
Quantos dias ficaram em Mariana?
Ficamos apenas um dia. Saímos na sexta à noite, dia 28 último, por volta das 23 hora. Chegamos em Mariana no dia seguinte, às 8 horas. Desenvolvemos todas as atividades previstas e retornamos para Jundiaí por volta das 15h30. Chegamos a Jundiaí no início da madrugada de domingo, dia 30.
Foi a primeira vez que alunos do Unianchieta estiveram em Mariana?
Sim, foi a primeira vez.
Onde foram exatamente?
Visitamos a gruta da Lapa e um garimpo de topázio imperial, localizados no distrito de Ouro Preto, a 12 quilômetros do centro da cidade. Depois fomos conhecer o distrito de Bento Rodrigues, destruído pelo rompimento de uma das barragens de rejeitos da Samarco. Tivemos a oportunidade de andar pelas ruas do que sobrou do distrito, fato que possibilitou ter uma noção do tamanho do estrago causado. Além disso, visualizamos de longe a barragem de rejeitos do Fundão rompida em 2015.
Quais os objetivos desta visita técnica?
A visita técnica faz parte de um trabalho que os alunos do 6º e 7º períodos estão desenvolvendo junto à disciplina de Planejamento Ambiental do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. Este trabalho possui como objetivo principal a caracterização da situação atual de Mariana e da bacia hidrográfica do rio Doce após pouco mais de um ano do desastre ambiental. Além disso, os alunos terão o desafio de apresentar um conjunto de ações, estruturada na forma de um planejamento, para a recuperação da área atingida e a melhoria das condições socioeconômicas da comunidade afetada. Este trabalho será apresentado, na forma de seminário, no final de maio.
O que constataram?
A visita possibilitou constar a permanência de um cenário de degradação ambiental no distrito de Bento Rodrigues, sendo possível visualizar a marca da lama ainda presente nos troncos das árvores e na parede das casas e estabelecimentos comerciais. Atualmente a área é monitorada pela Samarco, sendo permitida a entrada dos moradores ou de visitantes, mediante autorização e acompanhamento da Defesa Civil.
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O desastre ocorreu há mais de um ano. Suas consequências ainda são percebidas?
As consequências ao Meio Ambiente ainda são visíveis, sobretudo no que se refere à mudança da paisagem local, envolvendo a retirada de parte da cobertura vegetal, a alteração na geomorfologia fluvial e a movimentação das camadas superficiais do solo.
Quanto tempo levará para o Meio Ambiente se recuperar
É difícil precisar quanto tempo será necessário para o ambiente se recuperar, até mesmo porque se trata de um desastre de consequências locais e regionais, na medida em que a lama se estendeu ao longo da bacia hidrográfica do rio Doce chegando até o litoral do Espírito Santo. Além disso, o desastre abrangeu diferentes ecossistemas, o que representará tempos diversificados para a recuperação ambiental, considerando água, solo, vegetação etc. É certo que a recuperação da área demandará ações efetivas de planejamento ambiental, envolvendo a comunidade cientifica, administradores públicos municipais, estaduais e federais, além da própria comunidade de Mariana e demais municípios e regiões afetadas. Desta forma, é válido ressaltar que num processo de planejamento ambiental o mínimo esperado para que ocorram resultados minimamente positivos é um período de cinco anos. Portanto, começaremos a observar melhoras do ponto de vista de recuperação ambiental provavelmente a partir de 2020, caso as ações de planejamento ambiental estejam sendo implantadas.
A economia local foi afetada?
Um desastre como o de Mariana certamente afeta a economia local. Um morador e guia de turismo informou que o fluxo de turistas para a cidade reduziu, visto que muitos associam que o desastre tenha destruído a cidade, entretanto, a área afetada, ou seja, o distrito de Bento Rodrigues, está distante cerca de 30 quilômetros da cidade. Além disso, boa parte dos moradores de distrito de Bento Rodrigues eram funcionários da Samarco, que está com boa parte de suas atividades de produção de minérios paralisada, o que impacta negativamente no dinamismo da economia local e na arrecadação fiscal por parte do município. Inclusive avistamos algumas faixas na cidade em apoio à retomada das atividades pela Samarco.
E como está o psicológico dos moradores?
Conversamos com alguns moradores que perderam parentes e bens materiais durante o deslocamento de lama que atingiu o distrito de Bento Rodrigues. A maior parte dessas pessoas se mostraram um tanto receosas com tudo o que aconteceu e não quiseram interagir muito com nosso grupo.
A visita técnica se transformará num estudo de caso? Num trabalho científico?
Esperamos que deste trabalho específico da disciplina de Planejamento Ambiental do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, possam sair futuros projetos de pesquisa e Trabalhos de Conclusão de Curso, de forma que a investigação sobre o caso continue, até mesmo para evitar que futuros problemas como este ocorram.
Na nossa região existem locais que são considerados vulneráveis e que podem causar problemas ambientais?
Na região de Jundiaí não temos o risco de sofrer o mesmo tipo de problema enfrentado por Mariana, até mesmo porque a região não possui a característica de um grande produtor mineral. Entendo que nossa maior vulnerabilidade está relacionada à inexistência e/ou ineficácia de ações de proteção a Serra do Japi, fato que pode culminar no desmatamento, degradação do solo e desaparecimento de mananciais, representando, desta forma, um grande problema ambiental.