Uma moção que entrou para votação em regime de urgência consumiu 37 minutos de intensas discussões na sessão da Câmara Municipal de Jundiaí, ontem(11). Para quem não sabe do que se trata, moção é uma espécie de requerimento que expressa manifestação da Casa Legislativa em razão de um fato que enseje repúdio, apoio, solidariedade, entre outros. A polêmica moção – de autoria de Madson Henrique, de apoio ao frei Gilson da Silva Pupo Azevedo(foto) “pelas perseguições e manifestações contrárias e anticristãs em relação ao trabalho de evangelização que faz” – foi aprovada com 14 votos. E quem é o frei Gilson? Ele é um religioso que reuniu, no último dia 5, cerca de 1 milhão de pessoas para oração às 4h da madrugada em “live”. O Instagram dele é seguido por mais de 7,5 milhões de contas. Gilson é um fenômeno da internet. Bolsonaristas o enaltecem. Os esquerdistas o chamam de ‘extremista’. A moção gerou no plenário uma ‘mistureba’ com ingredientes completamente estranhos ao tema original: carnaval e até Adilson Rosa, presidente do PL local.
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Duas das postagens que causaram todo bafafá em torno do religioso de São Paulo: “Um frei fascista da Brasil Paralelo, um negacionista, anticiência, misógino. Pra piorar fica dizendo que não existe mudanças climáticas, um canalha oportunista. Um vagabundo da pior espécie que usa a religião para atrasar a evolução planetária. Se existir o capeta, esse é um discípulo dele” e “é um extremista bolsonarista, ligado ao Brasil Paralelo. Primeiro tomaram as igrejas evangélicas, pararam de cultuar a Cristo e passaram a cultuar o bezerro de ouro. Agora o plano é tomarem a igreja católica pra usarem a favor do bolsonarismo”. Numa sessão com oito moções e apenas dois projetos, nem mesmo as palavras de Felipe Pinheiro, da Rede Sustentabilidade, na Tribuna Livre, reverberaram tanto. Felipe protocolou pedido de abertura de CPI para discutir a situação do Hospital São Vicente, assunto em alta na cidade há várias semanas. Ele falou por cinco minutos sobre a necessidade de investigações por parte da Câmara. Ouviu apenas, do presidente Edicarlos Vieira, que os parlamentares receberam a documentação do hospital e irão analisá-la.
Pouco importa que frei Gilson não é da Terra da Uva, que o assunto nada tem a ver com uma Jundiaí necessitada de debates aprofundados sobre problemas locais. O que interessa é surfar na polarização e ficar bem com a própria bolha. Ou não. Madson, que é do PL, por exemplo, já teria dito que acredita ter atingido o teto de votos dentro do universo eleitoral dele, as igrejas evangélicas. Então, por que não apresentar uma moção simpática a um frei que bomba na internet e acenar para os eleitores católicos? “Tenho sim minhas diferenças teológicas(em relação aos católicos), mas que não são das maiores”, afirmou Madson. Em 2023, ele apresentou o projeto 14.125/2023 que, diante dos argumentos apresentados, era bem incoerente. A proposta, que ainda tramita na Câmara, proíbe invasão, ocupação ou perturbação de cultos religiosos. Madson justificou o texto citando o caso envolvendo o vereador Renato Freitas, do PT de Curitiba, que teria invadido uma igreja e foi cassado. No entanto, além de não informar que Freitas voltou ao cargo e a própria Igreja Católica o inocentou, o vereador de Jundiaí não apontou o dedo nenhuma vez para o grupo de bolsonaristas que invadiu a Basílica de Aparecida, no dia 12 de outubro do ano de 2022.
Logo em seguida, o vereador Rodrigo Albino(PL) foi à tribuna. No início do discurso, os amantes da Língua Portuguesa até acharam que ele seria contrário, que estava em desacordo e iria criticar a moção do colega de bancada. “Eu vou de encontro à proposta”, disse Albino. Na verdade, ele queria dizer que iria ao encontro do projeto. O vereador falou também sobre intolerância religiosa. “O que leva pessoas a entrarem numa live e ficarem xingando o frei? A intolerância religiosa ainda existe no Brasil. Isso mostra a inversão de valores no nosso país”, afirmou. Levando-se em consideração que o frei Gilson nem de Jundiaí é, Rodrigo Albino poderia ter aproveitado a primeira sessão da Câmara, no dia 4 de fevereiro, e levado anotações para também criticar ataque à Casa de Caridade Caboclo Pena Dourada, terreiro de Umbanda que fica no bairro do Maracanã, no Rio de Janeiro, ocorrido no dia 28 de janeiro último. E para não perder a viagem, Albino aproveitou para dar uma cutucada no Carnaval: “Milhares de pessoas estavam no desfile, de madrugada, dando risada quando Jesus estava sendo crucificado pelas escolas de samba. Vestiram Jesus Cristo de travesti. Isso pode para eles. Isto é natural. Aí entram na live, que transmitia mensagem de paz, amor, fé, e ficam falando besteira, deturpam, geram discurso de ódio. A live é gratuita. O carnaval é feito com dinheiro público. Isto demonstra a hipocresia(sic) da esquerda”.
A palavra ‘carnaval’ foi a senha para o início dos debates. O vereador Romildo Antônio(PSDB), lembrou que a festa é ‘garantida’ no país inteiro e que não iria se colocar contra ela “por causa de dois ou três que fizeram a baderna(as postagens na live do frei Gilson). As pessoas gostam de carnaval. São Paulo e o Rio de Janeiro empregam muita gente nesta época do ano. Quem xingou o frei tá errado. Mas, o carnaval traz recursos. Então, não o torne parte desta questão”. Henrique Parra Parra Filho(PSOL) lembrou que discussões sobre os diversos tipos de intolerância são positivos. “É compreensível que alguém não goste do frei. Eu mesmo discordo de várias opiniões dele. Contudo, o carnaval não tem nada a ver com o debate. Não foi o carnaval quem invadiu a live. Essa moção poderia nos unir(os vereadores). Ninguém aqui aceita intolerância religiosa. Se o objetivo é demonstrar solidariedade ao frei, podemos fazer isto em cinco minutos por unanimidade. Agora, se o objetivo é polemizar para fazer cortes para a internet, podemos também polemizar outros assuntos”, disse. Rodrigo Albino respondeu a Parra Parra Filho: “A questão não é fazer corte para a internet, embora possa virar tanto nos meus canais como nos seus. A questão aqui é a hipocresia(sic) e inversão de valores que estamos vivendo”. Henrique devolveu lembrando que “muitas vezes a hipocrisia esta no dia a dia dos trabalhos da Câmara. Nem sempre estamos sendo tolerantes e solidários. Precisamos ser tolerantes para dar o exemplo e poder cobrar os outros”.
Juninho Adilson(União Brasil) e Quézia de Lucca(PL) também participaram das discussões. As palavras do vereador Tiago da El Elion(PL) tiveram um gostinho de prato que se come frio. Ele retornou ao dia 1º de janeiro, quando juntamente com João Victor e Madson, votou em Edicarlos Vieira e não na candidata do Partido Liberal, Quézia. “A intolerância é inadmissível para qualquer religião. A Constituição nos assegura o direito de ter fé que quisermos. Em certa ocasião, o presidente de um partido de Jundiaí expôs a nossa fé em rede social. Foi uma coisa ridícula o que aquele presidente de partido fez. Aproveito para repudiar a ação dele. Não vou nomeá-lo para não dar a ele direito de resposta”, disse Tiago. Para quem ouvia e não sabia o que tinha acontecido, parecia que Tiago atacava o responsável por uma sigla qualquer. Contudo, o tal presidente de partido é Adilson Rosa que comanda o PL, partido de El Elion, e até agora não se manifestou sobre a expulsão dele, Victor e Madson. (Marco Antônio Sapia/Foto: Reprodução Instagram/@freigilson_somdomonte)
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