Sabe o professor Maurício Ferreira, o dono do Sebo Jundiaí, na rua Torres Neves? O Maurício que mantém há anos no Facebook a página ‘Jundiaí Antiga em Fatos, Fotos e Versões‘ e que cede material para a editoria Jundiaí de Antigamente? Aos 62 anos e com mais de 14 mil fotos, documentos e jornais digitalizados que contam a história da cidade, agora ele é diretor do Departamento de Museus, cargo que inclui o Solar do Barão, Centro de Memória e Museu dos Ferroviários. Nada mal para quem, aos seis anos, começou pedindo e até afanando fotos antigas de parentes. O Jundiaí Agora entrevistou Maurício. Ele falou sobre o amor que tem pela cidade, como recebeu o convite da equipe do prefeito Gustavo Martinelli e os projetos para preservar e democratizar a história da cidade. Confira:
Quando surgiu o interesse em pesquisar a história de Jundiaí?
Começou com seis anos, incentivado pelo meu avô paterno, o vô Zeca. Ele era servidor público. Prestou concurso e passou para motorista da Prefeitura. Aposentou-se como escriturário no final dos anos 1970. Era um autodidata. Tinha o português impecável. Meu pai também foi servidor. Eu nasci literalmente na Prefeitura. Onde hoje é a praça de alimentação do Parque da Uva, antigamente funcionava o depósito da Prefeitura. Ali tinha uma casinha. Eu nasci nela, pela mãos de uma parteira, a dona Rita Tonolli.
O trabalho de registro e publicação começou logo em seguida, Maurício?
Começou sem querer. Todo moleque colecionava bolinha de gude, tampinha de garrafa, caixa de fósforo, figurinha. Eu também colecionava fotos antigas, algo nada comum para um menino de seis, sete anos. Na adolescência já tinha bastantes registros. Era um trabalho de formiguinha já que os parentes mais velhos sempre tinham muito ciúmes das fotografias. Eu ia com jeitinho, pedia. As vezes pegava algumas da minha avó sem ela saber. Com a chegada da internet, comecei a publicar no antigo Orkut. A divulgação do material tomou uma divulgação muito grande. Passei a pesquisar mais. Os leitores começaram a mandar imagens também, tanto físicas como digitais.
Quantas fotos e vídeos seu acervo tem hoje?
Entre imagens, documentos e jornais já passam dos 14 mil arquivos. Mas tenho muita coisa ainda para digitalizar. Antes de assumir a direção do Museu eu dedicava várias horas do meu dia para isto. É um trabalho amador. Mas feito com grande amor, da mesma forma que amo Jundiaí. Quando você ama uma cidade você ama as pessoas, o que já estão aqui, os que virão e principalmente os que pavimentaram o nosso caminho. Estas pessoas devem ser respeitadas, relembradas, reverenciadas.
Quais as maiores raridades?
Tenho várias. A história de Jundiaí sempre foi contada através de figuras icônicas, pessoas muito conhecidas com notório conhecimento da cidade. Mas, a cidade é feita de bairros que crescem sem parar. E nos bairros estão os anônimos. Eles fazem a própria história onde vivem. Tenho muito carinho por imagens raras que recebo, como da Hortolândia, vila Rami, do início do Bonfiglioli, da vila Rio Branco. Quando descubro uma imagem acredito que será um fragmento que ajudará a reconstituir nossa história.
Ser diretor do Museu era um sonho ou a nomeação foi uma surpresa?
Nunca foi. Nunca pensei nisso. Foi uma surpresa. Tomei um susto quando fui convidado. Resisti no início e acabei aceitando por acreditar que poderia ser uma forma de institucionalizar todo este trabalho que faço, todo o carinho que tenho pela cidade, principalmente democratizando as informações. Em algumas semanas, minha página no Facebook tem um milhão de interações, inclusive em outros países. Jundiaiense é como tiririca: tem em todo o canto do planeta! Há muito trabalho, muita coisa para fazer. Meu foco será disponibilizar o máximo do acervo histórico para pesquisa na internet.
Acredita que receberá críticas dos acadêmicos já que sua formação não é de historiador?
Como advogado, professor, empreendedor, acredito que as críticas são sempre bem-vindas. Elas nos ajudam a melhorar. Porém, estou recebendo muito apoio, muitos elogios, muito incentivo. Acho que esta reação tem a ver com o trabalho que eu já entrego para a cidade há muito tempo. No momento em que recebi o convite para assumir o Museu, eu estava atendendo umas 15 demandas de pessoas que estão fazendo doutorado, mestrado, pessoas que estão escrevendo livros de personalidades de Jundiaí. Sempre cedi o material para jornais e televisões. Faço as pesquisas com prazer já que quero aguçar o amor pela cidade em todos.
Você acha que hoje a história da cidade está distante dos moradores? Pretende popularizá-la?
Acho que sim. Mas não por culpa dos gestores. É por culpa da nossa cultura. No Brasil não há uma cultura de se explicar a importância de pesquisar e preservar a história. Pretendo, como já disse, popularizar a nossa história, levá-la aos bairros. Gostaria muito de fazer o Museu da Imagem e do Som de Jundiaí. Este é um projeto antigo. Já entrevistamos figuras importantes da cidade. Mas eu acho que temos de ir aos bairros, conhecer e conversar com os moradores mais antigos, gravar horas e horas de depoimentos e publicar na internet.
E as crianças? Como despertar o interesse delas pela história de Jundiaí?
Ensinando a importância da preservação. Penso que para isto será necessária a parceria com outras secretarias, como a de Educação. Assim faremos projetos nas escolas para divulgar a nossa história.
A Ponte Torta está abandonada novamente. Pretende revitalizá-la, Maurício?
Sim, queremos cuidar melhor dela que, inclusive, já foi reformada e ganhou prêmios internacionais. É preciso ter mais cuidado, mais atenção com este monumento. O centro da cidade também precisa de revitalização. Veja como é na época das festas de final de ano: o centro fica lotado. É preciso trazer as pessoas para a região central sempre. Este é um tema que precisa ser amplamente discutido com criatividade.
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