No dia 13 de novembro, comemorou-se o Dia da Gentileza! Considerações à parte, porque a gentileza deveria ser cotidiana, vamos contar a história do Profeta Gentileza.
Iniciamos, relatando a tragédia ocorrida em 17 de dezembro de 1961, sete dias antes do Natal, isto é, há 58 anos.
Um incêndio criminoso, causado por um ex-funcionário do Gran Circus Norte-Americano, erguido em Niterói, no Rio, ocasionou a morte de 500 pessoas, a maioria crianças, sendo motivo de comoção nacional.
Condoído, um empresário do setor de transporte de cargas, José Datrino, deixou a família, em Guadalupe, também no Rio de Janeiro, e foi para o local do incêndio. Após tudo removido, começou a plantar flores nas cinzas, criando um lindo jardim.
Quando estas começaram a florir, ele as distribuía aos passantes, e se eles diziam: “muito obrigado”, ele respondia:
– Não diga obrigado, diga agradecido, porque eu não sou obrigado a nada.
Vestindo uma túnica branca, deixou a barba e o cabelo crescerem. Começou a escrever poesias e mensagens nas 56 pilastras do viaduto que vai do Cemitério São Francisco Xavier até a Rodoviária Novo Rio. Desejoso que os passageiros dos ônibus pudessem lê-las, subia numa improvisada escada e as escrevia para que ficassem à altura dos olhos. Suas mensagens pregam cordialidade entre as pessoas. Ficou conhecido como Profeta Gentileza. Quando alguns o chamavam de maluco, dizia:
– Sou maluco por amar a humanidade e louco para te salvar.
Faleceu em 1996. Em 1997, a prefeitura do Rio mandou que as pilastras recebessem cal para cobrir seus escritos. Os alunos da Universidade Federal Fluminense (UFF), apoiados pelos professores, iniciaram um processo contra a ação e as mensagens foram restauradas. Até hoje poderão ser lidas. Em várias cidades brasileiras há ONGs denominadas “Gentileza gera Gentileza” que fazem apresentações culturais gratuitas. Faleceu em Marília-SP e nessa cidade foi enterrado. Os amigos mantêm um centro cultural com seu nome fictício: Profeta Gentileza.
Em 1980, Gonzaguinha o homenageou gravando uma música com esse nome. Em 1990, Marisa Monte também. Em 2000, o professor Leonardo Guelman, da UFF, escreveu o livro “Brasil, Tempo de Gentileza”. Em 2001, foi enredo da Escola de Samba GRES Acadêmicos da Grande Rio. Uma de suas mensagens: “Este é o Profeta Gentileza que gera gentileza, com amor e paz para o Brasil e para o mundo. Meus filhos, não usem problemas, usem a natureza”, talvez se referindo às flores.
MAIS UM ARTIGO DE JÚLIA FERNANDES HEIMANN
FESTIVIDADES DE FUNDAÇÃO DO GRÊMIO CULTURAL PEDRO FÁVARO
As 56 pilastras que sustentam o viaduto iniciam no Cemitério São Francisco Xavier e terminam na Rodoviária Grande Rio. Nelas, ele escreveu inúmeras mensagens e quadras incitando ao amor e à harmonia.
Quando morreu, Deus o recebeu com gentileza, com certeza! Quanta sabedoria pode vir de uma pessoa simples a qual, muitas vezes, não damos valor algum e, talvez, até evitemos encontrar.(Foto: Youtube)
JÚLIA FERNANDES HEIMANN
É escritora e poetisa. Tem 10 livros publicados. Pertence á Academia Jundiaiense de Letras, á Academia Feminina de Letras e Artes, ao Grêmio Cultural Prof Pedro Fávaro e á Academia Louveirense de Letras. Professora de Literatura no CRIJU
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