JULGAR E SER JULGADO: Fundamentos do preconceito

JULGAR E SER JULGADO

Vivemos num país que se diz livre e onde seu povo diz, igualmente, desprovido de todo e qualquer preconceito. Entretanto, no dia a dia, encontramos cenas bizarras, agressivas e de extremo mau gosto, que beiram à barbárie, que revelam o quanto somos preconceituosos e dissimulados diante do diferente. Aqui impera o julgar e ser julgado. E diferente é tudo aquilo que não é justamente aquilo que sou ou que penso ser o correto. Infelizmente esta definição não é regra, mas aponta para a individualidade.

O preconceito é todo baseado e estruturado em minha leitura do “meu” mundo, numa visão bem centrada em mim, em meus valores e minhas opções, sem interferência de outros saberes ou costumes, porque faço opções pessoais e íntimas, para julgar e aquilatar a existência do outro em minha vida. O preconceito é uma opinião desfavorável que não é baseada em dados objetivos, mas que é baseada unicamente em um sentimento pessoal e hostil motivado por hábitos de julgamento ou generalizações apressadas que faço daquilo que me cerca.

A palavra/o sentimento também pode significar uma ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial, que não passou por nenhum crivo coletivo ou de maior capacitação para tanto. Podemos afirmar que é qualquer opinião ou sentimento formatado sem exame crítico, sem rigor algum. Torna-se um sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de minha própria experiência pessoal ou imposta pela experiência vivida em meu contexto social, levando-me à intolerância.

Esta concepção se instala no desenvolvimento individual como um produto das “relações entre os conflitos psíquicos e a estereotipia do pensamento”, indicando que muito dos elementos culturais estão presentes na formação dos pensamentos e ações preconceituosas. E muitos são estes estereótipos: o da beleza, o da raça, do gênero, da classe social, o do credo religioso, da nacionalidade, enfim, são exemplos daquilo que pode gerar uma situação preconceituosa, baseada na estereotipia e cultura, acabando por gerar conflitos internos e dissabores sociais, sendo necessário que saibamos que o preconceito existe em nossa sociedade e afeta de forma decisiva a nossa forma de compreender o mundo, além de ser a causa de depressão, o alcoolismo, a ansiedade, a auto depreciação e a síndrome do pânico, naquele que recebe a discriminação.

É uma possibilidade de potencializar a baixa autoestima e reflete a conexão com o legado cultural do povo, apontando para valores maiores ou menores de engajamento social e bem estar daquela nação, podendo sugerir posições patológicas e a expressividade de comportamentos inadequados. As políticas públicas mais recentes concentram-se no nivelamento para prevenir a discriminação, ainda que pouco consigamos avançar. Tal iniciativa tem diminuído comportamentos extremos, embora ataques a minorias ainda sejam realidades em pequenas e grandes cidades.

Aparentemente os ataques são orquestrados para indicar poderio da uma maioria que se sente agredida pela existência do diferente e que busca demonstrar sua força por meio de violência e insultos que amedrontem o atingido e seus parceiros de confraria. Com isso, a violência do preconceito, além de produzir o isolamento entre os indivíduos, desperta a desconfiança entre os pares e atua como modelo de uma severa autopunição do sentimento de culpabilidade, fazendo com que os indivíduos tornem-se cúmplices do processo social que os engana e violenta.

O preconceito é, em sua composição, uma das mais eficientes e perversas estratégias de controle, de limite e de exclusão sociais, uma vez que a violência das manifestações preconceituosas e diferenciadoras, que configuram a violência simbólica, ultrapassa e machuca as estruturas psíquicas, possivelmente atuando como um episódio traumático. É o suficiente para que o mal esteja perpetuado.

Desta forma, entendemos que se instala no circuito da vida psíquica e ecoa insistente e com certa frequência, numa verdadeira repetição compulsiva de sofrimento (aquilo que denominamos dor psíquica) vindo acompanhada de seus desdobramentos e consequências colaterais. Neste caso, temos aquelas pessoas sem resistência psicológica, que se apresentam fragilmente desarmadas de qualquer possibilidade de defesa que vivem aceitando como suas, as “perversidades” que são difundidas pelas “idéias” doentias, cruéis e preconceituosas. Assumem a tragédia que lhe é associada e passam a viver como se tal atribuo faça parte de si, uma marca da qual tem culpa e, como culpado, deve pagar por esta marca que o distingue dos demais parceiros de caminhada.

O preconceito vai se alastrando na sociedade, excluindo o paciente de seu próprio grupo social e fortalecendo o violentador que se junta a outros demais violentadores, de modo a perpetuar e dar voz às ações bélicas contra os grupos marginalizados. Os ataques tomam vulto e são desferidos em quaisquer espaços e circunstancias alterando as relações interpessoais e suas propostas de vida: é um assassinato simbólico a cada violência.

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Estas violências corrosivas interferem no modo de vida das pessoas que trazem um traço diferente em sua individualidade: o preço em ser diferente diante de pessoas intransigentes e impiedosas que, com seu instinto cruel e doentio, transformam uma vida num sofrimento intenso e mortífero, que aumenta com o passar do tempo. A resistência psicológica vai minando e pouco auxilia no enfrentamento de cada ataque.

Em nossa próxima crônica analisaremos o desenvolvimento deste mal da sociedade moderna, denominado preconceito e sobre o qual, nós, os brasileiros, insistimos em dizer que não o sentimos, mesmo sendo um dos povos mais preconceituosos dos cinco continentes e agindo com atrocidade diante daqueles que não atendem aos nossos conceitos de igualdade. Como disse no início deste texto, e para ficar bem explícito: aqui reina o julgar e ser julgado. O fato de o outro ser diferente é o suficiente para que exerçamos nosso sarcasmo e sadismo, ainda que não admitamos tais ações e discriminações. (Foto: aminoapps.com)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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