Exibido na seção Generation 14plus, destinada aos adolescentes e jovens, o curta de 24 minutos da alagoana Laís Santos Araújo intitulado Infantaria recebeu o Prêmio Especial do Júri Internacional, de 2.500 euros. Para o júri do Festival de Cinema do Berlim, o foco no tema “ser mulher” foi muito bem abordado de forma complexa, colorida e foi fascinante o apoio mostrado entre elas mesmas na tela.
A história, filmada em Barra de São Miguel no Alagoas, usa a festa de aniversário de 10 anos de Joana, personagem de Ana Luiza Ferreira, para mostrar a urgência da garota em se tornar adulta, as dificuldades da mãe Ludmilla (Ane Oliva) em criá-la praticamente sozinha juntamente com o irmão um pouco mais velho, o Dudu (Francisco Nunes). Este sente falta do pai, que é militar e não está presente, tenta ainda constantemente chamar a atenção da mãe.
A chegada da adolescente Verbena (Karolayne Rayssa) durante os preparativos da festa, que vem nadando num córrego de roupas e chega pedindo sutilmente ajuda da Ludmilla para fazer um aborto, intensifica os dilemas femininos.Enquanto isso Dudu parece abstrair-se cada vez mais num mundo próprio no qual imita o pai, cortando o cabelo como um soldado ou mesmo brincando com uma pistola de plástico.
Cenas surreais coloridas pelos balões e roupas de tons fortes, contrastando com as paredes da casa simples com pintura descascando e cheias de fotos e pôsteres do mundo militar, fortalecidas por momentos musicais típicos de marchas para tropas num momento de combate, deixa várias simbologias para reflexão e provoca constante mistura da realidade e fantasia.
A festa animada dos seus 10 anos faz Joana se sentir princesa, inclusive com a presença do seu “paquera” que aparece na frente da casa montado num cavalo para dar-lhe um beijo debaixo de uma chuva torrencial, deixando ambos molhados e cheios de lama. Os momentos finais da festa e do dia seguinte, com mudanças para Verbena e Joana, reforçam a complexidade do universo feminino.
Infantaria já tinha sido reconhecido em eventos brasileiros. A diretora e roteirista nasceu em 1993 em Maceió e participou com curta Como ficamos da mesma altura do festival de Rotterdam. Ela fez ainda um filme documentário em 2015 chamado Cidade líquida.
O Brasil esteve presente com sete produções nesta Berlinale, três longas, um média-metragem e três curtas, em diferentes mostras do festival. Os longas são A Rainha Diaba (de Antonio Carlos da Fontoura na mostra Forum Special), Propriedade (de Daniel Bandeira na mostra Panorama) e O Estranho (de Flora Dias e Juruna Mallonna mostra Forum). O média metragem é o Quarta-feira de Cinzas ((de Joao Pedro Prado e Bárbara Santos na mostra Perspektive Deutsches Kino) e os curtas são, além do Infantaria, As Miçangas (de Rafaela Camelo e Emanuel Lavor na mostra Shorts) e A Árvore (de Ana Vaz na mostra Fórum Expanded). Foto: Divulgação.

SANDRA MEZZALIRA GOMES
Jornalista jundiaiense em cobertura especial para o Jundiaí Agora. Mora na Alemanha há duas décadas
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