Haja PACIÊNCIA

E quando você pensa que tudo está na calma, vem o baque. Por que será que as coisas são assim? Eu sempre me pauto por não perguntar por que comigo; mas não abro mão de perguntar ou, no mínimo, exclamar: de novo? Não sou dos que choram sobre o leite derramado, nem sou dos que esperam o leite entornar, mas, sinceramente, esta quaresma está me saindo além do possível. Haja paciência…

Costumo usar da prudência, porque já tive pressa e por muitas vezes comi o prato cru, mas agora estou buscando me colocar numa sintonia diferente, com mais reflexão e mais moderação, daí vem a Vida e me dá um sacode. Desta vez fui surpreendido com uma cirurgia de urgência, justamente na prótese que estava bem. Lição? Merecimento? Aprendizado? Que coisa é essa?

Fiquei tão atônito, tão perdido, que sai do consultório do médico com todos os papéis sem perguntar: em que hospital será? Fiz tudo, exames de imagens, sangue, testes de coagulação e só fui ter tempo de me sentir triste no final da noite. Triste não: com medo. Muito medo, porque será mais uma viagem de anestesia, mas um corte, mais pontos, mais hospital e mais cuidados pós-operatórios.

Mesmo quando tudo pede

Um pouco mais de calma

Até quando o corpo pede

Um pouco mais de alma

Eu sei, a vida é tão rara

A vida não para não

Que coisa é essa, Afonso Antonio!!! Que coisa é essa??? Deus, em sua infinita bondade levou dona Carmen porque ela não resistiria. Agora estou sem dona Carmen e sem Vitória para me acompanhar nesta insana jornada. Vejo os amigos se cotizando, se dividindo, arrancando espaços da família para me fazer companhia. Isso me faz um mal danado porque não gosto de atrapalhar.

Chego a não ir a casa dos outros para não atormentar as pessoas em seu momento de descanso. Sou assim, não me pauto por mudar. Mas numa situação emergencial preciso falar com alguém, gritar, por para fora. Mas me fecho, fico mortificando, remoendo, desculpando-me. Que maldita fragilidade….queria tanto chamar o Zé Ari, a Sonia (minha irmã amada), o Gouvea, o Presoto, a Silvana. Mas não: fecho-me, acabo-me, mas não abro o bico. Por quê? Porque esse sou eu. Porque me criei para lutar e para vencer obstáculos, sem perturbar.

Ouvi certa vez que cabrito bom não grita. E minha amiga Tetê contra-argumentou que grita sim e grita para pedir ajuda. Foi o que fiz hoje. Chorei no ICON; chorei na coleta de sangue, chorei na conveniência do posto de gasolina, dei licença para a fortaleza e deixei vir a franqueza e a realidade: sou fraco, sim. Sou medroso, sim. Sou de carne e osso, sim.

Será que é tempo

Que lhe falta pra perceber?

Será que temos esse tempo

Pra perder?

E quem quer saber?

A vida é tão rara

Tão rara

Hoje, quando percebi que as portas iam se fechar, que não daria conta de fazer todos os exames pedidos e que ninguém se incomodava com isso, nem mesmo com o carimbo de urgente nas guias médicas, percebi que a situação é muito difícil e muito mais perigosa do que se pode imaginar: nem nos setores de Saúde se encontra alguém disposto a ser humano.

Diante deste caos eminente, chora, sem vergonha. Chora no ICON. Chora no A+. Chora no CentroCor. Chora e fala tudo o que tem que falar: o não você já recebeu, Afonso Antonio. E como um Zé Ninguém, bota pra fora os cachorros, sapos, cobras, lagartos, crocodilos que você armazenou dentro do seu peito. E, assim as portas foram se abrindo: um encaixe aqui. Outro encaixe ali. Uma cirurgia de emergência com centro cirúrgico marcado. E a Vida parece reagir e a mostrar que quem manda nesse ritmo é você, professor.

Você não diz aos seus alunos que eles são senhores de sua história? Pois você é senhor da sua história, professor Afonso. Parte pra cima. Vá buscar o que é seu. Lave sua alma. Supere seus medos, acalme-se. Maneje esta ansiedade que está torturando seu peito. Diga as pessoas o quanto elas são importantes para você, reaja (ou aja?????) com vigor porque você não está só. Você nunca esteve só. Você tem suas companhias, sempre. E elas lhe bastam.

Enquanto todo mundo

Espera a cura do mal

E a loucura finge

Que isso tudo é normal

Eu finjo ter paciência

A única coisa que me alegra diante deste processo é que não me dei ao direito de ser imponente, nem ser arrogante, tão pouco me senti dono do mundo. Percebi meu ‘tamainho’ diante do universo e pude, mais uma vez, testemunhar a grandeza de um Deus que me acolhe e me dá estímulos para viver. E vencer. Pego-me, agora, pensando: uma crônica sobre seu dilema. Então, sim, é isso mesmo. Por que não? Quando você vier a lê-la, já devo estar em casa, curtindo minha nova cicatriz, mas muito agradecido pelo percurso que trilhei neste novo e louco processo. Haja paciência…

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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