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A reação PRIMITIVA do corpo à perda e ao luto

É possível viver toda uma vida (média de 75,4 anos, segundo o IBGE de 2014), sem sofrer alguma perda? Algum trauma? Viver sem riscos é sorte para poucos. Estima-se que 90% da população mundial vivenciará, pelo menos, um evento traumático ao longo da vida. Superar essa situação ou ficar marcado por ela determina o limiar entre estresse e trauma. E como o corpo reage às perdas e ao luto? De uma forma bem primitiva, devo avisar.

Lá nos primórdios da evolução humana foi necessário, ou melhor, foi imprescindível que os animais desenvolvessem mecanismos fisiológicos que os habilitassem a decidir, rapidamente, o que era mais vantajoso em uma situação de risco: lutar ou fugir. Fisiologicamente esse mecanismo, hoje, é largamente conhecido e denominado de reação de “luta ou fuga”. Para todos os indivíduos há uma resposta mais ou menos padrão e que passo a relatar.

Em situações adversas, a região central do cérebro, controladora das emoções, fica em estado de alerta e dispara uma espécie de sinal para o restante do corpo. É liberada a adrenalina, uma substância que aumenta a frequência cardíaca e faz com que o sangue chegue mais rápido aos músculos.

A respiração acelera e o corpo fica mais ágil e oxigenado. O cérebro libera, ainda, um hormônio chamado ACTH, que aciona a glândula suprarrenal (acima dos rins) que, por sua vez, provoca a liberação de cortisol. Esse hormônio faz com que o organismo tenha uma resposta mais prolongada, além de aumentar a produção de glóbulos brancos e anticorpos, reforçando o sistema de defesa. Com o metabolismo completamente modificado, a pessoa fica mais preparada para um momento de luta ou fuga.

Depois desse começo um tanto primitivo, entra em cena um elemento complexo e demasiadamente humano: a memória. Quem passa por uma situação adversa pode seguir sua vida sem ser afetado por aquele acontecimento ou ser traído pelas lembranças. A recordação recorrente do fato estressor faz com que, por alguns dias, o corpo retome algumas reações fisiológicas relacionadas à ocorrência, como fadiga, tensão muscular, sobressaltos, taquicardia, náuseas e perda de apetite. A persistência de sintomas como esses configura o trauma.

Algumas pessoas, após um evento potencialmente traumático, passam a reviver aquela experiência em diversos graus, mas, a maioria se recupera. É o que chamamos de resiliência, no entanto, por motivos que a ciência ainda busca a razão, uma pequena parcela das pessoas traumatizadas, em torno de 20%, não consegue superar um trauma. É aí que ele começa a se tornar um risco à saúde, desencadeando transtornos psicológicos.

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Existem múltiplas relações que podem incomodaro ser humano submetido a uma situação desesperadora: a falta de dinheiro, a certeza da ausência, a sensação de finitude, a impotência diante de uma doença ou acidente e, seja qual incomodo for, há a necessidade da aceitação da nova situação, de adequação.

Considerando que a única certeza em nossa vida seja a finitude, a morte assusta e brutaliza quando a perda é de alguém próximo e/ou amado. O assunto morte, em nossa sociedade é quase um tabu, amedronta e escandaliza, enquanto a nossa cultura gratifica e reforça a vida.

Mas a morte, não faz parte da vida?

Luto e morte não se referem apenas ao passamento físico, mas, nos arremete a algo que finaliza. É preciso falar sobre isso, sem preconceitos, sem dramatizar demais, apenas aceitando como parte integral da vida. Eu costumo falar sobre a morte com os meus alunos, como uma prerrogativa de estar vivo, afinal só morre quem está vivo, não é mesmo?

Almejamos a felicidade constante como projeto de vida e esquecemos que a morte/perda, faz parte desse esquema, portanto, não devemos viver ignorando a presença constante do desenlace.

Algumas culturas ficam festivas com a morte e tristes com o nascimento. Exatamente o oposto da realidade cultural que vivenciamos, por isso, soa estranho entender por que eles celebram a morte.

A separação que a morte provoca, acredito, seja a parte mais difícil desse processo. O não poder mais conversar, pegar conselhos, rir ou chorar juntos, digladiar e outros. O simples fato de assistir a um vídeo ou ver fotos do falecido causa um choque orgânico naqueles que ficaram. E a dor se replica retumbando em nossas consciências e maltratando nossos corações.

O processo de retomada é delicado, difícil e doloroso, mas, necessário e natural. Negamos, nos revoltamos e tentamos negociar de toda maneira possível para termos de volta o ser que resolveu partir, sem despedida. Por derradeiro, internalizamos que algo mudou e que precisamos nos adequar a uma nova realidade. No processo de aceitação entra em jogo o conjunto de crenças e de percepções do enlutado. O apoio familiar, bem como, a ajuda da rede social (não me refiro às mídias sociais), será, fundamentalmente, de real importância durante o doloroso percurso.

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Ignorar esses sintomas não fará com que desapareçam, eles continuarão mais presentes e vivos do que nunca. Algumas pessoas afetadas pela perda de um ente querido, dizem que não se trata apenas de uma figura de linguagem: elas confirmam vivenciar essas sensações fisicamente. São considerados como subprodutos da perda: o estômago revirado, coração acelerado, tremedeira, flashbacks e hipersensibilidade ao barulho, entre outros, segundo a Sociedade Psicológica Britânica.

 

Mas, como as pessoas costumam reagir de formas diferentes ao luto, ainda não há uma lista uniforme de sintomas. Pesquisadores mostraram que a parte do cérebro que lida com a dor física (o córtex cingulado anterior) também processa a dor emocional (testes realizados pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA)). É recorrente relacionar sensações ruins a dor no peito.

Esses são os sintomas da “síndrome do coração partido”, ou cardiopatia de Takotsubo, algo que, geralmente, ocorre após um “significante estresse emocional ou físico”, segundo descrição da Fundação Britânica para o Coração (BHF, na sigla em inglês). Um estudo do Imperial College London sugere que isso se trata, na verdade, de um mecanismo de defesa do coração ao se deparar com uma onda muito forte de adrenalina que costuma acompanhar situações de choque e luto.

A dor da perda, portanto, é real, é física e nada e nem ninguém é capaz de tirar isso de si mesmo, nem de outra pessoa. É necessário vivenciar, elaborar e aceitar como parte do ciclo da vida, no tempo de cada um. Meu padrasto, que tanto colabora em meus textos, deixou sua contribuição para esse tema, pois, assim como eu, sofreu a perda de uma de suas raízes: nossos pais deixaram saudade em épocas diferentes. Curiosamente, o pai dele alçou voo em direção ao céu no mesmo dia que um anjo desceu na terra: meu filho mais velho nasceu no mesmo dia e horário que seu pai nos deixou. Para ele uma grande alegria somada a uma grande tristeza.

Seu recado de acordo com sua experiência:

“O tempo, senhor de tudo, ajuda a amenizar a dor, transformando-a em saudade gostosa por trazer, vez por outra, à mente, lembranças das coisas boas vividas com o ente que, de imprevisto, resolveu partir”.

O que aprendi com a perda: beije hoje, trate bem hoje, agrade hoje, abrace hoje, elogie hoje, não perca oportunidade alguma de dizer que ama, porque amanhã, eu ou você poderemos ser chamados para outra missão e perderemos a chance de trazer prazer e felicidade um ao outro. (foto acima: www.fasdapsicanalise.com.br)


ELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora

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