Envelhecer é um processo fisiológico como qualquer outro, mas acredito ser o mais incômodo, pois, o acompanhamos desde o nascimento, a não ser que seja uma aberração da natureza como o protagonista do filme “O curioso caso de Benjamin Button”, que nasce idoso e rejuvenesce à medida que envelhece para, depois, voltar a envelhecer e morrer.
Fiquei com muita pena dele. Numa única vida foi velho duas vezes. Para mim, uma vez basta.
O envelhecimento nos traz amadurecimento e sabedoria ao mesmo tempo em que maltrata a jovialidade. Já, a maturidade nos ajuda a aceitar esse processo. Ou não.
Fico pasma em acompanhar minimamente a TV e, mesmo assim, notar o quão deformado ficam alguns atores (menos que as atrizes) ao tentar combater com unhas, dentes, tintas, plásticas, 300 idas semanais às clínicas de estética, o sucessivo processo de envelhecimento.
Não que seja, mas deveria ser natural a aceitação, também. Não adianta negar, o tempo é inclemente e, como um rolo compressor, não perdoa ninguém, sendo deuses televisivos ou não.
Nesse processo de acompanhar o ciclo da vida se repetindo a cada nova geração, a mulher idosa tem sabedoria suficiente para, neste momento da vida (se não for apegada demais à juventude), auxiliar as novatas, dando equilíbrio, passando a tranquilidade de que tudo é passageiro: os choros, os tombos, as notas ruins na escola, a primeira namorada, a primeira faculdade, a primeira noiva, enfim, nada é definitivo.
Graças a Deus nada é imutável, senão como poderíamos evoluir e nos tornar pessoas melhores?
Experiente e mais sábia, a mulher distingui entre o bem e o mal, diferenciando os amigos daqueles não tão amigos. O que quer e o que não quer. E, assim, como nos tempos antigos, muita sabedoria passa de mãe para filha/filho e a humanidade só tem a ganhar com isto.
Alguns estudiosos afirmam que a maturidade faz muito bem às mulheres, que o auge de sua beleza é em torno dos 31 anos e, à medida que envelhece, ela fica mais bonita. Penso que não no sentido literal desta palavra, mas, pela combinação de confiança, estilo e personalidade que ela adquire com o decorrer dos anos.
O envelhecimento não é um processo unitário, não acontece de modo simultâneo em todo o organismo e, nem está associado à existência de uma doença. Estima-se que o ser humano esteja “programado” para viver entre 110 e 120 anos e, em alguns países, isto vem acontecendo com bastante frequência, como é o caso da China e do Japão.
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Li uma matéria interessante a este respeito, noticiando que, no Japão, chegar aos 100 anos de idade significava receber um cheque no valor de 8 mil Ienes (cerca de 58 euros). A esperança do aumento da média de vida no país (em torno de 88 anos) levou o governo japonês, em 2015, a suspender o premio monetário aos seus cidadãos centenários, alegando que o número de pessoas a completar um século se multiplicava, tornando-se um fardo na economia do país. Hoje o Japão tem mais de 60 mil idosos nessa faixa etária, sendo 87% deles, mulheres.
Notei isto na minha família, também. Há aproximadamente seis anos, foi possível registrar cinco gerações em minha família. Meus filhos conheceram a sua tataravó, que morreu em decorrência da velhice. A máquina parou.
As mulheres vivem mais e melhor. Trata-se de mais um caso biológico ou pura coincidência?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) confirma este dado e a Organização das Nações Unidas (ONU) afirma ser um fato de ocorrência universal. Estatisticamente, de acordo com o IBGE, as mulheres vivem quase 10 anos mais do que os homens que, na sua maioria, morrem de formas violentas, além de nutrirem verdadeiro pavor de médicos. Confessem!!
Em priscas eras, ouvi alguém vaticinar: “Só não fica velho quem morreu novo”, a mais pura realidade.
Um marco que identifica a chegada da velhice, para as mulheres, é a menopausa ou climatério. Significa que ela passou da fase reprodutiva para a fase não reprodutiva (descrição dada pelos livros de fisiologia) processo que deve se iniciar por volta dos 40 anos e ter sua conclusão em tempo indefinido.
Mas esta fase significa muito mais do que apenas deixar de reproduzir.
Significa liberdade e, em alguns casos, depressão. Os dois sintomas diretamente relacionados à falta de estrógeno, hormônio feminino produzido pelos ovários. Diante da falência ovariana fisiológica, conhecida como menopausa, os órgãos deixam de produzir o referido hormônio.
Pesquisas nessa área indicam que o estrogênio tem um papel cardioprotetor na mulher, ou seja, ela tem menos episódios de doenças cardíacas do que os homens, principalmente, devido à ação deste hormônio, entretanto, diante da menopausa, esses índices se igualam.
De outra banda, “deixar de reproduzir” dá mais liberdade junto ao parceiro e a autoaceitação, além de uma maior desinibição “entre quatro paredes”, testemunhas de seu amor.
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Infelizmente, não são só flores neste processo. A falta de estrogênio leva à uma diminuição na densidade capilar, na massa óssea, na renovação celular e na lubrificação vaginal, ao mesmo tempo que aumenta a deposição de gordura central. Situações a se adaptar, sem desespero.
Alguns autores associam o aumento de depressão nesta faixa etária, mas, os dados são muito controversos, assim como, na reposição hormonal. Como os médicos costumam falar: cada caso é um caso e deve ser estudado, isoladamente.
Não se discute: envelhecemos. E o quão bem chegaremos a essa fase, depende da maneira como tratamos os nossos corpos até então.
Envelhecer não deveria ser um fardo pessoal, familiar ou do estado. Deveria ser um processo que merece respeito e honradez, pois, este idoso viu e vivenciou inúmeras situações que, embora não esteja mais apto fisicamente a contribuir com a sociedade (considerando que este fato também esteja em franco declínio, pois, observamos uma atividade enorme entre esses indivíduos), está apto a contribuir com sua experiência, como sábio construtor da sociedade. (foto acima: aindasolteira.blogs.sapo.pt)
ELAINE FRANCESCONI
Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora