Muito interessante este estudo, realizado no Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP, em Rio Claro. A mestrando Vivian Oliveira desenvolveu uma pesquisa, em seu programa de mestrado, indicando propostas para o uso do Instagram® por parte dos atletas, já que tivemos problemas sérios com a exposição corporal de atletas, durante os Jogos Olímpicos do Rio. É a transformação da comunicação em tempo real. Sigamos o trabalho.
A fotografia evolui ao longo dos anos, e graças ao avanço das tecnologias e ao surgimento de ferramentas como o Instagram, tirar e compartilhar fotos se tornou mais fácil e comum do que nunca, hoje qualquer criança brinca de registrar e postar por meio deste aplicativo, tamanha facilidade proporcionada. E a garantia de ser visto se multiplica a mil, milhões.
O Instagram é um aplicativo de rede social baseada em localização móvel que oferece aos usuários uma maneira de editar fotos, aplicar diferentes ferramentas de manipulação (filtros) para transformar a aparência da imagem e compartilhar instantaneamente com os outros usuários e amigos no próprio aplicativo ou em outras redes sociais, como Facebook®, Foursquare®, Twitter®, etc.; desta forma, este aplicativo mistura o conceito de rede social com câmera fotográfica para celulares ou tablets. E mais: atualmente, o Instagram também permite a captura, edição e compartilhamento de vídeos.
Para utilizá-lo, a pessoa deve criar um perfil na rede social e selecionar os usuários que ele deseja seguir. O Instagram também permite uma certa privacidade aos seus usuários, pois é possível configurar uma conta como privada, trazendo a garantia de que os outros usuários precisem de uma autorização do dono do perfil para segui-lo e, consequentemente, visualizar as suas fotos.
O aplicativo possui uma ferramenta de busca, denominada “explorar” e, por meio dela, é possível pesquisar usuários, hashtags e as fotos mais populares da rede social naquele momento. As Hashtags são palavras-chave antecedidas pelo símbolo “#” que designam um assunto específico, e que no Instagram funcionam como um agrupador de imagens relacionadas a determinado tema, facilitando a disseminação de um tópico e o acompanhamento de um conteúdo.
O Instagram estabelece uma nova dinâmica na sociedade: existe o surgimento de uma nova profissão, denominada instagrammer profissional. Embora ainda pouco conhecida no Brasil, a profissão tem feito sucesso em países como Estados Unidos e Austrália. O instagrammer profissional é contratado por empresas, órgãos, instituições governamentais para promoverem seus destinos, pontos turísticos, marcas e produtos em seu perfil no Instagram, chegando a faturar 12 mil reais por mês segundo informações publicadas por grandes jornais. São pessoas que costumam postar fotos de qualidade, com frequência e possuem uma grande quantidade de seguidores na rede social e, por esse motivo, atraem a atenção desses “investidores”.
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Mas a gente se pega perguntando: no que o Instagram se difere de outras redes sociais? Algumas particularidades fazem do Instagram tão único, que pode ser resumido em duas palavras: fotografia e comunidade. Apesar de outras redes sociais, como Facebook e Twitter por exemplo, também permitirem o compartilhamento de imagens, apenas no Instagram o foco é a fotografia.
Isso fica claro diante do fato que no Instagram não é possível postar sem uma foto ou um vídeo. Os usuários do Instagram não necessariamente se conhecem além da realidade virtual; é comum seguirmos ou sermos seguidos por alguém que mal conhecemos, ou não conhecemos de modo algum. Mesmo assim, estas pessoas mantêm laços entre elas, mesmo que sejam fracos e informais.
O grande número de usuários do Instagram nos mostra a preferência por um processo rápido e dinâmico de disseminação de informações dentro do ambiente social. Além disso, outro chamariz da rede social é a possibilidade de popularização das pessoas que compõem a rede, pois quanto maior o número de seguidores, mais fama e boa reputação o usuário adquire, fato este que aglutina neste aplicativo um conjunto de famosos, de todos os segmentos sociais.
A cultura mobile, aquela que se refere às sociabilidades presentes entre os usuários de dispositivos móveis, faz parte da sociedade contemporânea. Estamos vivendo em uma era onde as tecnologias digitais interativas estão causando profundas e contínuas mudanças na maneira como os indivíduos veem, interceptam e reproduzem as imagens cotidianas.
Na explosão de imagens em todos os espaços sociais que vivenciamos hoje, desde o cinema até o YouTube®, percebemos uma queda de fronteiras entre a imagem real e a virtual. As fotografias são uma condensação de tempos, seres que vivem no limiar entre passado e presente; compara-se as fotografias com fantasmas, pois segundo estudiosos, as fotografias são instáveis, atravessam os tempos, e fazem a mediação entre o que foi, o que é, e o que será. Nas redes sociais, o compartilhamento torna o usuário um produtor de conteúdo.
