O fato é que o advogado era a cara do movimento. Como representante legal das mulheres, ele acompanhava as mães aos programas de televisão e obviamente às audiências com políticos. Os holofotes eram divididos entre as mães e Colagrossi. Elas terminavam as entrevistas chorando. Ele ficava encarregado de dar as explicações jurídicas segundo quem acusa.
Na época, quem não simpatizava com Colagrossi afirmava que ele tentava se beneficiar profissionalmente com a exposição em revistas e programas de televisão, fato que algumas mães entrevistadas nesta série também citaram. Ele foi questionado sobre isto e não respondeu o que acha destas insinuações.
Para quem não viveu ou não se lembra dos episódios da adoções, é bom explicar que Jundiaí ficou dividida. Havia quem defendia ardorosamente o juiz Bethoveen e odiava o advogado. A situação inversa também era frequente. As adoções eram motivo para longas discussões. Na praça, em frente ao Fórum, as mulheres ora recebiam apoio de quem passava, ora eram xingadas.
Hoje, Marco Antônio Colagrossi mora num pequeno apartamento na região do Retiro. É presidente da associação dos moradores do bairro. Aparentemente, a defesa apaixonada pelos direitos das famílias que perderam as crianças para a Justiça não o enriqueceram. Ele guarda documentos, recortes de jornais e revistas referentes ao período em que ficou conhecido em todo o Brasil e também no exterior. Em um deles há a informação de que 42 crianças foram apreendidas pela Justiça de Jundiaí. A entrevista com o advogado:
Como o senhor tomou conhecimento dos casos?
Eu era representante da Ordem dos Advogados, a OAB, no Conselho Municipal da Criança e Adolescente de Jundiaí.
Como se aproximou das mães?
Devido a um caso em que trabalhei a pedido do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMCA) de Sorocaba. A mãe era de lá e a criança morava com os avós aqui em Jundiaí.
Sim. Conversei com o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Nas primeiras conversas, eles não acreditaram no que ocorria em Jundiaí. Acabaram percebendo que era verdade e transferiram o juiz depois de uma correição na Vara da Infância. Com a promotora foi a mesma coisa. Todos transferidos.
Como o senhor analisa o papel da imprensa naquela ocasião?
A imprensa local ficou presa a “convênios”. Mas algumas revistas nacionais deram ênfase. Mídias internacionais estiveram comigo como ABC, dos Estados Unidos;Corriere Della Siera, da Itália; Assai Shimbum, do Japão; Del Spiedel, alemão; Le Monde, da França, entre outros.
O senhor foi processado pelo juiz?
Fui processado e absolvido em todas as ações. Jornais e revistas também. E pelo que sei todos foram absolvidos.
A Assembleia Legislativa de São Paulo apoiou a causa das mães?
Não! Fomos ouvidos, mas não teve continuidade!!
Fomos ouvidos pelo ministro da Justiça, porque estávamos em Brasília. Isto aconteceu porque estávamos depondo na CPI do Judiciário. Fui ouvido no plenário da CPI, juntamente com duas mães. Ao nos ouvir, uma senadora cujo nome não me recordo, chorou…
O senhor e várias mães estiveram em programas de celebridades como Faustão, Xuxa e Ratinho…
Ao ir a estes programas sabíamos que nada seria resolvido por causa da TV. A solução estava no Judiciário. Sempre soube disso e elas também. A ideia era denunciar para o Brasil inteiro, para que nunca mais acontecesse tragédia igual.
Os casos de Jundiaí mudaram alguma coisa no rito das adoções? O que? Como era antes e como ficou?
O que aconteceu em Jundiaí mudou a Lei das Adoções. Ficou proibido separar irmãos e as adoções internacionais de forma imediata. A primeira exigência é de que a criança fique na cidade onde nasceu. Depois, no Estado. Se não for possível, outro Estado. Por último é que a adoção internacional poderá ocorrer. Antes da adoção ou posse do menor, a família de origem tem de ser procurada. Se não houver ninguém para ficar com a criança, aí sim pode ser adotada por alguém de fora da família. Foram essa três modificações baseadas em nosso trabalho aqui em Jundiaí.
A Justiça errou em muitos dos casos?
Houve muitos erros do juiz e da promotora. O principal foi não seguir a Lei das Adoções. Simples…
Vinte anos depois, quais foram seus acertos neste episódio?
Acertei em quase tudo. Joguei minha carreira como advogado num caso que eu tinha certeza que valeria a pena. Não estava em jogo dinheiro e sim a família e os valores do ser humano. Isso me comoveu e me alimentou para que tivesse ânimo a encarar forças tão poderosas. E venci!!! Tenho certeza disto por conta dos acontecimentos que vieram depois. Fui o único advogado de Jundiaí convidado para os 100 anos do Instituto dos Advogados de São Paulo, entidade respeitadíssima no meio. Fui citado no livro do professor Damásio de Jesus, “Tráfico de Mulheres e Crianças no Brasil” (Saraiva, pg. 196/198), pelo meu trabalho no combate ao tráfico de crianças. Portanto minha ação foi profícua, na defesa da família e seus filhos e meu deu muito orgulho como advogado.
E seus erros?
Errei em confiar em falsos amigos, gente hipócrita, falsos moralistas que bêbados pelo poder, não conseguiram ver as injustiças que estavam sendo feitas com as crianças indefesas.
Como vê o fato de agora os jovens quererem reencontrar as famílias biológicas?
Normal as pessoas procurarem seus pais verdadeiros. Todos querem saber suas histórias. Um crime seria impedir isso…(fotos: álbum pessoal)
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