Lyara Oliveira tomou posse como presidente da SPCINE recentemente. Ela é nascida e criada em Jundiaí. Morou na Bela Vista e estudou no Divino Salvador. A SPCINE é a empresa de cinema e audiovisual de São Paulo, que atua como um escritório de desenvolvimento, financiamento e implementação de programas e políticas para os setores de cinema, TV, games e novas mídias. Uma das primeiras ações de Lyara como CEO da SPCINE foi participar do Festival de Cinema de Berlim, onde produções brasileiras foram premiadas. O Jundiaí Agora conversou com Lyara nesta sexta-feira(28), um dia antes da cerimônia do Oscar. Confira:
Você nasceu em Jundiaí, Lyara?
Sim, eu nasci em Jundiaí. Meu avô materno era militar e a família dele passou por várias cidades. Jundiaí foi o último lugar, foi o último posto que meu avô serviu. Depois que ele entrou na reserva eles optaram por permanecer em Jundiaí. A família do meu pai é de Minas Gerais. Ele e a minha mãe se conheceram na faculdade e depois que casaram resolveram morar em Jundiaí. Então eu nasci em Jundiaí, fui criada aqui na cidade, estudei toda a minha vida inicial em Jundiaí e saí da cidade quando eu tinha por volta de 18 anos. Passei na faculdade e aí fui morar fora e depois disso eu nunca mais morei longos períodos em Jundiaí. Meu vínculo com a cidade permanece até hoje. Visito minha família algumas vezes por mês. Meus pais moraram no centro e depois no Vianelo. Porém, a minha principal lembrança de infância é do jardim Bela Vista. Moramos um bom tempo na rua Manoel Pereira de Arruda. Estudei no Colégio Divino Salvador. Sou fruto do Divino com muito orgulho. Depois fiz faculdade em Bauru. Eu me formei na Unesp.

Quando nasceu a paixão pelo cinema ou foi por acaso que começou a trabalhar na área?
A minha paixão por cinema vem da infância. Eu sempre gostei de história, sempre gostei de narrativa, sempre gostei muito de literatura, literatura era uma das minhas matérias preferidas no colégio. Sempre gostei muito de contação de histórias. Sou de uma geração que já nasceu assistindo televisão. A minha família tinha o hábito de ir ao cinema. Fui muito no Marabá e no Ipiranga. Quando era criança Jundiaí não tinha shoppings.
Lyara, você trabalha na área burocrática do cinema. Nunca pensou em estar na frente das câmeras?
Fiz o curso de comunicação voltado para o rádio e televisão. Meu primeiro trabalho foi numa produtora que fazia muito conteúdo publicitário e conteúdo institucional. Mas um pouco depois de formada, quando eu passei o processo seletivo da TV Globo, fui trabalhar na emissora e a partir daí estive sempre muito envolvida com criação ficcional para audiovisual. Depois da Globo, por uns 11 anos, segui fazendo coisas no cinema, sempre trabalhando dentro desse espectro da contação de histórias, de narrativas e, ao mesmo tempo, gostando muito também de artes visuais, de artes plásticas. Nunca pensei em atuar. Fiz teatro durante um tempo, mas eu fiz teatro exatamente para saber dirigir, para entender mais sobre interpretação, entender sobre técnicas de interpretação, como lidar com o elenco, com equipes. Até tive algumas oportunidades de estar na frente das câmeras, mas o meu foco profissional mesmo sempre foi fazer a produção.
Você é mulher e negra. Sofreu preconceito durante a carreira?
Muito, sofri muito preconceito durante a carreira, muita discriminação e sigo sofrendo. Mesmo hoje estando na gestão pública, num cargo alto da gestão pública, sigo sofrendo preconceito. A cor da minha pele sempre chega primeiro. É uma questão que independente de onde você está, em que posição você esteja, é sempre uma situação que se coloca. E eu passei por isso durante toda a minha vida, pessoal e profissional.
No ano passado você assumiu a presidência da SPCINE. Como recebeu o convite? Ficou surpresa, Lyara?
