A professora Joelma Telesi Pacheco Conceição, juntamente com Maurício Lamano Ferreira, produziram estudo sobre a geração de poluentes por lixo orgânico em Jundiaí. O objetivo do trabalho foi entender a prática administrativa frente aos desafios que envolvem seu reaproveitamento através da compostagem ou recuperação energética, observando os entraves presentes na gestão dos resíduos orgânicos na cidade frente às metas estabelecidas pelo governo estadual e pela Política Nacional de Resíduos Sólidos(PRNS), em consonância com entidades internacionais. O que Joelma e Maurício constataram é que embora Jundiaí venha obtendo bom desempenho em várias etapas que envolvem o manejo dos resíduos urbanos, ainda é necessário avançar nas medidas de reaproveitamento do material orgânico encaminhado ao aterro, adequando a infraestrutura sanitária ao crescimento populacional e transformando o modelo de economia linear em circular, a fim de contribuir para a sustentabilidade ambiental local. O Jundiaí Agora conversou com Joelma:
A senhora nasceu em Jundiaí? Por que o interesse nos resíduos orgânicos da cidade?
Moro em Jundiaí há 12 anos, mas meu interesse pelos problemas ambientais começou na infância. Nasci em Salto, cidade que sempre enfrentou desafios relacionados ao grande volume de lixo arrastado pelo rio Tietê, proveniente das cidades ao longo de seu curso. Esse problema impacta a paisagem local e contamina o ambiente. Ao desenvolver meu estudo sobre a geração de poluentes por lixo orgânico, optei por centrá-lo em Jundiaí devido ao interesse do município e ao seu potencial para implementar melhorias nessa área.

Fale um pouquinho da sua carreira…
Sou professora universitária. Sempre atuei na área da educação, tendo iniciado muito jovem, como professora em educação infantil e ministrando aulas particulares para o ensino fundamental e, posteriormente, ministrando aulas no ensino superior. Minha primeira pesquisa na área ambiental foi durante o mestrado em Administração de Empresas, pela Unifaccamp. Na ocasião, estudei o turnover em cooperativas, levantando os desafios e dificuldades enfrentados por aqueles que atuam em cooperativas de resíduos sólidos. Realizei um segundo mestrado na área de Ciências Ambientais (UNG), quando desenvolvi um estudo na área ambiental, desta vez com um enfoque mais regional, voltado para “A Gestão de Resíduos Sólidos Orgânicos na Prática Administrativa de Jundiaí”. Atualmente sou professora componente do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior; editora e colaboradora da Revista Científica RECIMA21 e da revista RECINTER 21.
Quantas toneladas de lixo orgânico são produzidas na cidade?
A cidade de Jundiaí possui uma população de 426.926 habitantes, que descartam, em média, 1,3 kg de resíduos por pessoa diariamente. Isso resulta em um total de 555 toneladas de resíduos por dia. Deste montante, 45% correspondem a resíduos orgânicos, ou seja, quase a metade de tudo que descartamos é material orgânico. Baseando-se neste cálculo, Jundiaí descarta aproximadamente 250 toneladas de lixo orgânico por dia, o que equivale a 91.250 toneladas por ano, considerando 365 dias.
Atualmente, o lixo orgânico de Jundiaí é levado para Santana do Parnaíba. Lá, pelo que sabemos, é transformado em biogás. Mesmo assim, existe a emissão de gases de efeito estufa na nossa cidade? Poderia explicar?
A emissão de gases de efeito estufa pelos resíduos orgânicos se trata de uma consequência natural de efeitos químicos iniciados no processo de decomposição, o que ocorre, muitas vezes, antes mesmo de seu descarte. Nós, brasileiros, consumimos muitos alimentos orgânicos pela cultura alimentar e geramos muitas sobras, parte dos alimentos são desperdiçados desde a etapa de colheita, durante o transporte, manipulação e até no preparo inadequado dos alimentos. Ao ser coletado e encaminhado para o aterro, a geração de gases poluentes pela decomposição dos orgânicos continua, e se os poluentes gerados (gás carbônico e metano, entre outros) não forem captados e utilizados como fonte energética, além do desperdício deste recurso, contribuirão de forma mais intensa para o aquecimento e consequente mudança climática. Infelizmente o trabalho de recuperação energética realizado pelo aterro sanitário de Santana do Parnaíba, até o momento da pesquisa, não constava no material divulgado pela CETESB. Isso significa que essa iniciativa, se acontece deve ser muito recente ou inexpressiva.
Dá para saber quanto gás de efeito estufa Jundiaí manda para a atmosfera por dia ou mês ou ano?
