Não são as festas. São as ATITUDES

ATITUDES

Surpreendo-me com algumas coisas que vejo e tenho certeza que não são as festas, são as atitudes das pessoas. O cara viveu um inferno na casa dos pais e agora, no último dia do ano, chama-os de ‘papai’, ‘mamãe’ e diz que são os tesouros da sua vida. A outra chifrou o marido até com o poste, agora jura amores, na virada do ano. O rapaz fala mal do chefe, maltrata os subalternos, faz intriga entre os colegas da firma, mas jura que é o melhor lugar para se trabalhar, nesta época do ano e organiza até festinha de amigos secretos.

Além disso tudo, estas festas trazem um componente ímpar: ainda temos que ouvir sobre as simpatias da virada, desde a dos sete bagos de uvas brancas, soprar pó de canela da porta de frente para dentro ou do fundo para a frente, pular sete ondas e sair de costas para a praia, os caroços de romã (sete ou nove caroços) e guardar as sementes até 31 de dezembro de 2020, vestir branco, ou amarelo ou azul, virar o ano pisando apenas com o pé direito, dar o primeiro abraço em alguém do sexo oposto (como se fosse fácil, isso). Enfim, várias propostas e todas apontam para a prosperidade, o amor, a saúde, o dinheiro.

No entanto, em nenhuma das propostas dos dois parágrafos anteriores não se percebe sustentação porque o principal participante não apresenta sua contraproposta. Sem a iniciativa da pessoa em mudar de vida e sem intenção de querer se transformar, nada acontecerá. Não é o ano que precisa mudar ou ser novo, mas a pessoa que busca por estas mudanças.

O fato de não avaliar porque o inferno se instalou na casa dos pais merece uma volta ao passado e uma análise bem ponderada: quem criou o clima naquele ambiente onde era apenas um morador? Quanto fez para que o clima fosse mais colaborativo e mais cordial? Quantas vezes se preocupou com seu quarto ou com suas roupas sujas? E na tal firma: que tipo de instabilidade tenta criar, sem se preocupar com o estado de humor dos outros? Como pensar em equilibrar o ambiente se o olho de furacão está na própria pessoa?

É surpreendente como algumas datas têm o poder de zerar as maldades, de apagar os fatos desastrosos, de polir as más intenções já manifestadas e de transformar todo mundo em seres angelicais, cheios de boas intenções e de palavras doces, cristãs e afáveis. Ainda que por apenas 24 horas. Estas datas têm uma magia que ultrapassa a capacidade de compreensão, mesmo sendo num período pequeno e de um efeito ineficaz.

Esse perdoar que ouvimos nestas datas, realmente é real? Este esquecer e recomeçar é pra valer? Conviver com o traidor é meta inquestionável? Ou será que entramos na onda do momento e saímos repetindo as frases feitas. Lembro-me de um ex-aluno, péssima pessoa, que ao se aproximar de alguém, para pedir algo, começava a conversa dizendo que sentia uma energia positiva. Que o infeliz a ser golpeado era do bem.

Palavras, palavras, palavras… E hoje ocupa bom cargo na cidade, tendo ao seu lado um número grande de pessoas que foram usadas e tripudiadas pelo infame. Mas as palavras bonitas e os abracinhos ainda são constantes. Como agir diante disto? Sorrindo, abraçando e dando tapinhas nas costas? Enfrentando de frente, desmascarando o mau caráter? Ou continuar o clima e repetir todas as frases de efeito do momento? Aceitar os abraços e os meios sorrisos porque é Natal ou passagem de ano? Se sim, qual transformação interna realizamos?

Bem, o foco: atitude. Não é data. Não é ocasião. Não é local. Não é formato. É atitude, é a expressão do caráter: o do mal será do mal. O do bem será do bem. Datas amenizam, mas não transformam. As transformações são eventos internos que mobilizam nossos pensamentos e nossos sentimentos, de modo que boas cabeças e bons sentimentos mobilizam grandes e boas ações; ao mantermos as aparências, não facilitamos nossas transformações, apenas adiamos.

Não podemos fingir e dizer que o Natal ou a passagem de ano mudou nossa concepção. Impossível acreditarmos que o tal espírito natalino mudou alguém ou refez e transformou ações maldosas em benesses. A pessoa muda quando ela se fortalece e traça planos de reestruturações internas; estas mudanças são reais e não sazonais. E isso pode ocorrer em qualquer momento do ano: Natal, Carnaval, Independência, Corpus Christi, enfim, não são as datas mas o propósito.

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Não é o ano que vai mudar alguém, mas alguém que vai mudar o seu próprio ano. Não são datas, não são oportunidades que promovem mudanças, são reflexões e análises que proporcionam olhares intimistas e revisões profundas em cada um de nós: sem bobeiras e sem delongas. Estar bem traz impulsos e certezas que nos mobilizam para as transformações que tanto procuramos: mudanças para o bem.

Não se trata da filosofia da felicidade, em que todos devem estar bem, todos devem sorrir, todos devem aplaudir o por do Sol. Não. Não são propostas sem lastros, nem imaginosas, tão pouco de efeitos curtos e fugazes; tratamos, aqui de mudanças estruturais, de reconhecimento internos e externos, de valorização pessoal e do outro, de olhares para si e para o outro. Isto são mudanças e isto é possível.

Não, não são as festas. São as atitudes. Feliz ano novo.(Ilustração: gestaoescolar.org.br)


Afonso Antonio Machado é docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.


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