Febre Maculosa: 15 mortes em 10 anos. Doença avança na área urbana

febre maculosa

A Faculdade de Medicina de Jundiaí(FMJ) fez um estudo aprofundado sobre a Febre Maculosa em toda região. Em 10 anos, entre 2007 e 2017, foram registrados 23 casos e 15 mortes. A pesquisa concluiu que a doença está em expansão e não se restringe somente às regiões rurais. O Jundiaí Agora entrevistou a médica Juliana Quero Reimão(foto ao lado), professora do Departamento de Morfologia e Patologia Básica da FMJ. Ela coordenou o trabalho das alunas Brunna Taborda Saragiotto, Fernanda Ahn, Maysa Sales dos Santos.

O que é a febre maculosa?

A febre maculosa brasileira é uma doença infecciosa febril aguda, de gravidade variável, podendo cursar desde formas assintomáticas até formas graves, com elevada taxa de letalidade. É causada por uma bactéria do gênero Rickttesia, transmitida por carrapatos.

Os carrapatos são os únicos vetores?

No Brasil, os carrapatos da espécie Amblyomma cajennense são os principais vetores da bactéria causadora da febre maculosa. São popularmente conhecidos como “carrapato-estrela”, “carrapato-de-cavalo” ou “rodoleiro”; suas ninfas (estado entre a fase larvar e a adulta), por “vermelhinhos”; e as larvas, por “carrapatinhos” ou “micuins”. A participação dos cavalos, cães e capivaras no ciclo de transmissão é discutível, mas supõe-se que esses animais podem estar envolvidos neste ciclo, participando como reservatórios de Rickettsia.

Quais sintomas?

A Febre Maculosa caracteriza-se por ter início brusco, com febre elevada, cefaleia, mialgia intensa, prostração, seguida de exantema (erupções) máculo-papular predominantemente nas regiões palmar e plantar, que pode evoluir para petéquias, equimoses e hemorragias.

Pode matar?

Pacientes não tratados precocemente podem evoluir para formas graves e, destes, cerca de 80% evoluem para óbito.

Há números de quantas pessoas adoecem e quantas morrem na nossa região?

Foram confirmados 23 casos de FM na Região Metropolitana de Jundiaí ao longo do período de 2007 a 2017, tendo sido registradas 15 mortes no período. A taxa de incidência média observada na região no período estudado foi de 0,30 por 100 mil habitantes. O coeficiente de mortalidade variou de 0,0 a 0,9 por 100 mil habitantes no período.

A pesquisa foi feita para FMJ? Qual o objetivo?

A pesquisa foi feita por estudantes da FMJ, com orientação de uma docente e com incentivo do programa de iniciação cientifica da instituição. O número de casos de FM vem aumentando em SP de acordo com os últimos levantamentos realizados até o ano de 2007. O trabalho analisou os dados de 2007 até 2017, visando contribuir para o conhecimento sobre a epidemiologia da doença na nossa região.

Quando este estudo começou? Quando terminou?

O estudo teve início em abril de 2019 e se encerrou em julho de 2020.

Como foi feito? Foram a campo?

Não fomos a campo. Fizemos um levantamento dos dados on-line, com base nos casos de Febre Maculosa notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) por meio da plataforma DataSUS.

Quais cidades pesquisadas?

Foram levantados dados do Brasil, do Estado de São Paulo e da Aglomeração Urbana de Jundiaí, que foi considerada pelo conjunto dos seguintes municípios: Cabreúva, Campo Limpo Paulista, Itupeva, Jarinu, Jundiaí, Louveira e Várzea Paulista. Não realizamos a pesquisa individualizada por município

O número de casos está aumentando? Por quê? Há muitos registros de casos na área urbana? 

Os dados obtidos sindicaram que a Febre Maculosa se encontra em expansão, com um aumento de 162% e 167% no número de casos no Brasil e em São Paulo, respectivamente, no período de 2007 a 2017, em comparação com a década anterior. Os indivíduos mais acometidos foram homens jovens de etnia branca. Observou-se que a doença não se restringiu às áreas rurais, atingindo também as urbanas, indicando mudanças na ecologia da doença e no seu perfil epidemiológico, sendo os locais mais comuns de infecção os ambientes de lazer e domiciliares. Isso indica que os principais hospedeiros do vetor da doença estão provavelmente presentes tanto na zona rural como na urbana e que as pessoas estão em contato com esses hospedeiros em ambos os cenários, aumentando o risco de infecção da população humana.

Por que as principais vítimas são homens brancos jovens?

Os resultados apontaram que a maioria dos casos confirmados pertenciam ao sexo masculino, correspondendo a 74% dos casos na região. Este dado está provavelmente relacionado ao tipo de trabalho exercido pelos homens e pelos locais em que realizam atividades de lazer, como em áreas rurais ou próximas a rios. O grupo étnico com maior número de registros no período estudado foi o caucasiano. Entretanto, a erupção cutânea não é facilmente vista na pele negra, e isso pode dificultar o diagnóstico de casos de Febre Maculosa nesse grupo étnico, resultando em sua subnotificação.

Quais seriam as estratégias para diminuir a incidência?

Visando diminuir a incidência, são adotadas estratégias de vigilância que têm como objetivos: detectar e tratar precocemente os casos suspeitos, visando a redução da letalidade; investigar e controlar surtos, mediante adoção de medidas de controle; conhecer a distribuição da doença segundo lugar, tempo e pessoa; identificar e investigar os locais prováveis de infecção; recomendar e adotar medidas de controle e prevenção.

Como seriam o diagnóstico e tratamento precoce?

O diagnóstico precoce é muito difícil, principalmente durante os primeiros dias da doença, quando as manifestações clínicas também podem sugerir outras enfermidades. Dados clínicos e epidemiológicos associados a achados laboratoriais reforçam o diagnóstico da doença. Nos casos suspeitos, o início imediato e precoce do tratamento com os antibióticos Cloranfenicol ou Doxiciclina, antes mesmo da confirmação laboratorial, tem assegurado maior recuperação dos pacientes.

Esta pesquisa foi encaminhada para as prefeituras da região?

Não, pois sabemos que a Vigilância Sanitária do município vem fazendo um excelente trabalho, juntamente com as equipes da Unidade de Zoonoses. Um dos objetivos do nosso trabalho foi colaborar com a compreensão da epidemiologia da doença e da importância do correto preenchimento das fichas de notificação pelos profissionais da saúde, por meio da realização de um estudo que envolvesse discentes da FMJ, que atuarão também como agentes promotores da saúde e disseminadores do conhecimento.

A Febre Maculosa pode ser considerada um problema grave para a saúde pública?

Sim. Segundo o Ministério da Saúde, todo caso suspeito de doença requer imediata notificação e investigação, por se tratar de doença grave. Um caso pode significar a existência de um surto, o que impõe a imediata adoção de medidas de controle.Se não tratado, o paciente pode evoluir para um estágio grave que resulta em óbito na maioria dos casos.(Foto principal: Agência Brasil)

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