Em 1959, quando o deplorável ditador Fulgêncio Batista, sustentado pelos EUA, fugiu para a República Dominicana, os guerrilheiros de Fidel Castro avançavam de Sierra Maestra para Havana. O governo ficou acéfalo e o Bispado da Igreja Católica cubana sugeriu que se organizasse um governo de união nacional.

O novo governo, sob as presidências sucessivas de Manoel Urrutia e Osvaldo Dorticós, duas figuras de expressão liberal-democrática, teve como primeiro-ministro Fidel Castro, sob a bandeira do Movimento 26 de Julho, que não tinha caráter nem socialista nem comunista. Tanto isso era verdade que o PC Cubano, de orientação soviética, se opunha veementemente aos guerrilheiros de Sierra Maestra. O 26 de Julho era um movimento declaradamente nacionalista, antifeudal e anti-imperialista.

Urrutia e Dorticós exerceram a presidência meteoricamente  Em pouco tempo, Fidel Castro alijava do governo tanto Urrutia como Dorticós, dos quais eu não soube mais nada, passando Fidel a concentrar todo o poder em suas mãos e do grupo dirigente do 26 de Julho, grupo revolucionário encabeçado por ele, seu irmão Raul, Camilo Cienfuegos, Che Guevara e outros comandantes guerrilheiros. Inicialmente, amplos setores da opinião pública mundial e até o governo norte-americano viam com simpatia o novo governo cubano. O mesmo acontecia aqui no Brasil.

Acontece que, por sua orientação  nacionalista, antifeudal e anti-imperialista, o governo revolucionário tratou de assumir o comando dos setores econômicos. No mesmo ano da vitória da revolução, 1959, foi decretada a reforma agrária, expropriando os latifúndios, os maiores dos quais pertenciam a empresas norte-americanas, como a famigerada  multinacional United Fruit Company. As usinas de açúcar, os bancos e as empresas de mineração foram nacionalizados, mediante compensações consideradas insuficientes.

Ocorreram então manifestações de descontentamento por parte do governo norte-americano, presidido pelo general Eisenhower, que era comandante supremo da OTAN, entidade militar criada para fazer frente ao crescente desenvolvimento militar  da URSS.

Moscou se comprometeu a adquirir anualmente, durante cinco anos, um milhão de toneladas de açúcar cubano e a conceder um crédito de 100 milhões de dólares para a industrialização do País. Como os  EUA suspenderam a compra de açúcar cubano, a URSS se comprometeu a adquirir também a quota de açúcar que ia para os EUA.

Além disso, Moscou passou a fornecer petróleo bruto que a Texaco e outras empresas norte-americanas se recusaram a refinar.Então, todas elas foram expropriadas. Em represália pela nacionalização das grandes empresas americanas, o governo dos EUA suspendeu as exportações e as viagens de turistas americanos para a ilha.

Em 1961, o governo do general Eisenhower rompeu relações diplomáticas com Cuba e, logo depois, o novo presidente americano,  John Kennedy, aprovou um plano, organizado pela CIA, de desembarque de exilados cubanos na baia dos Porcos, iniciativa que foi prontamente rechaçada.

Em 1962, os EUA descobriram que a URSS estava instalando em Cuba mísseis teleguiados apontados para para território americano. Então os EUA promoveram o bloqueio naval de Cuba e restringiam navios de outros países que aportassem em Cuba. Além disso, os EUA tratavam de promover uma invasão, mesmo que tivesse que enfrentar a URSS.

Negociações entre Moscou e Washington levaram à retirada dos miseis soviéticos de Cuba, contrariando e desgostando Fidel. Em compensação, os EUA retiraram da Turquia seus mísseis que estavam apontados para território soviético.

Quase uma centena de empresas norte-americnas foram nacionalizadas, mas o governo cubano não tinha condições de assumir com qualidade a administração das mesmas, com o que a economia cubana viveu um descalabro de que se ressente até hoje, com as piores consequências para o bem estar de seu povo.

Nas reportagens de televisão que estamos vendo nos últimos dias, em decorrência da morte de Fidel Castro, a população cubana que vemos pelas ruas de Havana é visivelmente uma gente visivelmente mal alimentada, mal calçada, mal habitada, carente de muita coisa, inclusive dos meios de comunicação, os telefones celulares são uma raridade e pior ainda é a situação da telefonia fixa.

Outra situação precária é também a do transporte coletivo e individual, pois os ônibus e automóveis que circulam por alguma ruas constituem um verdadeiro museu de sucata a céu aberto, datando os mais recentes dos anos de 1950. Ainda bem que estão chegando por lá aos milhares as bicicletas chinesas, aliviando um bocado a locomoção do povo trabalhador e da juventude estudantil.

Há entre nós pessoas que ainda se referem elogiosamente a Fidel Castro e à revolução cubana, realçando alguns feitos positivos destes 60 anos, como bons índices de alfabetização e de assistência médica, mas é preciso considerar que tais legados foram possíveis como frutos dos período em que Cuba contava com ajuda da URSS, agora extinta..

Mas, com o desmantelamento da URSS e o fim da ajuda soviética, tais itens talvez não possam ser sustentados a longo prazo, a menos que se consiga outros recursos para sua manutenção.Portanto, como dissemos nos início deste depoimento, Fidel Castro e a revolução cubana foram produtos e vítimas da guerra fria entre os EUA e a URSS.

Com o fim da guerra fria e agora com o restabelecimento das relações diplomáticas, comerciais, culturais e demais relações entre os EUA e Cuba, a vida da população cubana deve melhorar consideravelmente, graças a investimentos não só dos EUA, do Canadá, dos países europeus, do Japão, da China e também do Brasil.

42 MIL BOLSAS DE ESTUDOS EM SP

O turismo voltará a ser uma importante fonte de renda em divisas para Cuba, e os primeiros aviões de turistas já estão aterrissando em grande número em Havana, com passageiros de todo o mundo, inclusive do Brasil, não poucos deles aqui de Jundiaí.

Portanto, chegou a hora de voltarmos de  exclamar: Viva Cuba libre! e sem repressão.

jayme-martinsJAYME MARTINS

Jornalista, ex-chefe de reportagem do jornal Última Hora de SP,  ex-correspondente na China  de O Globo, Estadão, JT, Rádio Eldorado, Rádio Guayba e SBT, Grande Prêmio de Jornalismo Líbero Badaró, da ABI e Revista Imprensa, pela cobertura dos  acontecimentos da Praça da Paz Celestial  de Pequim, em 1979, Diretor de Overchina Consultoria e Edições, jayme.overchina@gmail.com


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