Estamos ocupados demais nos perguntando quais profissões a IA(Inteligência Artificial) substituirá, quando talvez devêssemos encarar a pergunta real: o que ainda vai fazer sentido existir quando ela assumir o controle das tarefas humanas?
A automação por IA já não ameaça apenas quem trabalha com processos repetitivos ou dados estruturados. Médicos, designers, músicos …, todos já foram testados, e alguns superados, por agentes generativos e modelos multimodais.
Mas, e os intocáveis? E o futebol, por exemplo? Sim, o futebol.
Enquanto você lê este post, carros autônomos estão competindo em pistas de alta complexidade como Daytona (sem piloto).
O aprendizado de máquina já começa a dominar estratégias que antes eram exclusivas da intuição humana. Com agentes treinados em simulações infinitas e sensores que captam tudo em tempo real, será que os próximos Ronaldos virão de campos ou de laboratórios?
Essa provocação não é sobre o fim do esporte, da arte ou do humano. É sobre a mutação daquilo que chamamos de talento, trabalho e identidade.
Estamos preparados para ver o que ainda consideramos, essencialmente humano ser reconstruído de forma algorítmica?
O antropólogo francês Lucien Lévy-Bruhl já nos alertava sobre as, formas de pensar pré-lógicas, aquelas que não seguem necessariamente um raciocínio científico, mas que estruturam a cultura e o simbólico.
A IA está prestes a romper com isso, lembrando que, apesar de ela não pensar como nós, mas pode simular tudo aquilo que valorizamos como nosso.
Sherry Turkle, do MIT, também nos provoca. Nós nos tornamos tecnologicamente seduzidos por substitutos. E se o substituto se tornar melhor ou mais lucrativo?
A automação não vai destruir as profissões. Destruirá o sentido delas. Jogadores de futebol, artistas, cientistas… todos nós somos candidatos a sermos melhorados ou copiados.
A pergunta é: o que queremos proteger: o que fazemos, ou o que isso representa para nós?
Ainda dá tempo de decidir.
Mas, quero passar uma reflexão final: estamos diante de um novo ritual antropológico. Em vez de perguntar se a IA vai roubar nossos empregos, precisamos perguntar: qual é o último reduto da humanidade que vale a pena preservar e como vamos protegê-lo?
Estamos no meio da partida, e o juiz, dessa vez, é invisível e treinado por bilhões de dados. Devemos lembrar que carros autônomos faziam barbaridades no começo e ninguém acreditava que eles virariam realidade. A Tesla que o diga.(Foto: Gemini)

ARTUR MARQUES JR
É cientista de dados e especialista em IA aplicada, com sólida atuação em educação digital e inovação. Coordena a pós-graduação digital na Cruzeiro do Sul Educacional e é PhD em Ensino de Matemática, Mestre em Física Computacional e Astrofísica. Atua como palestrante, mentor, cofundador do Grape Valley, é VP Fiscal do Hosp. GRENDACC e já foi VP da DAMA Brasil.
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