O repórter-fotográfico Ari Vicentini estreia hoje com a coluna História da Foto. Quinzenalmente ele vai contar os bastidores de imagens que estamparam as primeiras páginas de grandes jornais. Neste primeiro texto, Ari conta como registrou um confronto durante a festa do Dia do Trabalhador há quase duas décadas e a ansiedade que viveu até o filme ser revelado. O fotograma 34 salvou o profissional naquela ocasião. Confira a história da foto, então:
Minha pauta era cobrir as comemorações do 1º de Maio de 1992, na Praça da Sé, centro de São Paulo. Estávamos num período muito forte do sindicalismo brasileiro, muita gente importante iria discursar e previ que ficaria ali o dia todo. Mas era sábado e os jornais encerravam muito cedo a edição. Por volta das três horas da tarde eu, já com muita fome, sequer tinha almoçado devido ao evento. Saí um pouco da frente do palanque, onde todos os fotógrafos estavam e me arrisquei. Afinal toda vez que saímos de “perto da notícia” nos arriscamos a deixar de fotografar algo importante.
Fui até o orelhão, telefone público numa época em que não havia Internet ainda, para fazer uma ligação à redação e perguntar se poderia voltar, pois a festa estava terminando e, pelo horário, mais nada aconteceria. Enquanto falava com o meu editor, ouvi tiros de revólver. Muitos tiros. Imediatamente corri para a praça, tentando descobrir o que estava acontecendo. Era uma grande confusão, gente correndo, gente deitada no chão em busca de proteção, policiais dando tiros para o alto, adrenalina pura.
Fui fotografando o que dava e num momento tudo parou: os sindicalistas correram todos para as escadarias da Catedral, onde estava o palanque e a polícia ficou na parte de baixo da praça e eu fiquei no meio. Cadeiras e todo tipo de objetos começaram a ser arremessados nos policiais, que se protegiam. Eu me afastei um pouco para me proteger e continuei fotografando até meu filme acabar. Quando fui trocar o filme me dei conta que não conseguia. Estava tremendo muito.
De volta à redação, além do medo por tudo o que tinha acontecido, me veio um medo maior ainda: eu não me lembrava das fotos que tinha feito. Nada. Era o famoso “deu branco”. Bateu um desespero. Existia o risco de depois de tudo eu voltar ao jornal sem nenhuma imagem ou pelo menos sem nenhuma boa imagem. Enquanto esperava o filme ser revelado, filme analógico e que demora uns 20 minutos para ser processado uma eternidade naquela situação, o editor do Estadão, Pedro Cafardo apareceu lá na “fotografia”, fato raro. Ele perguntou sobre a foto da capa. Supostamente a minha foto.
Olhei para Fabio Salles, que estava na edição da foto naquele dia. Acho que ele percebeu que meu silêncio não poderia ser boa notícia. O filme ficou pronto, ele colocou sobre a mesa de luz e começou a olhar cada fotograma sem parar e a cada fotograma que ele passava, meu coração batia mais rápido, pensei comigo: ‘Não tem nada, não tem foto, vou levar uma bronca ali na frente do chefão’. A procura continuava e no fotograma 34, de um rolo de filme que tinha 36, ele parou e disse:
– É esta.
Cafardo olhou e concordou:
– Boa foto, disse ele me olhando.
No dia seguinte, não só o Estadão deu a foto na capa. O Jornal da Tarde também, assim como outros jornais(foto principal). Fiquei muito feliz, claro. E recebi muitos elogios. Mas hoje, contando a história do foto, surge a dúvida: foi talento? Sorte? Instinto? Fui eu mesmo???
ARI VICENTINI
Repórter-fotográfico desde 1989, com passagens pelo Estadão e Jornal da Tarde. Foi fotógrafo e editor de fotografia do Diário Lance, atualmente é professor de Fotojornalismo na Faculdade Cásper Libero. É jundiaiense.
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