Jackson Wilson Godoi pratica algumas vertentes do hinduísmo. Mais como filosofia do que como uma religião em si. “Eu me considero Gnóstico, aquele que busca através do conhecimento, autoconhecimento e estudo o despertar divino”, afirma. Ele acredita que existam poucos praticantes do hinduísmo quanto da Gnose. “Mas há muitas pessoas buscando a autolapidação diariamente”, explica. Sobre o falatório de vereadores evangélicos e católicos, Jackson é enfático: “Câmara Municipal não é igreja. Não é lugar de religião nenhuma”. A entrevista com o praticante do hinduísmo:
Explique rapidamente como é esta religião…
Referente ao hinduísmo, muitas pessoas acham que nós adoramos “seres” com vários braços, várias cabeças e fisionomias animalescas, porém essas representações são alegóricas e simbólicas, pois cada “deus” da religião Hindu representa um aspecto humano e também uma vertente do próprio Deus criador. Representações de deuses com vários braços significam a habilidade de lidar com diversas situações e a facilidade de alcançar vários propósitos ao mesmo tempo, além de ser importante os itens que cada braço segura, pois também estão carregados de simbologias. Assim como todas as religiões ocidentais têm suas formas de representar o divino, as religiões orientais também têm seu modo de representação. Além da semelhança dos ensinamentos hindus com as descobertas científicas, na física, por exemplo, as filosofias hindus têm paralelos impressionantes. As teorias das cinco forças do hinduísmo, por exemplo, remetem às quatro forças físicas fundamentais (gravitacional, elétrica, nuclear forte e nuclear fraca) e acrescentam o karma ou desejo. Físicos como Erwin Schrödinger e Fritjof Capra já exploraram as conexões entre a física quântica e os ensinamentos hindus. Capra, em sua obra “O Ponto de Mutação”, traz comparações entre o conceito quântico de superposição, como no famoso experimento hipotético da “onça na caixa”, e a ideia hindu de Maya – a realidade aparente como ilusão. Assim como creio que a maior parte dos ensinamentos antigos foram passados através de alegorias, para que possamos entender em qualquer época através de estudo, meditação, compreensão e prática, o hinduísmo transmite até hoje ensinamentos profundos sobre a criação, conservação e transformação de tudo, semelhante à alquimia por exemplo, e várias outras religiões e filosofias. Mas o mais importante de tudo na religião, o amor, empatia e respeito com todos os seres vivos.

O hinduísmo não segue a Bíblia e o Deus da tradição judeu-cristã. O senhor se sente excluído ou discriminado quando vereadores fazem citações da bíblia, por exemplo?
Na verdade não me sinto excluído, pois só é possível se sentir excluído de algo que você faria parte. Creio que a religião em si não deva fazer parte da política. Nem a minha, nem a sua e nem a de ninguém, pois como diz em nossa constituição, o Estado é laico (em teoria, como vemos nos dias atuais). Quando se mistura religião e governo o perigo é eminente, como observamos diariamente nos telejornais e veículos de mídia diversas. Esse é o ponto inicial para perseguição religiosa e cultural, uma porta aberta para preconceitos e discriminações, sendo elas por qualquer forma de pensamento diferente. Infelizmente vivemos um enorme retrocesso a nível mundial, estamos adentrando o ano de 2024 da era vulgar. Já era para nós, seres racionais, termos deixado para trás toda essa ignorância e termos formado uma consciência mais evoluída e abrangedora de novas ideias.
Referente ao fato das citações bíblicas em sessões governamentais, sendo de quaisquer instâncias, é apenas o reflexo do poder do nosso voto, pois lá estão as pessoas que a maioria escolheu para representá-las e defenderem seus interesses. Reflexo esse que mostra o quão despreparada são as pessoas que elegem e seus eleitos, quão ignorantes são, pois desconhecem o fato de serem representantes públicos e colocam acima do seu compromisso público gostos e preferências pessoais, esquecendo seu juramento de servir a população como o que realmente são, servidores e não líderes a serem seguidos ou astros a serem idolatrados. Não podemos continuar elegendo candidatos apenas pelo seu “sobrenome tradicional” na cidade, ou elegendo o candidato da sua igreja que em nada tem a somar, devemos primeiramente nos conscientizar e nos transformar através de muito trabalho mental e intelectual em pessoas melhores, para assim podermos eleger candidatos melhores. No final, todos nós já sabemos o que é certo ou errado, mas para ter a sensação de pertencer a algum grupo, algumas (se não a maioria) das pessoas se vendam com a venda da ignorância e do ódio para alimentar cada vez mais seu próprio ego. Instituições governamentais tem o dever de prezar por todas as crenças sem distinções e favoritismos, simplesmente fazer seu trabalho.
Religião é assunto para ser tratado na Câmara?
Câmara municipal não é igreja, não é o local de religião nenhuma, pode ser sim um local onde as pessoas que lá “nos representam” tenham suas religiões e espiritualidade, mas que guardem para si, sem favorecer uma ou outra, que ajam religiosamente através do amor em seus atos, através da bondade em suas escolhas e através da sabedoria em suas decisões. Lugar de pregação religiosa é nas igrejas, templos e ambientes propícios para isso, lugar de fé é dentro de cada um de nós.
Nas legislaturas dos anos 80, 90 e 2000, raríssimas vezes “Deus”, “religião”, “bíblia”, entravam na pauta. Por que estes temas agora são explorados com tanta ênfase?
Justamente pelo retrocesso filosófico que estamos vivendo, assim como na idade média, onde a igreja católica tinha um enorme poder e influência nas decisões dos reinados e províncias, estamos revivendo isso, só que desta vez com tecnologia. Vimos isso há pouco tempo atrás, líderes religiosos envolvido diretamente em escândalos políticos, pregando sobre o candidato ‘x’ em vossas igrejas, fazendo símbolos que representam armas dentro de um local que deveria ser sagrado (pelo menos para eles). A política adentrou nas igrejas no mesmo momento em que as igrejas adentraram na política, e isso não é de agora, nunca vi uma bancada católica na política, muito menos hindu ou ateia, não criticando a religião das pessoas em si, mas mostrando como isso já adentrou na política há tempos. Da mesma forma em que na Idade Média a igreja teve poder sobre governos e foi um tempo de absoluta ignorância e derramamento de sangue para a humanidade, hoje também está sendo, com o retorno da religião e do Estado em comunhão e interesses mútuos.
Acha que Deus(es) gosta(m) disto?
Creio que Deus, independentemente da forma em que é chamado, arquitetou tudo que vivemos, não apenas as coisas e fases boas, mas também os desafios de mudança, pois sem desafios nada evoluí, o desafio agora é a humanidade entrar em comunhão, respeitar e ser respeitada, dentro dos limites dos seus direitos e deveres.(Publicada originalmente em dezembro de 2023)
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