IA: Estudante de Jundiaí participa de Olimpíada Internacional

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A primeira Olimpíada Internacional de Inteligência Artificial (IOAI) realizada em Burgas, na Bulgária, é um marco no reconhecimento global da IA como um campo de estudo e habilidade crítica. O estudante jundiaiense Leonardo Candeias Massoni, de 18 anos, participou dela. No ano passado, ele apresentou um trabalho Olimpíada Brasileira, recebendo, inclusive, medalha. O evento brasileiro foi criado para levar conhecimento acessível a nível médio sobre Inteligência Artificial no país, desmistificando o assunto e conscientizando a população geral sobre as possibilidades e os riscos da ascensão da IA no mundo. A realização destes eventos identifica novos talentos reunindo as melhores mentes jovens, proporcionando a criação de uma comunidade inspiradora e colaborativa. A primeira Olimpíada Internacional de IA mostrou-se um catalisador para acelerar o desenvolvimento da IA, inspirar futuras gerações e fortalecer a cooperação global nesse campo transformador. No próximo ano, o evento será em Pequim, na China. O Jundiaí Agora conversou com Leonardo:

Você nasceu em Jundiaí?

Nasci em Jundiaí. Depois, minha família se mudou para Campo Limpo Paulista. Há oito anos voltamos para Jundiaí.

Onde estudou?

Desde o ensino fundamental estudo no Colégio Domus Sapiens, onde sou bolsista e estou cursando o terceiro ano do Ensino Médio.

Quando surgiu o interesse por IA?

Desde pequeno sempre tive um grande interesse por tecnologia e computação, isso me levou a participar da Alta Voltagem, uma equipe de robótica do meu colégio que participa de diversas competições educacionais voltadas para a área de ciências e tecnologia. Durante quatro os quatro anos em que fiz parte da equipe, tive oportunidade de conhecer e colocar em prática diversos aprendizados. Este contato com a robótica me incentivou a cada vez mais me aprofundar nesses temas e buscar novas oportunidades relacionadas a isso. Assim, comecei a me interessar por Inteligência Artificial, e buscando conhecer mais sobre o assunto, encontrei a Olimpíada Nacional de Inteligência Artificial (ONIA), que foi uma possibilidade de aprimorar e testar meus conhecimentos a respeito do tema.

Você foi um dos três medalhistas da Olimpíada Nacional de Inteligência Artificial. Quando foi?

A última edição ONIA ocorreu entre agosto e setembro de 2023. A competição possuia três fases, que consistiam em uma prova objetiva, resolução de problemas com aplicação de conceitos de IA e por fim a apresentação de um projeto que propusesse a aplicação de IA em quatro grandes eixos temáticos: Cidades 4.0, Indústrias 4.0, Agro 4.0 e Saúde 4.0.

Detalhe o trabalho que apresentou…

O projeto que apresentei na ONIA propunha o uso da Inteligência Artificial para a identificação de alterações resultantes de fenômenos patológicos e pragas em plantas. Considerando a importância da agricultura de pequeno e médio porte no contexto regional e nacional, um dos principais aspectos que pode afetar a viabilidade de uma produção é por conta de prejuízos ocasionados por diversos tipos de doenças pragas presentes nos cultivos, então, pensando em diminuir o impacto desse problema busquei apresentar uma solução que fornecia uma relação de prováveis diagnósticos através da identificação visual com o uso de Inteligência Artificial, considerando elementos presentes na imagem da folha ou fruto, como: manchas, cores, formatos, tamanhos, e também diversos fatores gerais, como: aspectos climáticos (temperatura e umidade), aspectos geográficos (características do solo e altitude) e aspectos do cultivo (estágio de desenvolvimento). Essa identificação rápida e fácil do que está causando o problema no cultivo apresentaria uma série de benefícios, sendo possível reduzir a quantidade e a área em que é utilizado defensivos agrícolas e outras técnicas de controle, resultando em uma economia nos custos de manejo e agregando valor no cultivo, tornando mais rentável a produção e reduzindo as perdas no processo produtivo.

A sua colocação na olimpíada brasileira foi determinante para participar da olimpíada internacional?

Sim, a seleção de três dos quatro brasileiros escolhidos para representar o Brasil na olimpíada foi com base no desempenho obtido na última edição da ONIA, que ocorreu em julho do ano passado. Portanto, ter sido premiado e estar bem classificado  foi essencial para eu ter sido selecionado para a etapa internacional.

Aliás, de quando a quando ocorreu este evento na Bulgária?

A Olimpíada Internacional de Inteligência Artificial (IOAI), que participei presencialmente na Bulgária, ocorreu entre os dias 9 a 15 de agosto deste ano, tendo uma série de atividades para além das provas, como palestras com pesquisadores renomados, cerimônias, eventos de socialização, além de um tempo reservado para conhecer a cidade em que estava acontecendo a competição. No entanto, por conta da distância até o país de realização, a viagem se iniciou no dia 7 de agosto, retornando ao Brasil somente no dia 16 do mesmo mês.

Apresentou algum projeto lá? Recebeu algum prêmio?

O formato de realização da IOAI consiste na solução de problemas, realizado ao longo de dois dias de prova. O primeiro dia de competição, com duração de oito horas ininterruptas tínhamos que desenvolver soluções para três problemas de diferentes áreas da Inteligência Artificial, como Aprendizado de Máquina (Machine Learning), Processamento de Linguagem Natural (Natural Language Processing) e Visão Computacional (Computational Vision), por meio de programações realizadas no programa Colab, do Google. Já o segundo dia de provas tinha como objetivo a aplicação prática de ferramentas que faziam o uso de IA, portanto, tínhamos que desenvolver um vídeo e uma imagem conforme os critérios apresentados pela organização, por meio dos softwares disponibilizados pela competição. Apesar de não termos sido premiados foi extremamente gratificante ter a oportunidade de ter participado de uma competição de tão alto nível, que me possibilitou adquirir diversos aprendizados e criar diversas amizades ao redor do mundo.

O que mais impressionou você durante o evento?

Acredito que toda a experiência para além das provas em si tenha sido uma das partes que mais me impressionaram durante minha participação na IOAI, que se mostrou ser uma das experiências mais enriquecedoras que já tive a oportunidade de vivenciar. Durante o evento, tive a chance de conhecer e fazer amizades com grupos e pessoas de diversos países de diferentes continentes. Isso me proporcionou entrar em contato com diversos elementos culturais ao redor do mundo, conhecendo danças, músicas, alimentos entre outros aspectos culturais típicos de cada nação, inclusive, também sempre tentando passar toda a essência da cultura brasileira aos que estavam presentes no evento. Sendo muito significativo conhecer um pouco das cidades que passamos a caminho da competição, bem como a cidade de Burgas, onde foi sediada a competição. Tudo isso me possibilitou desenvolver mais autonomia e independência, gerando aprendizados que levarei para a vida toda, desde conhecimentos técnicas até mesmo habilidades sociais. 

Recebeu convites de trabalho de empresas por conta desta participação?

Até o momento não, mas tenho certeza que ter participado dessa experiência extremamente enriquecedora será muito útil e abrirá diversas portas no mercado de trabalho.

Você se considera um ‘gênio’? Muita gente o chama assim?

Não me considero. Sou uma pessoal normal que busca aproveitar ao máximo as oportunidades que a educação pode proporcionar. Já aconteceu algumas vezes me chamarem de “gênio” e outros adjetivos parecidos, mas sempre gosto de lembrar que sou uma pessoa comum, que gosta de estudar.

Estuda muito? Quantas horas por dia? Qual é a sua rotina?

Atualmente estudo para vestibulares por cerca de cinco a seis horas além do período que estou na escola. Na maioria dos dias tenho aulas das 7h15 até 13h25, após isso, retorno para casa e tenho um período para almoçar e descansar, então, retorno aos estudos realizando pequenas pausas, e também reservando um tempo para jantar e realizar algumas tarefas de casa. Aos finais de semana busco reduzir o tempo de estudo, para poder descansar e passar um tempo com minha família e amigos. Nas semanas que antecederam a competição tivemos uma preparação específica voltada para olimpíada, realizada pelo líder do time – Kristofer Kappel – que treinou a equipe brasileira para a resolução dos problemas que enfrentamos na prova da olimpíada. A preparação incluiu o aprendizado de  técnicas aplicadas em diversas áreas da Inteligência Artificial, que nos proporcionou ter um contato muito mais aprofundado com IA, para resolver problemas reais presentes no desenvolvimento e aplicação das tecnologias no cotidiano.

Existe um temor de que a IA acabará com muitos empregos. Isto é verdade?

Sim, é inegável dizer que a Inteligência Artificial poderá acabar com diversos empregos, mas também também é importante dizer que ela proporcionará o surgimento de diversos outros. O encerramento e a modificação do cenário de empregos é um processo que sempre ocorreu ao longo da história com o surgimento de novas tecnologias, e vai continuar acontecendo, principalmente com o recente avanço da IA, mas analisando o mercado de trabalho atual de um modo geral, a Inteligência Artificial assumirá um papel muito mais ligado a auxiliar e otimizar a realização de trabalhos, ao invés de simplesmente acabar com os empregos, e quem souber utilizar as ferramentas de IA de modo a aprimorar e tornar o trabalho mais eficiente, certamente sairá na frente.

A IA poderá nos ‘emburrecer’?

De um modo geral, acredito que não, mas tudo depende de como a IA é utilizada. Atualmente ela é capaz de analisar uma grande quantidade de informações e fornecer uma resposta rápida para as dúvidas presentes no cotidiano, o que torna muito mais fácil e simples o acesso às informações mais básicas e pode fazer com que algumas pessoas não se esforcem tanto para buscar soluções e não exercitem o pensamento crítico para resolução de problemas. Porém é fato que as IAs ainda não são capazes de resolver e interpretar todos os tipos de problemas e dúvidas, sendo necessário a intervenção humana, mas ainda sim, segue, sendo uma excelente ferramenta que pode auxiliar como complemento na otimização da aprendizagem

Já temos exemplos da IA sendo usada para golpes e fake news. Na sua opinião existe uma maneira de coibir quem usa esta ferramenta para o mal?

Sim, existem diversas formas de coibir o uso dessas ferramentas para o mal. Acredito que o primeiro passo para isso é conhecermos o que é Inteligência Artificial, como ela funciona e do que ela é capaz. Por isso, considero que participar da ONIA é algo de extrema importância, para que a maior quantidade de pessoas tenham a oportunidade de aprender e conhecer mais sobre IA. Também é importante exigir a transparência sobre como as ferramentas de IA funcionam e principalmente como os dados dos usuários são utilizados.

Muita gente diz que a realidade copiará a ficção e que a Inteligência Artificial dominará o mundo, assim como no filme ‘O Exterminador do Futuro’. O que você diria para quem acredita nisto?

Acredito que não há motivos para se preocupar com isso nesse momento. A ideia de que os avanços tecnológicos vão “ganhar vida” e dominar o mundo já existe a muito tempo nos filmes e livros de ficção científica, mas essas ideias só existem porque tudo que é novo causa uma preocupação, e a Inteligência Artificial ainda é algo desconhecido por muita gente, e isso pode causar um certo medo de que ela “ganhará vida e dominará o mundo”, mas isso não passa de um cenário distópico criado pela ficção científica.

Qual o futuro da IA?

É difícil precisar qual será o futuro da IA, mas acredito ser promissor e desafiador. Cada vez mais vemos que as tecnologias ligadas a IA evoluem com mais velocidade, certamente elas estarão ainda mais presentes em nosso futuro, auxiliando nos mais diversos campos da vida humana, seja em aspectos do dia a dia ou até mesmo em grandes aplicações industriais. No entanto, atualmente é preciso estarmos atentos aos debates relacionados às implicações éticas e sociais ligadas a essa expansão dessas ferramentas, para garantir que elas sejam utilizadas de maneira correta e para o bem de todos.

Quais seus próximos passos agora? O que pretende fazer?

Atualmente estou me preparando para realizar os principais vestibulares do país, com o objetivo de ingressar no ensino superior no curso de engenharia da computação. Motivado pelas experiências que vivi nesta edição da IOAI, aproveito para convidar alunos da 8ª série do ensino fundamental e do ensino médio a participarem da 1ª fase da Olimpíada Nacional de Inteligência Artificial (ONIA), que ocorrerá entre os dias 11 e 25 de novembro de 2024. Aqueles que não se enquadram na categoria regular também poderão participar desta fase inicial que não exigirá conhecimentos prévios, mas proporcionará um primeiro contato com conceitos e habilidades de IA, de forma acessível e sem a complexidade que frequentemente a acompanha. Ao final das etapas, os vencedores da ONIA participarão da premiação presencial e terão a chance de representar, em 2025, o Brasil na IOAI em Pequim, vivendo momentos inesquecíveis, assim como eu tive a oportunidade de viver. Também quero agradecer a todos que tornaram possível a participação brasileira na primeira edição da Olimpíada Internacional de Inteligência Artificial (IOAI), uma competição extremamente importante e relevante no contexto mundial contemporâneo, fundamental para revelar e incentivar novos talentos na área de tecnologia, fomentando o desenvolvimento e a colaboração internacional no campo da tecnologia. Em especial, gostaria de destacar a importância do Instituto de Inteligência Artificial do Laboratório Nacional de Computação Científica (IIA-LNCC), que acredita no poder das olimpíadas científicas, reconhecendo-as como um investimento valioso para o futuro do desenvolvimento científico e tecnológico, e viabilizou a participação da delegação brasileira na olimpíada internacional, colocando o Brasil em um grande destaque no cenário global de incentivo à Inteligência Artificial.

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