Difícil é saber quem realmente se importa; Não dá para ser forte o tempo todo; As pessoas chamam de drama aquilo que não entendem; Um dia você vai cansar de dizer que está tudo bem; Cuidado, a dor costuma viciar; Talvez as cicatrizes ficaram fundas demais, Já não dói. Todas essas frases foram ditas por suicidas.

O Dia Nacional de Prevenção ao Suicídio é 10 de setembro, por isso a campanha “Setembro Amarelo” de prevenção ao suicídio.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é responsável por uma morte a cada 40 segundos no mundo e poucos países possuem estratégias de prevenção contra este mal terrível.

Ocorre, na maioria dos casos, entre jovens de 15 a 39 anos, concentrando-se em países de baixa a média renda per capita (segundo a OMS, dados de 2012).

Apesar das informações não serem muito confiáveis, devido à baixa comunicação e investigação por parte da maioria dos países, incluindo o Brasil, existem alguns dados alarmantes:

– A região que apresenta os índices mais altos é a Europa (14,1), seguida pelo Sudeste Asiático, com 12,9 suicídios por 100 mil.

– Quando avaliamos a taxa dos países africanos, que é de 8,8 a cada 100 mil ou,das Américas, 9,5 por 100 mil, fica evidente que há distorções associadas à subnotificação.

– É o caso do Brasil, cujo índice, considerado baixo, 6,3/100 mil, ainda precisa apurar melhor a qualidade de suas estatísticas.

Os dados mostram que os homens se suicidam mais, porém, pode haver distorções nesta afirmativa, pois, eles preferem métodos mais letais, em relação às mulheres. Traduzindo, as mulheres podem ter maior número de tentativas e, devido à subnotificação, é necessário analisar com cautela os números oficiais proclamados.

A ingestão de pesticida, enforcamento e armas de fogo estão entre os métodos mais comuns de suicídio, em nível global. A forma como o indivíduo dá cabo à própria vida está intimamente ligada a dois aspectos: fatores culturais e acesso.

Exemplificando: nos Estados Unidos, que têm taxa de 14,3/100 mil, o principal método utilizado é a arma de fogo, facilmente adquirida naquele país. Já, na Ásia, em especial nas regiões rurais da China e da Índia, a ingestão de pesticida está em primeiro lugar.

Por esse motivo, qualquer estratégia de prevenção deve levar em conta características da sociedade onde será implementada.

“Trata-se de um grave problema de saúde pública, no entanto, podem ser evitados em tempo oportuno, com base em evidências e com intervenções de baixo custo”, disse a OPAS/OMS.

A agência ainda afirma que, embora estejam relacionadas particularmente à depressão e abuso de álcool, o suicídio também pode ocorrer de forma impulsiva em momento de crise: problemas financeiros, términos de relacionamentos, dores crônicas ou doenças. Por outro lado, enfrentamento de conflitos, desastres, violência, abusos ou perdas e uma forte sensação de isolamento, também estão relacionados ao comportamento suicida.

Grupos vulneráveis apresentam altas taxas de suicídio, como refugiados e migrantes; indígenas; lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais (LGBTI); e pessoas privadas de liberdade.

“Mas,certamente, o fator de risco mais relevante é a tentativa anterior”, afirma OPAS/OMS.Aquele que tentou contra a vida uma vez, é sério candidato ao autoextermínio.

Nesta linha de raciocínio, os órgãos especializados salientam que os suicídios podem ser evitados com uma série de medidas colocadas em práticas junto à população, subpopulação e em níveis individuais.

Entre as providências está a redução de acesso aos meios utilizados; a introdução de políticas para reduzir o uso nocivo do álcool; identificação precoce, tratamento e cuidados de pessoas com transtornos mentais ou por uso de substâncias, dores crônicas e estresse emocional agudo; dentre outras.

Pela associação com distúrbios mentais, existe um preconceito do própriosuicida em procurar por ajuda e acaba passando despercebido, mesmo por quem lhe seja íntimo, pois, ele leva uma vida comum, alegre e parece completamente integrado em ambientes sociais.

Então, coloco aqui meus próprios questionamentos:

1- Como identificar a pessoa que necessita de ajuda (essa pessoa pode ser alguém próximo, como: filho, mãe, avós, irmãos)?

2- Como posso ajudar?

3- O que fazer ao me deparar com essa situação?

Existem respostas para todas essas perguntas em manuais muito bem montados por várias instituições, e que relaciono, ao final do texto, para futura consulta e aprofundamento no assunto, pois, são completos e direcionados à profissionais da área da saúde, mas vejamos o que é recorrente em todos os textos, logo abaixo.

O que posso fazer para identificar? Pois é! Ouça verdadeiramente o que a pessoa tem a dizer e procure não comparar a situação com outras piores. A dor que sente é a pior, pois, é ela que sofre o incômodo naquele momento e não tem estrutura para lidar com isso.

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Identificar é muito difícil, mas, repito: preste profundamente atenção às pessoas ao seu redor. Menções repetidas de morte e desesperança, mudanças bruscas de comportamento, uso abusivo de álcool, doenças mentais, são indicativos de sinais a serem observados.

O que fazer caso identifique uma pessoa candidata ao autoflagelo?

Uma abordagem calma, aberta, de aceitação e de não julgamento é fundamental para facilitar a comunicação, e breve avaliação de risco da pessoa realmente vir a cometer o suicídio. Um indivíduo de baixo risco é aquele que, embora cansado e querendo por fim à vida, não possui planos para tal, mas, aquele que tem um plano e meios de realizar, coloca-se em alto risco. Em ambos os casos é necessário encaminhamento para profissionais competentes da área mental ou médico especializado.

Mas, sobretudo, fique atento. As vezes, a pessoa só precisa de alguém que lhe dê atenção, lhe ouça e demonstre interesse real por seus problemas.

Aqui, registro a minha contribuição de literatura para consultas sobre suicídio, formas de identificação e encaminhamento:

http://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/en/suicideprev_phc_port.pdf

http://www.who.int/mental_health/media/counsellors_portuguese.pdf

http://portalms.saude.gov.br/saude-para-voce/saude-mental/prevencao-do-suicidio

https://jundiai.sp.gov.br/cartilha-de-prevencao-ao-suicidio/

https://www.cvv.org.br/wp-content/uploads/2017/05/suicidio_informado_para_prevenir_abp_2014.pdf

https://www.cvv.org.br/wp-content/uploads/2017/05/manual_prevencao_suicidio_profissionais_saude.pdf

“A melhor forma de entender o suicídio não é estudando o cérebro, e sim, as emoções. As perguntas a fazer são: ‘onde dói’? e ‘como posso ajudá-lo?” – Dr. Edwin Schneidman.(Foto: gudangtipsmanfaat.blogspot.com)


ELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora.