O caso da menina de apenas 10 anos que foi abusada pelo tio, engravidou e abortou o bebê com autorização judicial, foi o assunto desta semana no país e com certeza serviu de tema para muitas discussões. O fato em si já é uma violência absurda e fico imaginando quantos meninos e meninas neste Brasil são vítimas deste mesmo tipo de atrocidade, enquanto a sociedade fecha seus olhos. Mas esse caso em particular teve um outro lado ainda mais grotesco, fruto da hipocrisia humana e do desejo de alguns boçais pela notoriedade. O que vimos nos últimos dias foi um show de horrores, protagonizado por pessoas das mais variadas crenças e ideologias, utilizando as redes sociais para vomitar palavras de ordem contra a menina, contra os médicos que a atenderam, contra a interrupção da vida do feto. Na ordem do dia, quem são essas pessoas para decidirem o que é certo ou errado e apontar os dedos para quem quer que seja? Fique calado se não têm nada de bom para dizer!!!
Claro que todos nós podemos ter nossas próprias opiniões sobre o caso desta menina, mas nem por isso temos o direito de julgamento, afinal, não estamos num tribunal e nem trajamos uma toga, não é mesmo? Com certeza essa criança é vítima não só do tio, que a abusava desde os quatro anos, mas também de toda uma conjuntura familiar e social complicada e desestruturada. Ela não é a única. Essa é a realidade de milhares de outras meninas e meninos espalhados pelo nosso país.
A violência contra as crianças é um mal recorrente no Brasil. Creio até que pode ser considerada uma pandemia (para usar uma palavra da moda). Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, só no ano passado foram registradas 66 mil vítimas de abuso infantil no nosso país. E pelo menos 53% deste total eram de meninas com menos de 13 anos. A dificuldade em combater esse problema está no fato dos abusos acontecerem, em grande parte, no âmbito familiar. Caso essa menina não tivesse engravidado, certamente os abusos teriam continuado. Que tristeza.
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Não vou aqui, neste artigo, tomar posição favorável ou contrária ao desenrolar deste caso, mesmo tendo minha própria opinião. Mas lamento profundamente as atitudes de algumas pessoas, inclusive celebridades, que utilizaram as mídias para opinarem de forma leviana sobre esse fato. Quanta asneira, quanta grosseria, quanta maledicência, quanta ofensa gratuita e desnecessária. Sentadas em suas confortáveis poltronas, essas pessoas se acharam no direito de moer a inocência de uma criança, como se fossem donos da verdade. Por isso, repito, se não tem nada de bom a dizer, fique calado.
VÂNIA ROSÃO
Formada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Trabalhou em jornal diário, revista, rádio e agora aventura-se na internet.
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