LFM descarta BRT e diz não ter verbas para alças

Na cerimônia de transmissão de cargo, no dia 1º de janeiro, ao entrar no gabinete destinado aos prefeitos no 8º andar do Paço Municipal de Jundiaí, Luiz Fernando Machado (LFM) abraçou Pedro Bigardi e perguntou: “está tirando o peso dos ombros?”, uma referência clara ao fim do mandato e todas as responsabilidades que o cargo traz. Trinta dias depois, LFM não esconde que já sente o fardo. Ele revela que o sonho de Jundiaí ter um novo hospital está muito distante. Já o BRT, projeto que era a menina dos olhos da administração passada, não sairá do papel, de acordo o prefeito. E para piorar a situação, Jundiaí não tem dinheiro para fazer a sua parte nas obras das alças de acesso da avenida Nove de Julho. LFM acredita que levará os próximos quatro anos para colocar a casa em ordem. A entrevista:

No dia 1º, aqui mesmo nesta sala, o senhor perguntou se Bigardi estava tirando o peso dos ombros. Como estão os seus ombros?
Estão muito pesados pelas dívidas deixadas pelo Pedro. É um peso de R$ 92 milhões. Ele aumentou salários para este ano. Não mexi nos benefícios do setor público. Mas tive de iniciar um processo para reduzir o valor dívida. O Carnaval é um exemplo. A festa não consome recursos altíssimos. Mas são verbas substanciais. A decisão de não fazer carnaval não foi minha. Foi das ligas e das escolas, que só tinham recebido apenas uma parcela do que deveriam. Todos foram unânimes em cancelar a folia porque não queriam ver um carnaval enfraquecido.

O senhor consegue dormir?
Estou dormindo pouco por causa dos muitos problemas da cidade. Chego para trabalhar e fico sabendo que um rapaz foi vítima de latrocínio no estacionamento da Prefeitura. No período da tarde, a cidade é castigada por chuvas fortes e casas são inundadas no jardim Sorocabana. Quem tem um mínimo de responsabilidade pensa nas pessoas que vivem em áreas de risco. As aulas voltam no dia 13. Será que está tudo certo com o esquema de trânsito? Com os professores? É muita coisa! E isto tira o sono. Antigamente quando chovia eu costumava a falar para minha esposa: temos um dia bom para comer pipoca e ver televisão. Hoje, quando começa a chover logo vem a preocupação e tenho de ficar ligando para a Defesa Civil.

Em entrevista ao Jundiaí Agora ontem, o prefeito de Itupeva disse que não consegue entender as dificuldades financeiras da Prefeitura de Jundiaí que tem apenas 5% do orçamento comprometido enquanto ele está com dívidas que somam o orçamento de um ano inteiro…
É bom lembrar que todos os pacientes da alta complexidade de Itupeva são atendidos pelo Hospital São Vicente que fica em Jundiaí. O São Vicente custa entre R$ 14 e 16 milhões por mês. Muito do que ampara a cidade vizinha está aqui. O Marcão Marchi, novo prefeito de Itupeva, foi servidor do Pedro Bigardi. Foi assessor dele e tem obrigação de defender o ex-prefeito.

A antiga administração também projetava construir um novo hospital na cidade…
Em termos da administração pública, não temos condições de investir. A Prefeitura não tem como fazer um hospital novo e custeá-lo. Outras medidas estão sendo estudadas. É o caso das Parcerias Público-Privadas(PPPs), onde leitos particulares são custeados pelo SUS.

Hospital São Vicente: custo mensal entre R$ 14 e 16 milhões, segundo LFM
Hospital São Vicente: custo mensal entre R$ 14 e 16 milhões, segundo LFM

No ano passado foi votado e aprovado um novo Plano Diretor para a cidade. Como o senhor o analisa?
Tenho recebido muitas reclamações referentes ao Plano Diretor de setores que eu nem imaginava. A igreja, por exemplo. A igreja da Colônia comprou terreno no jardim Caçula e não consegue aprovação para construir no local. Moradores com terrenos com frente pequena também não conseguem aprovar seus projetos nem construir. Os Planos Diretores sempre foram focados em interesses privados, imobiliários. Vou me reunir com Ministério Público, associações de bairros e também com os responsáveis pela elaboração deste Plano para entender se os reflexos dele são tão positivos para o Meio Ambiente. Não vou tomar nenhuma atitude unilateral. Tudo será em conjunto. A cidade precisa empresas, de investimentos. E isto passa pelo Plano Diretor. Não vejo menor problema em mudar o Plano se tiver o apoio do Ministério Público.

– Depois de uma série de desacertos, o SOS – entidade que recebe moradores de rua – saiu do Anhangabaú e foi parar literalmente embaixo do viaduto Candelário de Freitas, o viaduto da vila Rio Branco. Moradores vizinhos reclamam de furtos, roubos e até de sexo no meio da rua. O presidente do SOS diz que é humilhante atender pessoas carentes embaixo da ponte. O que o senhor pensa nisto?
Transferir os menos favorecidos para baixo da ponte não é um bom caminho. É preciso dar dignidade para estas pessoas. Elas precisam ser acolhidas. Ainda não deu para pensar em projetos para o SOS. Porém, é preciso encontrar um novo caminho para a entidade que não seja o Anhangabaú ou o viaduto.

SOS embaixo da ponte: vizinhos com medo e carentes dormindo na calçada
SOS embaixo da ponte: vizinhos com medo e carentes dormindo na calçada

– O senhor sempre criticou o subsídio para as tarifas de ônibus. Como está a dívida com as empresas?
As dívidas continuam. Não pagamos a empresa responsável pela coleta de lixo nem as empresas de ônibus. O subsídio do ônibus deveria ter sido muito bem pensado. O cidadão tem a ilusão de estar pagando a tarifa de R$ 3,80 ou R$ 3 de Bilhete Único. Este não é o custo real da passagem. Com o subsídio você tira dinheiro do orçamento. Daí, a administração precisa pagar dívidas do passado e construir alternativas para não aumentar a tarifa, coisa que está descartada. Ninguém aguenta mais aumento.

A administração passada apresentou o projeto do BRT como uma das soluções para a mobilidade urbana. O senhor tocará este projeto?
O BRT vem sendo muito discutido nestes 30 dias de trabalho. Hoje, a tendência é de não levá-lo adiante. O valor orçado é muito menor do que realmente o BRT vai custar. A administração passada não consolidou nenhuma desapropriação. Não havia recursos para isto. Não há verbas também para etapas que cabem à Prefeitura para as obras das alças da avenida Nove de Julho, no Complexo Anhanguera. Se hoje o Estado concluísse a parte dele, o cidadão não poderia usar as alças porque a Prefeitura não tem dinheiro para fazer sua parte. Como posso injetar R$ 150 milhões no BRT se não tenho dinheiro para fazer as alças? Sem contar o projeto do BRT prevê 15 obras de arte (no jargão da engenheira, pontes, túneis, viadutos). Seriam duas pontes estaiadas. Não vou dar sequencia a isto. Não tem lógica. Queria sim ter o dinheiro creditado para usar em outras obras do sistema viário.

Subsído do transporte coletivo: atual administração ainda não pagou as dívidas
Subsídio do transporte coletivo: atual administração ainda não pagou as dívidas

A atual administração está fazendo auditorias?
Todas as dívidas deixadas serão auditadas. Não vou pagar R$ 1 sem controle do que foi feito. Não estamos ainda focados em irregularidades. Queremos saber quem fez o que, como foi feito e como foi o pagamento. Queremos pagar corretamente. Mais adiante podemos fazer auditorias para levantar irregularidades…

Jundiaí receberá novas empresas?
Virão sim. Uma delas terá altíssimo investimento. Uma empresa local será expandida. Só que isto depende do Plano Diretor. Outros empreendimentos ligados à logística também virão assim como pequenas e médias empresas. Uma grande empresa chegará ainda neste ano e gerará 400 empregos diretos. A outra deverá chegar em 18 meses e gerará 90 empregos. E tem de ser assim: ou aumenta receita ou aumenta receita.

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Jundiaí regrediu na sua opinião? É possível mensurar isto?
Sim, regrediu. Dá para medir através da credibilidade. A licitação hoje tem um preço maior pelo custo de pagamento de dívidas. Houve uma quebra da ordem cronologia de pagamento. Antes todos sabiam quando iam receber da Prefeitura. Hoje isto não existe mais. Na antiga administração pagava-se o amigo do rei. Pagava-se quem tinha privilégio. As outras empresas ficavam para trás. Duas UPAs(Unidades de Pronto Atendimento) não foram dimensionadas corretamente. Fizeram o projeto de forma errada. Divulgou-se que era a maior UPA do Brasil. Só que ela não comporta um raio-x no segundo andar. A estrutura não foi dimensionada para o peso do equipamento e das pessoas. Não concluir uma obra é irresponsabilidade. Agora, erro básico de projeto é demais… Diria que os próximos quatro anos serão usados para estabilizar a crise financeira e melhor do serviço público da cidade. O Brasil ainda não está saindo da crise. A receita vai demorar para crescer novamente. Em Jundiaí, dívidas de R$ 100 milhões ficarão em período de carência de 12 meses. No próximo ano iniciaremos pagamentos parcelados em 18 ou 24 vezes. Vou levar um mandato para pagar as dívidas. O pior nem de longe passou. Aqui ainda estamos respirando os ares desta herança maldita deixada pela administração passada.