Nos alvores do século XIX a Maçonaria se destacava como uma organização subversiva, que visava a derrocada dos tronos e a implantação da nova ordem ditada pelos ideais de liberdade brotados no seio da Revolução Francesa.
Dividia-se em dois ritos: o azul ou escocês e o vermelho, ou francês, que, compartilhando os mesmos ensinamentos esotéricos, divergiam no que se refere à sua aplicação no mundo. Enquanto o rito azul defendia a monarquia constitucional nos moldes da existente na Inglaterra como forma de governo, o rito vermelho pregava o sistema republicano.
Dotada de uma estrutura descentralizada, baseada em Lojas, que passaram a se espalhar pelo mundo, as intervenções maçônicas nos países em que se almejava a implantação de governos democráticos, foram muito bem articuladas e, na maioria das vezes, eficazes.
A partir das experiências bem sucedidas da Europa e dos Estados Unidos, uma nação fundada por maçons ― dos 56 congressistas que assinaram a Declaração de Independência, 50 eram “Irmãos”, aí incluídos Benjamim Franklin e George Washington ― os agentes maçônicos passaram a promover a divulgação das novas idéias pelas chamadas “zonas quentes” do planeta, em que se destacavam as Américas Espanhola e Portuguesa, em movimentos muito bem planejados.
A História está repleta de exemplos destes valorosos Irmãos, como o do General francês Labatut, que, nascido na cidade francesa de Cannes, serviu no Exército de Napoleão Bonaparte, lutou contra os ingleses nos Estados Unidos e auxiliou Simón Bolívar, na independência da Venezuela.
Desentendendo-se com Bolívar, também ele um maçom, Labatut veio para o Brasil, onde, por sugestão do importante líder maçônico do Rio de Janeiro Frei Francisco Sampaio a José Bonifácio ― outro Maçom e Conselheiro de D. Pedro I ― foi designado para comandar o exército brasileiro na Bahia, na guerra contra os portugueses, que perdurou por um ano e cinco meses, culminando com a expulsão dos lusitanos. Narra o historiador Neill Macaulay que, antes de embarcar para a Bahia, Labatut prestou juramento no Rio de Janeiro, em sessão do Grande Oriente.
Outro maçom que se destacou nas lutas pela divulgação das idéias democráticas foi o português João Guilherme Ratcliff. Homem viajado e conhecedor de várias línguas, Ratcliff foi um dos líderes da Revolução Liberal do Porto de 1820, tendo redigido, em 1821, o decreto de banimento da rainha Carlota Joaquina, que se recusara a prestar juramento à Constituição liberal, quando da volta de D. João VI do Brasil.
Em 1823, após o golpe absolutista de D. Miguel, irmão mais novo de D. Pedro I, Ratcliff fugiu de Portugal, passando pela Inglaterra e Estados Unidos, e terminando por aportar em Pernambuco, uma das maiores províncias do Império, com 278.000 Km², com território do tamanho do Rio Grande do Sul e pouco inferior ao do Maranhão, onde efervesciam as idéias republicanas, que objetivavam a extinção da Monarquia.
A Maçonaria se fazia presente em Pernambuco desde 1796, ano da fundação da Loja denominada Aerópago de Itambé, pelo padre carmelita maçom Arruda Câmara, médico formado pela Faculdade de Montpellier e grande defensor do ideário político da Revolução Francesa.
Fomentado pela Maçonaria vermelha, estabeleceu-se ali um movimento republicano federalista integrado por comerciantes e usineiros que já se tinham rebelado contra D. João VI, na Revolução de 1817 e temiam que a opressão da Coroa Portuguesa fosse simplesmente substituída pela de um Governo tirano, baseado no sul do país. Com a dissolução da Assembléia Constituinte por D. Pedro I, este grupo proclamou a “Confederação do Equador”.
Combatidos pelas tropas imperiais, os revoltosos foram derrotados e, juntamente com Ratcliff, que participara ativamente do movimento, enviados presos ao Rio de Janeiro, onde, por ordem de D. Pedro I, foram “breve, verbal e sumarissimamente sentenciados”. Ratcliff foi condenado à forca, tendo sido executado em 17 de março de 1825. Segundo versão nunca comprovada, por ordem de D. Pedro I, sua cabeça teria sido salgada e enviada secretamente à sua mãe, Carlota Joaquina, a título de vingança pelo decreto de banimento de 1821.
São de se citar, também, os três grandes libertadores da América Espanhola: Simón Bolívar, Bernardo O’Higgins e José de San Martin, que frequentaram a mesma Loja em Londres, a “Gran Reunión Americana”, fundada pelo venezuelano Francisco de Miranda, este último ex-colega de George Washington na Loja Alexandria, situada na Filadélfia.
Enfim, a Maçonaria, como uma escola de civismo e disciplina, esteve presente de forma vigorosa em todas as grandes transformações políticas ocorridas no Mundo nos séculos XVIII e XIX. (Ilustração: www.banquetemaconico.com.br)
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