Pelas ruas Carlos Gomes, Joaquim Ladeira, São Pedro, avenida Luiz Zorzetti e avenida São João, Helena Tavares, de 69 anos, é conhecida como a mulher que vem dando cores e vida àquele canto do bairro. Por onde passa, os moradores e comerciantes da Ponte São João cumprimentam dona Helena. Mas não são acenos sisudos, tão comuns nos dias de hoje. A pequena senhora, agitada, de fala rápida, que não fica parada por mais de cinco segundos, arranca sorrisos por onde vai passando. Helena pinta postes e alguns muros. Conserta calçadas, varre a rua toda onde mora. “Havia muita sujeira, muito desleixo. Resolvi fazer a minha parte. Onde eu puder deixar bonito e fazer as pessoas felizes ao olhar postes pintados, também ficarei contente. Até os bebês apreciam a beleza”, afirma ela. Helena deixa o mundo mais feliz com cores e flores.

Ela nasceu em Minas Gerais. Com 18 anos veio para Jundiaí e foi morar na vila Maringá. A vontade de deixar o mundo mais colorido nasceu quando se mudou para o Ivoturucaia. Lá, ela contratou um pintor. Ela queria a pintura de um ramalhete de flores em casa. Através do trabalho dele, Helena decidiu que queria tirar a cor cinza do mundo. A idosa não tem formação artística. Trabalha de forma instintiva. “Quando eu era criança vi muito minha mãe bordar para ganhar um dinheirinho a mais. Eu via aquelas linhas com cores bonitas e ficava encantada. Talvez minha vontade de pintar venha daí”, lembra.

Religiosa, dona Helena toca violão e canta músicas que falam de Deus. Chegou a participar de três missas seguidas, sempre soltando a voz. “Hoje não consigo mais cantar tanto”, lamenta. Mas pintou a letra da música “Planetinha”, do padre Zezinho, numa das paredes e, quando tem vontade, pega o violão, e a canta (veja vídeo acima). Os versos falam da destruição da Terra e do bem que o ser humano pode fazer. Sem perceber, a idosa segue à risca os versos fazendo do quarteirão seu mundo, deixando-o mais bonito, colorido e limpo.

HELENA

Ela se mudou para a Ponte São João há quatro anos. E passou a pintar os postes há dois meses. Em janeiro deste ano já havia decorado toda a casa com flores vistosas(foto acima). “Eu tinha um restinho de tinta em casa e passei por um poste da rua Carlos Gomes. Ele estava feio e quebrado. Resolvi pintá-lo e achei que ele sorriu para mim. Aí vi outro poste tristinho e o pintei. E assim foi”, conta.

Ela não tem a mínima ideia de quantos postes já receberam suas pinceladas. “Acho que pintei uns 10”, diz. Dona Helena deve ter pintado mais de 20. Ela não tem nenhuma técnica especial. “Não risco os postes antes. Vou passando o pincel. Acho que é a providência divina que guia a minha mão”, explica. Mas, para isto, a artista precisa estar sozinha. Geralmente nas tardes de domingo, ela vai para rua, com latas de tintas doadas por amigos e parentes e passa a deixar o mundo mais bonito. “E se tiver jogo na televisão é melhor ainda. Quanto menos movimento houver, melhor para mim”, brinca.

HELENA

E lá vai dona Helena, passos apressados, provar que não há que não goste de seus trabalhos. Passa na casa de uma vizinha que abre um sorriso quando a vê. Fala olá para o rapaz que está trabalhando do outro lado da rua. Todos acenam para a mulher. Existe até uma disputa bem humorada entre as vizinhas da artista. Cada uma afirma que o poste da frente de sua casa é mais bonito do que o da outra. “Já vi crianças pequenas abraçarem os postes e dizerem para os pais que a pintura foi feita para elas. Nestas horas eu transbordo de felicidade”, diz Helena.

O mundo seria bem diferente se tivesse um exército de donas Helenas. Ela não gosta de comentar, mas é o tipo de pessoa que se incomoda com o que está errado, feio ou sujo. Se a calçada está esburacada, pega cimento, uma colher de pedreiro e faz o conserto. Se vê que a rua está suja, pega a vassoura e a varre de ponta a ponta. A família já se acostumou com o talento da matriarca. As vezes há reclamações da bagunça de latas de tinta na garagem, coisa que dona Helena não se preocupa.

HELENA

HELENA

No cruzamento da avenida Luiz Zorzetti e rua São Pedro há um espaço que antes era usado literalmente como um depósito de lixo. “Eu chamo este lugar de triangulozinho”, brinca a artista. Incentivada por comerciantes, dona Helena limpou o local e o pintou de cima a baixo. Deu vida a um cantinho da Ponte São João que estava esquecido (foto principal).


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Na semana passada, ela foi até o Ivoturucaia fazer pinturas numa casa de dois idosos. “A mulher tem 80 anos e o marido dela sofre de Alzheimer. Eu não queria ir. A casa dela é chique e eu só pinto a minha casa. Mas acabei indo. A dona disse que teve o dia mais feliz da vida dela com as minhas pinturas. Nós conversamos e rezamos juntas”, lembra. Helena adianta que pretende pintar só mais dois postes. “Vou parar. A minha rua já está bonita”, conclui. Há quem não acredite nela. Os pincéis de Helena não vão sossegar enquanto o cinza existir…

HELENA