Bom, eu ter assumido a presidência da SPCINE não foi uma surpresa, porque, na verdade, foi resultado de uma construção de um trabalho que vinha sendo feito. A minha surpresa foi quando eu fui convidada a vir para a SPCINE, em 2021. Naquela época assumi um cargo de diretora executiva. Foi um grande desafio. Eu estava acostumada a trabalhar no setor audiovisual. Já fazia um acompanhamento das políticas públicas, mas sempre como sociedade civil, fazia parte de uma associação de profissionais do audiovisual, de profissionais negros também do audiovisual. Eu já tinha um entendimento sobre as políticas públicas, mas eu não tinha uma experiência em gestão pública. A minha experiência era de direção, de produção executiva e de gestão de projetos, que era algo que eu já estava fazendo. Quando veio o convite para assumir um cargo na gestão pública foi uma surpresa. Eu sabia que eu era uma pessoa capacitada e estava recebendo aquele convite porque eu teria muito a agregar, muito a trazer da minha experiência profissional, de anos trabalhando com o audiovisual, produção publicitária, produção independente do cinema e chegando até as grandes produções televisivas da TV Globo. Tenho uma experiência vasta e até rara no setor audiovisual, porque, em geral, as pessoas ficam focadas numa parte dentro do setor. Ou sempre trabalham com publicidade, ou sempre trabalham com produção independente, ou trabalham em televisão.
Acha que a Prefeitura de Jundiaí também poderia ter uma SPCINE?
O que eu acho importante é que exista dentro do governo, dentro das gestões municipais, uma preocupação ou um olhar atento para o setor audiovisual, para a produção audiovisual. Então, Jundiaí é uma cidade onde existe uma produção audiovisual significativa. Em geral, é uma produção audiovisual que é focada na TV. Jundiaí tem uma vocação para a produção audiovisual local. Vejo, por exemplo, a possibilidade de se incentivar os jovens a produzirem curtas-metragens, a produzirem. Fomentar os talentos! Acho que isso também é uma possibilidade. Acredito que é importante que as gestões municipais estejam atentas a essas questões das possibilidades que o setor audiovisual traz. No caso de Jundiaí não precisaria ter o negócio. Eu acho que o importante é que haja um programa, haja uma coordenação, haja um foco de atenção da gestão pública para as potencialidades que o audiovisual traz.

Recentemente você esteve no Festival de Berlim. Como foi sua participação, Lyara?
Nós fizemos uma missão para Berlim. Na verdade, a SPCINE não vai para uma participação no festival propriamente dito. A gente foi para uma participação no mercado que acontece paralelo ao festival. Então, ao mesmo tempo que os grandes festivais estão ocorrendo, sempre acontece um evento de mercado audiovisual. E é com foco nesse mercado que a SPCINE programa as suas missões. Ao mesmo tempo que acontecia o Festival de Berlim era também realizado o European Film Market que a SPCINE teve um estande. Um pouco do nosso trabalho foi mostrar para os grandes estúdios, para as grandes distribuidoras, que São Paulo é uma cidade atrativa para se fazer negócios do audiovisual. Apoiamos quatro filmes e duas séries que foram selecionados para o festival. Tivemos projetos apoiados pela SPCINE que receberam prêmio em dinheiro. Enfim, então, o resultado foi extremamente positivo dessa missão.
Como analisa o efeito ‘Ainda Estou Aqui’? Você teria feito uma palestra no Festival de Berlim se este filme brasileiro não estivesse sendo aclamado no mundo inteiro?
Com relação a ‘Ainda Estou Aqui’, Berlim é a primeira missão internacional que participamos neste ano. Lá, o filme estava sendo muito comentado. Toda vez que começávamos uma conversa era inevitável mencionar ‘Ainda Estou Aqui’. O filme realmente está causando um impacto muito positivo. Está impulsionando o interesse pelo cinema brasileiro. Porém, o sucesso dele não é isolado. É fruto de uma construção, é fruto de um trabalho que vem sendo desenvolvido no Brasil que é de fortalecimento do setor audiovisual, de entendimento do setor audiovisual como uma indústria potente que tem importância gigantesca em termos de produção de capital simbólico. Ou seja, é importante que o Brasil produza as suas imagens e faça com que essas imagens circulem o mundo. Este é um setor muito importante economicamente, que gera emprego e renda. Este setor ganha com ‘Ainda Estou Aqui’.
Lyara, como o Brasil pode aproveitar este sucesso estupendo?
Temos que aproveitar toda essa comunicação espontânea que realmente gera um interesse maior nos conteúdos brasileiros e continuar entregando conteúdos. Acredito que os resultados de Berlim já mostram isso. Se a gente for lembrar, o ‘Central do Brasil’ que depois se tornou um grandíssimo sucesso, começou ganhando o urso de ouro em Berlim. Toda a a minha torcida de coração, de corpo e alma, está com ‘Ainda Estou Aqui’ nas três categorias em que o filme foi indicado. E eu realmente acredito que ele tem chances nas três categorias. (Foto principal: Sandra Gomes)
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