LENDA DA SOBREVIVÊNCIA

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Lenda da sobrevivência era para mim um termo desconhecido, porém é tão verdadeiro.

Lendas urbanas conheço algumas. Uma moça me contou, certa vez, sobre duas araras que denunciaram um criminoso. Segundo ela, o cidadão matara a esposa e a filha em sua cidade de origem e viera para outro Estado. Após alguns anos com nome falso, em um churrasco, surgiram as duas araras e começaram a grasnar “Reco-reco. Foi ele. Reco-reco. Foi ele”. As pessoas o questionaram e ele, em prantos, contou quem era e se entregou à polícia. Segundo ela – e eu concordo -, tudo o que é escondido, uma hora vem à tona. Nossa avó paterna falava aos filhos: “A terra jurou não guardar segredo”.

Lenda da sobrevivência, no entanto, é cruel demais. São tantas a situações dolorosas pelas quais passam determinados seres humanos que, contadas, parecem ficção.

Após ler a expressão fiquei pensando nas inúmeras lendas de sobrevivência que já tive contato. Creio que a primeira delas foi em 1967, nos meus 13 anos, quando me tornei voluntária no Educandário Nossa Senhora do Desterro, para ajudar as meninas nos deveres escolares. Uma delas me contou, com detalhes, que fora abusada sexualmente pelo pai. Tive um impacto. Acreditava, naquela época, que o abusador fosse um desconhecido, que pegasse de surpresa uma criança em um lugar ermo. Como isso? Desprotegida dentro de casa? Pensava que todos os pais fossem como o nosso, de proteção, respeito e ensinamentos para os filhos. Deparei-me, no início da adolescência, portanto, com uma criança indefesa, machucada em seu lar. Que triste. Ficou com bloqueio para a aprendizagem, além de desmotivada. Anos depois, quando já atuava junto a mulheres em situação de vulnerabilidade social, a encontrei embriagada em um bar. Contou-me, em meio a desvarios, que não possuía casa. Dormia em quartos alugados por fregueses. Não soube mais da mãe, dos irmãos e se o pai fora preso. Mudaram-se de Jundiaí. Resistir vagando pelas ruas, pode-se pensar que não é uma história de verdade, mas sim um engodo.

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Crianças com histórias de horror, na infância, podem se desequilibrar, quando jovens e adultas em seus pesadelos.

Um dia desses, uma querida, de fé e esperança, que veio de história de “maremoto”, e busca tudo o que é de Deus para se fortalecer me escreveu exatamente assim:

“O diabo não brinca de ser diabo, mas…

DEUS NÃO BRINCA DE SER DEUS!!!”

Não há dúvida: Deus é Maiúsculo e Misericordioso, capaz de cicatrizar feridas do mal por maiores que sejam.(Foto: Freepik)

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.

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