Recentemente fiz uma palestra sobre a glândula pineal, uma pequena ervilha que habita o centro de nosso encéfalo e esquecida a partir do início da puberdade, pois, aparentemente sua função se encerra aí.
Ledo engano. Como uma antena altamente capaz de captar ondas eletromagnéticas, inclusive tem a luz como seu regulador oficial, ela orienta os pássaros migratórios em sua longa jornada a terras distantes assim como indica aos mamíferos em que época do ano estão e se é seguro reproduzir, regula os ciclos hormonais no ser humano, afinal antes da hipófise liberar seus hormônios ela recebe orientação da pineal.
Algumas religiões determinam que ela é a porta para o acesso à alma, portanto a intitulam como o terceiro olho, aquele capaz de ver além e através.
Ver além e através é necessário para fazer a reforma íntima, pois nosso destino é o aperfeiçoamento moral. Para tanto, deveremos ser os guardiões de nossa saúde física, mental e espiritual.
Alcançar esse objetivo não é nada fácil, mas começa pelo conhecimento, pois se ignoramos nossa importância no todo, como interagimos com nosso semelhante e com a natureza ou como reagimos aos estímulos externos, passamos a ser mero expectadores da própria vida e não os autores de nossa história.
A saúde de uma forma geral, ou seja, o equilíbrio entre a hora certa de aumentar ou diminuir as concentrações de diversos hormônios depende de uma pequena ervilha no centro logístico de nosso cérebro onde reside em conjunto com as nossas emoções.
Então é lógico que estados emocionais extremos causem alterações importantes no funcionamento de todo o organismo, devido à íntima relação entre essas regiões cerebrais.
É fato comprovado que o estresse causa alteração na parede das artérias, aumento na liberação de hormônios que alteram o ritmo cardíaco e que podem provocar danos no sistema nervoso e cardiovascular entre outros.
Desde quando sofremos de estresse? A resposta é: desde sempre. Os eventos metabólicos decorrentes do estresse foi um importantemeio que os organismos encontraram para sobreviver no ambiente hostil em que viviam.
E quando o estresse passou a ser deletério à saúde? Quando ele passou a fazer parte de todos os aspectos de nossa vida e não somente acionado quando fugíamos de um predador. Quando eu coloco muita expectativa e energia em coisas e situações que mereciam menos importância. Eu já não escolho mais minhas batalhas. Eu quero vencer todas as guerras.
Naturalmente crescer aumenta as responsabilidades, mas hoje as agendas das crianças rivalizam com atividades de vários adultos somados. A necessidade de ter e não de ser. A busca pelo emprego. A falta dele. A necessidade de usar o sistema de saúde. A falta dele. Tudo isso mais casamento e filhos. O envelhecimento e a necessidade maior da família. A falta dela. A facilidade com que a culpa cabe no outro e não em mim.
Os sensores corporais não definem o que é certo ou errado, apenas respondem a comandos e estímulos orientados pelas nossas percepções e então o excesso de informações inunda de neurotransmissores cerebrais que confundem nossas tomadas de decisões e nossa visão de mundo. Alteram a sensibilidade de nossa antena, a pineal.
Como organizar novamente o ritmo fisiológico? Como aguentar o estresse? Como suportar viver sem ter? Onde encontrar a felicidade?
Autoconhecimento. É o primeiro passo para desvendar o mistério das relações humanas com seus pares e com a natureza. Ser sincero em suas respostas para as perguntas internas.
Equilíbrio. Encontrar seu ponto de equilíbrio necessita de autoconhecimento: do que eu preciso? Para que eu preciso? Novamente a sinceridade interna deve prevalecer para alcançar a verdade.
Posicionar a felicidade dentro de si mesmo. Ela não está nos outros ou nos bens adquiridos. Olhar para si e se amar.
São bons pontos para começar a trabalhar, pois enquanto a busca pelo autoconhecimento evolui na direção do equilíbrio, as situações estressantes são colocadas na perspectiva correta, as resoluções são mais facilmente alcançadas porque nesse processo as rotas fisiológicas são restabelecidas, os hormônios são secretados na hora certa e na proporção correta facilitando o controle das glândulas mães sobre todo o organismo. (foto principal: sonrieparavivirmejor.com)
ELAINE FRANCESCONI
Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora