O Governo Federal seria capaz de prejudicar o hospital do Grendacc por causa do voto do deputado federal Miguel Haddad favorável ao prosseguimento da denúncia de corrupção passiva contra o presidente Michel Temer? Se o Governo pode ser responsável por tamanha baixeza, negando verbas para um hospital cuidar de crianças com câncer, ainda não se sabe com certeza. Mas que ele é capaz de punir quem votou contra Temer, isto ele é. As retaliações começaram logo após a votação. Aliados de deputados dissidentes perderam os empregos. Miguel Haddad é do PSDB, ou seja, da base aliada e vem trabalhando para o credenciamento do hospital, inclusive reunindo-se com o ministro da Saúde, Ricardo Barros, e com o próprio Temer. Os tucanos se dividiram na hora do voto. Até o dia 2, data da votação vencida pelo presidente, o Governo poderia estar considerando a solução do problema do Grendacc como uma moeda de troca pelo voto do deputado federal? O Jundiaí Agora – JA – ouviu políticos, juízes e jornalistas da cidade para saber a opinião deles sobre esta possibilidade.

Primeiro a análise: há de se estranhar o tempo que o Ministério da Saúde está levando para definir se dará os R$ 200 mil por mês ao hospital do Grendacc, dinheiro que ajudará, mas não resolverá a vida da instituição que acumula atualmente mais de R$ 1 milhão em dívidas. Quando a direção da entidade fez o pedido de credenciamento ao SUS, as regras eram outras. Após investir R$ 3 milhões no hospital, num período em que não havia exigência quanto ao número de leitos da UTI, o atendimento começou em março. A burocracia mostrou que ao invés de 11 leitos, o hospital deveria ter 50 segundo as novas normas. No dia 16 de junho, em reunião com a diretora-presidente do Grendacc e com o deputado Miguel Haddad, o ministro Ricardo Barros disse que o credenciamento não poderia ser feito.

No dia 3 de julho, depois de um abaixo-assinado com quase 100 mil assinaturas e a indignação de toda a região, o presidente Michel Temer recebeu Verci, Miguel, o prefeito Luiz Fernando Machado e também o presidente da Câmara de Jundiaí, Gustavo Martinelli. Temer tranquilizou a todos. Até gravou um vídeo (abaixo) falando que a região não perderia o hospital do Grendacc. E falou que se reuniria com o ministro da Saúde. No dia da reunião com o presidente, a Câmara dos Deputados vivia a expectativa pela indicação do relator da denúncia contra o presidente na Comissão de Constituição e Justiça.

No dia 5 de julho, Miguel reuniu-se com Ricardo Barros que empurrou a discussão para a semana seguinte. Coincidência ou não, no dia 10, o relator da denúncia na Comissão de Constituição e Justiça, Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), deu parecer favorável ao prosseguimento da denúncia. Dois dias depois, técnicas do Ministério da Saúde estiveram no Hospital do Grendacc. O relatório que elas fizeram não foi divulgado até agora e o ministro da Saúde marcou uma nova reunião para a segunda quinzena deste mês.

A partir do momento em que o voto do relator foi favorável ao prosseguimento da denúncia, começaram as especulações a respeito do posicionamento de Miguel Haddad. Ele passou boa parte do mês dizendo que era favorável à licença de Temer. Somente no dia 1º de agosto, véspera da votação, o deputado disse através das redes sociais que seria favorável ao prosseguimento da denúncia.

Mão pesada – Assim que a votação do dia 2 acabou, os dissidentes sentiram o peso da mão de Michel Temer. Thiago Maranhão Pereira Diniz Serrano foi exonerado do cargo de superintendente regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) da Paraíba. Para o lugar dele, foi nomeado Bartolomeu Franciscano do Amaral Filho. Diniz Serrano tinha sido indicado para o cargo pelo deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB), que votou da mesma forma que Miguel Haddad. O engenheiro Vissilar Pretto foi exonerado do cargo de superintendente regional do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) de Santa Catarina. A demissão foi uma retaliação ao deputado Jorginho Mello (PR-SC), responsável pela indicação de Pretto. O deputado também votou contra o presidente.

Até onde se sabe, Miguel Haddad não tem apadrinhados ocupando cargos no Governo Federal. Mas tem nas mãos um assunto delicado. O Palácio do Planalto, mesmo que sutilmente. Com tanto jogo de empurra, demora e o inconformismo de uma região com mais de um milhão de habitantes, o Governo Federal pode muito bem ter arquitetado uma pressão sutil, velada, em Miguel a partir do dia 10, data que o relator confirmou a continuidade da denúncia. As datas se encaixam aos acontecimentos.

