Eu já conhecia aquele senhorzinho franzino, que todos os dias fazia ponto na mesma rua guardando os carros. Cumprimentava-o com um “bom dia” ou “boa tarde” de forma cordial quando estacionava por lá, mas era um cumprimento apenas formal, sem qualquer emoção. Nunca me preocupei em perguntar para ele como estava indo o seu dia, se estava bem de saúde, se morava longe ou era casado. Enfim, para mim era mais um guardador de carros que, muitas vezes, até consideramos inoportuno. Mas naquele dia, a resposta ao meu cumprimento veio acompanhada com um pedido inusitado: um frango assado…
“A senhora pode me ajudar com uns trocados?”, disse o senhorzinho franzino. Confesso que na hora me surpreendi, afinal, nunca tinha trocado mais do que duas ou três palavras com aquela pessoa. E ele justificou seu pedido: “é que amanhã é Natal e meu sonho é comer um frango assado”. Passada a surpresa inicial, me sensibilizei com o desejo tão simples daquele guardador e na hora respondi positivamente. E na minha cabeça já imaginei que deveria dar o dinheiro completo para que ele pudesse realizar o seu sonho.
Mas a realidade atropelou meus pensamentos. Ao vasculhar a minha bolsa percebi que não tinha nada de dinheiro, apenas alguns ‘caraminguás’ que haviam sobrado das compras de última hora. Revirei cada cantinho da carteira e consegui apenas moedas que não eram suficientes para pagar um frango assado. Que triste. Mesmo assim, entreguei o que eu tinha, o guardador agradeceu e eu desejei um Feliz Natal e que conseguisse inteirar a quantia para a realização do seu sonho.
Quando contei essa história, alguns amigos ironizaram dizendo que o tal guardador iria gastar o dinheiro em cachaça. Mas eu me recusei a acreditar nesse desfecho. Isso aconteceu há mais de 20 anos, com certeza. E nunca esqueci. Depois daquele dia não vi mais o senhorzinho, mesmo porque não costumava estacionar com frequência naquela rua. Portanto, não saberia dizer se o sonho do frango assado para o Natal se realizou. Mas eu prefiro acreditar que aquele guardador humilde conseguiu juntar os tostões que faltavam ao final do dia, graças à bondade de outros motoristas.
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Prefiro acreditar que naquela véspera de Natal, com as moedas contadas nas mãos, o senhorzinho franzino conseguiu comprar o frango assado numa padaria e foi para casa feliz com o pacote quentinho e exalando um delicioso aroma de temperos. Prefiro acreditar que a magia do Natal aconteceu, e que o guardador de carros conseguiu saborear coxas e peito de um frango bem gordo, agradecendo a Deus pelo sonho realizado.
VÂNIA ROSÃO
Formada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Trabalhou em jornal diário, revista, rádio e agora aventura-se na Internet.
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