O verbo compartilhar (do inglês share) desloca o lugar do sujeito, “convidando-o a um constante trânsito de narração de sua própria vida e de seu cotidiano”. O Instragram, como exemplo de uma rede social baseada na imagem, consolida a demanda de visibilidade do sujeito contemporâneo, altera o modelo convencional de se fotografar na era digital e otimiza o processo de edição de imagens. É por isso que o aplicativo possui um grande número de usuários e faz tanto sucesso, crescendo cada vez mais
Nas redes sociais, o papel dos observadores para o sucesso da representação é essencial, uma vez que é por meio deles que há a legitimação da imagem construída. Sem a participação do interlocutor, a identidade e os papeis representados não adquirem a validade necessária à interação. Prova disso é o mercado de seguidores e likes para o Instagram. Possuir seguidores e curtidas na rede social é tão importante para a afirmação dos usuários, que eles chegam a comprar estes “produtos”.
A imagem produzida pelo homem, segundo diferentes concepções e estilos, diz ao homem, em cada época, que homem ele é. Por isso, o fenômeno do Instagram pode explicar muito sobre o ser humano contemporâneo; além disso, as pessoas que não utilizam a fotografia como profissão, costumam fotografar com o objetivo de desbanalizar o banal. Parece ser exatamente esse o objetivo da utilização da postagem de fotografias nas redes sociais, de modo a expandir imagens comuns, nem sempre bem elaboradas, mas expostas e curtidas.
As redes sociais em geral são bastante utilizadas pelos esportistas na atualidade, desde os mais novos até os mais experientes. Para citar um exemplo, a matéria publicada no site O Tempo, em 06 de novembro de 2014, intitulada “Selfies após triunfos épicos viram moda entre os atletas alvinegros” diz respeito as fotos tiradas após as conquistas do Atlético Mineiro e postadas no Instagram pelos atletas.
Também não é raro encontramos notícias referentes a postagens dos atletas em redes sociais. Apenas considerando o Instagram, podemos ver notícias como adivulgada no site UOL, em 17 de novembro de 2014, uma das jogadoras do Brondby, equipe de futebol que disputou o Campeonato Dinamarquês, postou em sua conta no Instagram uma foto com uma montagem, em que parte do time está de costas utilizando apenas a camisa do clube, sem os calções.
Outras são bastante polêmicas, trazendo consequências para os atletas envolvidos tanto em suas carreiras quanto em suas vidas pessoais. Em outro caso recente, o jogador Leroy Fer, do Queens Park Rangers e da seleção holandesa, foi vítima de insultos raciais por meio do Instagram. O atleta postou uma fotografia na rede social, na qual aparece ao lado de oito atletas da mesma seleção.
A foto recebeu comentários onde os jogadores são comparados com macacos e escravos. Diante disso, a Associação de Futebol da Holanda (KNVB) publicou uma nota repudiando com veemência a atitude dos adeptos em relação a selfie publicada por Leroy, gerando uma polemica que trouxe a possibilidade de se indagar a possibilidade e o benefício do uso de um aplicativo com este poder.
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Outro caso que também foi bastante comentado foi o do jogador Hulk, da Seleção Brasileira de Futebol. Após a conquista da Copa das Confederações de 2013, o jogador publicou em seu Instagram uma foto ao lado do zagueiro Réver, onde os dois exibem o troféu dentro do vestiário. Porém, ao fundo da imagem, o goleiro Diego Cavalieri aparece de toalha com o pênis à mostra. Hulk percebeu o problema e apagou a imagem cerca de 20 minutos depois de publicá-la, mas isso não foi suficiente para evitar que ela se espalhasse pela rede.
Segundo notícias publicadas no site Bol Notícias, a foto publicada trouxe problemas para Diego Cavalieri de ordem pessoal, abalando o casamento do jogador. Casos como esses fazem com que os profissionais envolvidos com o esporte se questionem sobre o uso das redes sociais pelos atletas.
Na Copa do Mundo de Futebol de 2010, as seleções da Holanda, Espanha e Inglaterra proibiram que seus jogadores utilizassem o Twitter. Na Copa do Mundo do Brasil, em 2014, o técnico Luís Felipe Scolari, responsável pela seleção brasileira, permitiu que os jogadores utilizassem as redes sociais, porém com alguns limites.
Em julho de 2015, a saltadora brasileira Ingrid de Oliveira postou em seu perfil no Instagram uma foto em que aparece de maiô, e recebeu em sua foto comentários como “Ela sabia que ia provocar os homens”, “Ela quer mídia para sair na Playboy”, “Está querendo aparecer e ainda posa de santa”. Estes são exemplos que nos ajudam a entender a influência das redes sociais nas vidas pessoais e profissionais dos atletas. Diante disso, é necessário saber lidar com estas questões, já que não podemos mais evitá-las; no entanto, a pergunta que nunca quer se calar: quem ensinará nossos atletas a fazer uso das redes sociais com adequação?
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
Docente e coordenador do PPG- Desenvolvimento Humano e Tecnologias da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia.