Antes de ser historiador, sou um procrastinado curioso, interesso-me por tudo, fuçando fotos velhas, diários empoeirados, livros que esfarelam como se fossem papiros milenares, livros nem tão gastos assim, moedas, baús e tudo mais que traga algo a ser estudado, esmiuçado, teorizado e por fim, esquecido e lembrado, como Hibiturucaia, ainda o bairro mais antigo da cidade, tema deste primeiro artigo.
Sobre a história de Jundiaí… tudo é diáfano, preocupa-se muito com a imigração italiana, a viticultura e a ferrovia, todas oriundas de fins do século XIX. Em nenhum momento descredibilizo essas identidades, culturas e memórias, pelo contrário, são importantíssimas, do mesmo modo as identidades, memórias e culturas africanas e afrodescendentes, bem como dos povos autóctones.
Caso questione por não ver os elementos citados como preponderantes nesse texto, foi minha opção iniciar essa série a partir dos meus primeiros passos na busca. Nos próximos artigos vamos nos aprofundar na história tão cativante desse local e da cidade.

Nesta pesquisa encontrei dois textos em língua portuguesa, o que é bem difícil, do suábio Walter Gossner(foto ao lado), imigrante que adotou as terras tupiniquins como morada e após percorrer outras localidades com sua esposa, habitou a região entre os rios Jundiaí-Mirim, Jundiaí-Guaçu, Atibaia e o morro do Jaraguá, mas que hoje se limita a compor espaço fronteiriço de Jundiaí com Várzea Paulista, Campo Limpo Paulista… e nomeia uma pequena região em Franco da Rocha.
Ele era professor e foi casado com Dona Ema, enfermeira, ambos filantropos de instituições educacionais e de saúde. Estabeleceram construções no bairro com as características de seu país de origem, foram muito ativos por ali, desde a sua chegada em 1937, auxiliando, aprendendo e informalmente, educando jovens e velhos como me contou o Sr. Edson – um dos grandes mobilizadores e articuladores de políticas públicas para as famílias e para o bairro –, que frequentemente visitava a residência Gossner para aprender com o Dr. Walter.
Hibiturucaia é citada desde o século XVII, como área ocupada por sesmeiros, anterior à Villa Fermosa de Nossa Senhora do Desterro do Mato Grosso de Jundiahy, e que veio a ser singrada pela estrada de Atibaia, um dos principais caminhos tropeiros e prolongamento da estrada de Itu, permitindo assim, o transporte e comércio entre o sul do país, região bragantina e Minas Gerais, deste último partia o café com destino ao porto de Santos.
Um dos principais referenciais da população hibiturucaiense é a capela sob o orago de Santo Antônio, nos dias de hoje existem duas construções, uma para a celebração e outra (no local onde havia a primeira) preservando as memórias, identidades e culturas locais, a construção da capela pioneira remete à primeira metade do século XX, com suas festividades juninas ocorrendo sempre que possível há mais de 100 anos. A história de Hibiturucaia continua na próxima quinzena…(Foto principal: Arquivo da Família Bianchini)

JOSÉ FELICIO RIBEIRO DE CEZARE
Mestre e doutorando em Ensino e História de Ciências da Terra pelo Instituto de Geociências da Unicamp. Membro da Academia Jundiaiense de Letras. Pesquisador, historiador, professor, filósofo e poeta. Coeditor da Revista literária JLetras. Para saber mais, clique aqui. Redes sociais: @josefelicioribeirodecezare.
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