É impossível ser feliz 24 horas por dia, com certeza, mas quando alista de momentos felizes ultrapassa a lista das tristezas, já podemos nos considerar afortunados. Só de estarmos vivos, neste tempo de pandemia, é motivo para agradecer o universo. Entretanto, ultimamente percebo que o nível de exigência relacionada à felicidade vem crescendo demais e situações simples, que antes nos faziam felizes, hoje passam despercebidas, pois sempre queremos mais. E as redes sociais têm papel fundamental nessa obsessão atual pela felicidade, pois no Facebook ou Instagram só vemos pessoas sorridentes, de bem com a vida, como se não existissem medo, ódio, rancor, raiva. Se você não é ou está feliz, acaba se achando um grande incompetente.
Comecei a ler um livro esta semana chamado “O Jeito Harvard de Ser Feliz”, do escritor Shawn Achor e enquanto avançava pelas páginas percebi que os conceitos relacionados à felicidade estão mudando, fruto da própria evolução social. Infelizmente, os padrões estão ficando cada vez mais elevados e, por conta dessa exigência insana por serem felizes, as pessoas estão ficando cada vez mais estressadas, deprimidas e, consequentemente, infelizes…
É um verdadeiro paradoxo, certamente. No livro, Achor conta que em seus anos como professor de uma das mais conceituadas universidades americanas encontrou dezenas de alunos abastados, inteligentes, privilegiados com um futuro brilhante, mas mesmo assim infelizes e até deprimidos. O motivo? Sentiam-se sobrecarregados com as adversidades, em vez de motivados com os novos desafios. Tudo o que eles tinham era pouco, precisavam de mais e mais para atingirem o sucesso. Só que não existe felicidade 100%. Pode parecer óbvio, mas hoje em dia as pessoas se esqueceram disso.
E estamos entrando cada vez mais nesse redemoinho de exigências para encontrar a tão sonhada felicidade, que para muitos tem o nome de sucesso. Muitas vezes, confesso, também entrei por esse caminho, influenciada pelas mídias sociais. Se você não posta uma foto com sorriso de orelha a orelha certamente passa a ser visto como um fracassado. Se você não estiver numa praia paradisíaca nas suas férias, com certeza é um trouxa, e se não receber uma enxurrada de cumprimentos pelo aniversário (e tem quem faça questão de informar o número de mensagens recebidas ao agradecer as felicitações no dia seguinte), vai se sentir um perdedor.
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Faz parte do ser-humano sentir tristeza, ansiedade, medo e claro, felicidade. Como disse outro estudioso americano, Tal Ben-Shahar, em entrevista a uma revista espanhola (El País), “a obsessão por ser feliz o tempo todo faz as pessoas se sentirem péssimas”. Pois é, nada como uma bordoada da vida para nos colocar de volta ao eixo, para nos mostrar que vivemos numa montanha russa emocional, com picos de alegria e tristeza, que servem para ensinar a sermos mais humildes e aceitarmos nossas próprias limitações. Ser feliz é muito mais do que estar bem na foto. É como uma viagem para um país desconhecido, onde encontramos lindas paisagens, mas também regiões áridas e inóspitas. O importante é seguir em frente, pois a felicidade pode estar logo adiante..
VÂNIA ROSÃO
Formada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Trabalhou em jornal diário, revista, rádio e agora aventura-se na Internet.
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