Viver entre o HOJE E O AMANHÃ

Existe um “delay” onde é possível viver entre o hoje e o amanhã? Conversando com uma tia de meu marido na festa de Natal, eu comentei que esse ano havia sido de tantas tempestades, mudanças e decepções, que eu gostaria muito que ele acabasse, mas que eu tinha medo do próximo. Seria possível encerrar 2018 sem iniciar 2019?

A física garante que sim. Espaço e tempo são supervalorizados. Basta analisar outros planetas. Tão distantes, mas tão próximos ao olhar do astrônomo, e à medida que a tecnologia de viagens interplanetárias vai se tornando realidade, aproxima-se cada vez mais.

E o que é o tempo, senão uma criação humana?

Na matemática de nossas rotinas, necessárias para a organização de trabalho/descanso/lazer, são sempre iguais os nossos dias, meses e anos, mas isso não é válido para qualquer lugar do planeta ou estação do ano. E até para outros planetas.

Apesar disso, eu ainda gostaria de viver no “delay” entre 2018 e 2019.

Tenho muito medo do que está por vir. Talvez a maturidade tenha feito isso comigo, pois eu já fui mais corajosa. Agora eu entendo os grandes pensadores de antigamente: Ser ou não ser, eis a questão!

Lembro-me de apenas um momento em minha vida, anterior a este, que esse era o questionamento mais importante: a hora de escolher minha profissão.

A chegada do fim de cada ano sempre carrega a responsabilidade de reavaliar o ano findouro assim como o que está por vir.

O que fiz, o que vou fazer, como reagi às adversidades, como reagirei.

Só que agora, não estou mais sozinha. Tenho filhos. Meus pensamentos estão divididos entre mim e meus filhos e essas questões acima, nesse momento, servem tanto para mim como pra eles, mas eles ainda não têm condições de respondê-las sozinhos. Eu preciso ajudá-los.

Desde que ambos abriram os olhos e me olharam com a paixão que um anjo olha para o seu criador, nunca a responsabilidade materna havia me devastado e esmagado como nesse ano.

Aaaaah como eu gostaria de voltar no tempo para os braços de minha mãe querida e pedir: “Mãe me ajude a decidir”. Agora, sou eu que decido.

Como ela fazia isso? Parecia tão fácil.

Apesar de ser outro tempo, também não era simples para ela, mas assim como todas as mães que amam seus filhos e desejam o melhor para eles, ela também sofreu com as decisões que precisara tomar.

Agora, eu entendo quando ela disse ao nascimento do meu primeiro filho: “Nunca mais suas noites serão as mesmas. Nunca mais VOCÊ será a mesma”.

Noto, ano a ano, que preciso me adaptar, que os conceitos que tinha, já não são mais válidos, que meus filhos mudam e eu também preciso mudar. Se eu não acompanhá-los, não saberei me comunicar com eles e esse seria o momento de minha morte.

Morte em vida. Quando eu já não entendo mais o que falam para mim e minha voz não alcança mais os ouvidos alheios.

Não existem muitas opções:

– Posso simplesmente não me importar, ignorar e seguir minha vida cada vez mais solitária e correr o risco de que as pessoas, em algum momento, não se importarão comigo também, ou

– Aprender, me adaptar, para continuar fazendo parte do mundo daqueles que eu amo.

Depois dessa profunda reflexão, eu ainda gostaria de viver no “delay” confortável entre 2018 e 2019, mas isso seria covardia demais, até para mim. Para consertar a bagunça que está minha vida é preciso energia e vontade, duas coisas que não existem num espaço/tempo de fuga e alienação.

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Mesmo a água, se parada, estraga, e mesmo ela, devagar constrói seu próprio caminho, nem que tenha que atravessar pedras, pois embora ela desvie, seu movimento lento e contínuo, vai gastando até a mais dura das rochas.

É com esse sentimento de dever e necessidade de crescimento (embora com muito medo do futuro), que desejo a todos um Ano Novo repleto de realizações e que as atribulações sejam encaradas como desafios no jogo da vida, onde atualizar é progredir e subir os níveis é alcançar limites nunca antes imaginados.(Ilustração: sentidoincomum.com.br)


ELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora.