Sim eu sei. Indo embora é redundância, mas é exatamente o que penso hoje quando tenho a grata oportunidade de compartilhar alguns momentos da vida da minha avó, Dona Maria Magdalena.
Uma palavra para tentar resumi-la: coragem. Assim como tantas outras mulheres que fizeram e fazem história por aí.
Há uns 60 anos botou o marido alcoólatra para correr para que ele deixasse de “beber” o dinheiro que ela ganhava com um esforço tremendo para sustentar seus quatro filhos. Coragem é pouco para defini-la, não é mesmo? Naquela época, mãe solteira de quatro filhos não era moleza.
Tenho certeza que ela sente um orgulho imenso dos filhos que criou (quase) sozinha (minha bisavó Valentina e seus filhos ajudaram muito na época). São pessoas íntegras, batalhadoras, leais e muito unidos, mas agora ela está indo.
Minha avó foi diagnosticada com Alzheimer. Ainda está no comecinho, mas já dá pra perceber ela indo.
Ela foi para um lugar melhor, onde ela é mais feliz e grata a tudo e a todos, mas ao mesmo tempo às vezes se esquece de como traçar a rota do banheiro de volta pro quarto.
Dia desses cismou que a casa onde mora há 30 anos não era dela. Arrumou as malas e estava pronta para sair em busca da casa perdida.
Outro dia não sabia escrever o próprio nome.
Coisas da doença.
Se pensarmos bem, todos nós estamos indo, dia a dia, em direção à morte, desde que nascemos. Um caminho sem volta. As vezes com lombadas, desvios e encurtamentos, mas nunca com retorno.
Fico feliz por poder ainda tê-la conosco e se lembrando de nós, mas me entristece ver o passo a passo dela indo.
Indo para aquele lugar que tememos, pois nos é desconhecido. Temos nossas crenças, eu, por exemplo, sou espírita, mas não me lembro de como é lá, então é natural ter receio, certo?
Por outro lado sou imensamente grata por ter a oportunidade de vê-la indo.
Sentimentos quase dúbios e contrastantes, mas é a mais pura verdade.
Outras pessoas queridas foram abruptamente como meu padrinho Alberto, há mais de 20 anos e meu tio Carlito há 14 anos. Foi como se tirassem um pedaço do meu estômago e do coração ao mesmo tempo.
Repentino. Dramático. Uma ruptura dolorida.
E ir devagar? Não dói? Ah, dói sim.
Minha avó com sua doença recente, meu pai há 18 anos que passou 9 dias na UTI e meu avô Walter (13 anos atrás) que morreu de enfisema pulmonar.
Devagar dói também.
Não sou muito experiente, mas a pouca experiência que tenho nisso me diz: trate cada dia como se fosse o último e as pessoas como se fossem as únicas no seu mundo, esteja perto ou longe.
Isso vai definir como você sentirá saudade deles: com angústia, remorso, gratidão, inconformismo, revolta…..
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Ainda não está na hora de me despedir, mas cada vez que encontro a minha avó, celebro os minutos que ainda temos juntas e procuro guardar cada olhar, cada risada, cada gesto, cada abraço e assim tenho feito com todos ao meu redor, porque aceitando ou não, todos estamos indo.
“Gostaria de dizer para você que viva como quem sabe que vai morrer um dia, e que morra como quem soube viver direito.” (Chico Xavier)
ELAINE FRANCESCONI
Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora. (Foto principal: terceiraidademelhor.com.br)
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