Sim, é possível estimar a quantidade de gás de efeito estufa gerado a partir do volume de resíduos orgânicos descartados pelo município, e esse foi um dos objetivos da minha pesquisa. Para o estudo, foram realizados diversos levantamentos com base em dados da Prefeitura de Jundiaí e do IBGE, chegando à estimativa de 91.250 toneladas de material orgânico coletadas anualmente. Considerando que cada tonelada desse material equivale a aproximadamente 250 m³ de gás metano, o município gera cerca de 22.812.500 m³ de metano por ano. Vale lembrar que o metano é apenas um dos gases que contribuem para o efeito estufa, mas também pode ser aproveitado como biogás para geração de energia.
Quais os entraves presentes na gestão dos resíduos orgânicos na cidade?
Em Jundiaí, a coleta de resíduos abrange a grande maioria do município, existe coleta seletiva e até um percentual de aproveitamento de resíduos secos, mas no que se refere aos lixo orgânico, as iniciativas ainda são insuficientes e a destinação dada ao material coletado não resulta no aproveitamento de seu potencial energético. O município ainda não encontrou uma região em seu território para a instalação de aterro sanitário, nem mesmo adota uma iniciativa significativa de reaproveitamento da fração orgânica coletada dos domicílios.
Com a quantidade de lixo orgânico quanta energia seria produzida?
Até o momento da pesquisa, a única iniciativa identificada de reaproveitamento de material orgânico no município está relacionada à empresa responsável pela limpeza de jardins, que reutiliza parte dos resíduos coletados, como galhos, folhas e cascas de troncos. Esse material é fragmentado, reduzindo seu volume e gerando cepilho, um adubo utilizado como cobertura de solo em canteiros e projetos paisagísticos. Essa prática contribui para a diminuição da quantidade de resíduos destinados à coleta pública, reduzindo custos com transporte e otimizando o espaço em áreas de tratamento e disposição, prolongando a vida útil dos aterros sanitários. Segundo o inventário da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, em 2021, Jundiaí não possui uma Unidade de Compostagem, encaminhando os resíduos orgânicos domiciliares para uma área de transbordo e, posteriormente, ao aterro sanitário de Santana do Parnaíba. No entanto, esse aterro recebeu o conceito 5 da Cetesb, classificado como inadequado. Embora o relatório não detalhe os motivos desta avaliação, esse aspecto merece atenção especial, considerando a necessidade de medidas de controle ambiental em aterros sanitários e revelando falhas quanto ao reaproveitamento energético. Caso o metano gerado pelos resíduos orgânicos de Jundiaí fosse aproveitado como biogás, seria possível gerar, em média, 30 MWh de energia elétrica, suficiente para atender cerca de 50 mil habitantes por ano, o que corresponde a 12% da população. De acordo com dados do Instituto Cidades Sustentáveis (2020), o consumo de energia na área urbana é de aproximadamente 200 MWh/mês, valor que tem crescido devido ao aumento populacional e às elevações de temperatura registradas nas últimas décadas. Assim, além dos benefícios ambientais, a valorização energética dos resíduos orgânicos contribuiria significativamente para a sustentabilidade energética da cidade.
A implantação da compostagem e da recuperação energética são caras? Em quanto tempo o custo estaria coberto?
Qualquer iniciativa que envolva tecnologia demanda investimentos financeiros. No entanto, os custos associados ao reaproveitamento energético são amplamente compensados a longo prazo pelos impactos ambientais e sociais positivos. Além de contribuir para a preservação ambiental e a melhoria da qualidade de vida e da saúde da população, tais iniciativas também beneficiam o bioma local. Ademais, a implementação dessas soluções pode fomentar a geração de empregos e renda, promovendo o desenvolvimento socioeconômico sustentável.

Quais sugestões a senhora daria para avançar nas medidas de reaproveitamento do material orgânico, adequação da infraestrutura sanitária e transformação do modelo de economia em circular?
Entre as iniciativas viáveis, tanto financeira quanto tecnologicamente, algumas cidades vêm implementando programas de capacitação abrangendo bairros e comunidades para o reaproveitamento de resíduos orgânicos na produção de adubo por meio da compostagem(foto principal). Esses programas ensinam a população a reutilizar materiais orgânicos que seriam descartados, transformando-os em nutrientes para o cultivo de alimentos e flores, seja em hortas caseiras ou em espaços comunitários. Além disso, uma estratégia ainda mais sustentável, a ser adotada pelo poder público, é a produção de biogás. Quando gerado em aterros sanitários, o biogás pode ser captado, conduzido por tubulações até uma unidade de geração de energia e convertido em energia térmica ou elétrica, contribuindo para o abastecimento da região e a otimização dos recursos naturais. No que diz respeito ao foco do meu estudo, a emissão de gases de efeito estufa provenientes de resíduos orgânicos, identificou-se que Jundiaí enfrenta desafios significativos na mitigação da emissão de CO₂ per capita. Em relação à produção e ao consumo sustentáveis, há obstáculos na recuperação dos resíduos sólidos urbanos coletados seletivamente. Esse cenário reforça a necessidade urgente de desenvolver alternativas para a reutilização e reciclagem dos resíduos gerados, especialmente os orgânicos, para os quais ainda não há iniciativas expressivas em andamento.
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