VOTOOpiniões – O ex-prefeito Pedro Bigardi (foto ao lado) não acredita que o Grendacc será penalizado por conta do voto de Miguel Haddad. “O pedidos a favor da entidade vieram de muitos políticos de diversos partidos. O Guilherme Campos, presidente do PSD, esteve com o ministro intercedendo pela liberação de recursos. Vereadores e prefeitos fizeram o mesmo. Acho que o movimento popular e suprapartidário criado na cidade extrapola o voto do Miguel”, disse. Pedro é articulista do JA. Os artigos dele são publicados todas as quartas-feiras.

O ex-prefeito de Jundiaí, Íbis Cruz (abaixo), também acha que Michel Temer não seria tão insensível. “Ele não faria isto por conta de toda a história de serviços prestados pelo Grendacc”, afirmou.

VOTO

VOTOO desembargador Cláudio Levada (foto ao lado), que é colaborador do Jundiaí Agora, escrevendo artigos todos os domingos é outro que não acredita na vingança do Governo Federal. “Os pedidos foram múltiplos. O que pode acontecer é ele credenciar o hospital frisando que está atendendo um outro político e não o Miguel Haddad. E outra: é extremamente antipático jogar contra um hospital de câncer para crianças. Minha opinião é que ele vai desvincular a solução do deputado federal da região”, argumentou.

O prefeito Marcão Marchi aproveitou para reforçar o pedido feito ao ministro da Saúde (foto abaixo), durante reunião em Brasília, para que o Governo Federal atenda o Grendacc com o repasse solicitado pela entidade. “É uma entidade séria, que salva vidas e precisa de todo apoio possível, principalmente das cidades da região. Itupeva deu a sua contribuição, assim como tem feito o deputado federal Miguel Haddad, e vai continuar em apoio a todas as instituições que cuidam da população. Um governante precisa, acima de tudo, cuidar e se preocupar em primeiro lugar com a saúde das pessoas. Não há motivo para desculpas e revanchismo num momento como este”, afirmou o prefeito.

VOTO

VOTOO jornalista Nelson Manzatto tem opinião diferente das dos ex-prefeitos Pedro Bigardi e Íbis Cruz. E também discorda de Cláudio Levada. Para ele, os políticos são capazes de qualquer coisa para permanecer no poder, como aliás vem escrevendo em seus artigos do JA às sextas-feiras.  “A possibilidade vingança existe com certeza. É o mesmo esquema do Collor(ex-presidente Fernando Collor de Mello): bateu, levou. Político não pensa no povo. Pensa no bolso”.

VOTODurval Orlato, que foi vice-prefeito de Jundiaí e hoje é secretário de Governo da Prefeitura de Campo Limpo, torce para que Temer pense nas crianças com câncer e não em quem foi infiel politicamente. “Porém, é o velho PSDB do muro: metade contra e metade a favor. E continuam com cargos nos ministérios. O deputado Miguel Haddad votou a favor da redução dos gastos na Saúde. Portanto, é óbvio que a prática seria apertar os critérios de recebimento de verbas por hospitais do Brasil. Ele teve um ato inconsequente e agora tenta correr atrás de resolver o efeito colateral”.

VOTO

O vereador Paulo Sérgio Martins acredita que a retaliação seria “canalhice do Michel Temer mas não seria impossível diante do que ele vem fazendo. Se ele fizer isto não irá punir o Miguel Haddad e sim centenas de crianças de Jundiaí e região. O deputado federal agiu certo, assim como toda a bancada do PPS, meu partido, que votou da mesma maneira. O Miguel não poderia aceitar as exigências do poder. O que ele pediu ao presidente e ao ministro da Saúde é para o bem da população. Não foi uma coisa pessoal como muitos ‘pelegos’ pediram para votar sim”, explicou.

 

VOTO

Fátima Giassetti, delegada aposentada que atuou por quase 20 anos à frente da Delegacia de Defesa da Mulher de Jundiaí (DDM) e que foi candidata a vice-prefeita em 2012, usou de ironia para comentar a hipótese de que Michel Temer possa se vingar do deputado Miguel Haddad negando o credenciamento do hospital do Grendacc. “Tudo é possível nesta Torre de Babel. Escrúpulo e interesse público só existem em livros de histórias infantis. Crianças com câncer e sem atendimento? Ora, e daí???”, concluiu.

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