Este fato não é mais segredo para ninguém: homens têm medo de médico. Só não admitem. Eu, sendo mulher, tenho pavor, mas vou. Seria um caso de auto flagelo? Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde e em conjunto com o IBGE, em 2015, identificou que as mulheres brasileiras vão mais ao médico do que os homens (78% contra 63,9% dos homens).

Os homens têm mais dificuldade para se cuidar e pensar na velhice. Na verdade eles nem notam que estão envelhecendo. Podem estar enrugados, barrigudos e carecas que, mesmo assim, se acham a última Coca-Cola gelada do deserto, enquanto as mulheres, quando vislumbram um fio de cabelo branco e uma dobrinha a mais, entram em desespero.

Esta é uma informação conhecida por muitos profissionais da Saúde, há muito tempo, somente referendada após os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE e da pesquisa Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento, financiada pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas),serem revelados em 2015.

As duas pesquisas comparam homens e mulheres, chegando à conclusão que: os homens não se alimentam corretamente, não fazem exercícios físicos regulares, fumam mais, vão menos ao médico e, por consequência, têm mais problemas de saúde e têm menos tempo de vida.

Enquanto as mulheres se preocupam com: aparência, peso e o envelhecimento bem-sucedido, as pesquisas revelam que a maioria dos homens se considera imune às doenças, priorizando os prazeres da vida, em detrimento da saúde.

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Nesta linha de raciocínio, cheguei à conclusão que a culpa não é deles, senão vejamos:quando uma menina tem sua primeira menstruação ela é levada ao ginecologista. Durante a consulta ela aprende, bem ou mal, sobre o próprio corpo, noções de doenças incluindo DSTs, a necessidade de acompanhamento médico e prevenção de gravidez.

No caso dos meninos, eles passam a ter ejaculações espontâneas noturnas, ereções matinais e ninguém conversa com eles, como se nascessem com um manual acoplado.

A comparação parece estranha, mas, converge para o ponto em que, tanto meninos como meninas, passam a reproduzir, só que sem assistência médica, no caso deles. Não lhes ensinam nada e têm toda a responsabilidade da contracepção relevada, perpetuando a ideia de que quem concentra o poder de engravidar é a mulher, portanto, é ela que tem de administrar essa responsabilidade. Por vezes, sozinha.

A lógica dos homens assim se revela: se eles ignoram, o problema não existe.  Não frequentam consultório médico, assim não precisam descobrir se tem algo errado com seus corpos. O fator preocupante é o resultado do descaso: homens tendem a morrer mais jovens que as mulheres, pois, ao detectarem o problema, muitas vezes em estado avançado, o sucesso de cura deixa a desejar.

Uma pesquisa do Centro de Referência em Saúde do Homem aponta que 70% deles precisam que esposas ou filhos os obriguem a procurar por ajuda médica. E, por sua vez, os familiares só descobrem a necessidade do socorro quando o quadro já está avançado.

O estudo aponta que mais de 50% dos homens chegam aos consultórios com doenças em estágio preocupante, pedindo intervenções cirúrgicas.Quando recebem um diagnóstico positivo, tendem a lidar de forma mais crítica com a notícia. Mais da metade enfrenta sintomas ansiosos e depressivos. As mulheres conseguem expressar melhor seus medos e preocupações e dividem mais suas angústias.

Aparentemente, os homens estão menos “ligados” nos sintomas de um câncer, tais como: inchaço, perda de peso ou sangramento. Eles também estão menos acostumados a cuidar da saúde em geral e ficam mais assustados com a possibilidade de adquirir uma doença. A fantasia da onipotência ainda é muita viva no universo masculino.

Um levantamento feito pela organização Cancer Research UK, do Reino Unido, mostra que a cada ano são 179 mil novos casos de câncer entre os homens daquele país, contra 173 mil entre as mulheres. Para os pesquisadores, os homens estão mais sujeitos a desenvolver câncer do que as mulheres, porque se expõem a mais fatores de risco e cuidam menos da saúde. Uma vez descoberto um nódulo, por exemplo, eles protelam mais a busca por ajuda.

Estudo feito com 2.300 pessoas que enfrentam 15 diferentes tipos de câncer, publicado no British Journal of Cancer e divulgado pelo jornal inglês Daily Mail, revelou que 44% dos homens com sintomas de câncer de próstata adiaram a visita ao médico por três meses. Em contrapartida, apenas 8% das mulheres com sintomas de câncer de mama retardaram a busca por avaliação clínica.

É um fenômeno mundial, como podem observar.

Pronuncie a palavra próstata e constate homens passarem a quilômetros de distância de consultórios médicos. Mas esse não é o único exame que os incomoda, vejamos: perguntas sobre a vida pessoal; conferir o peso ou precisar ficar nus (mesmo com a camisola hospitalar); foram apontados como grandes problemas na pesquisa feita pela Media Source TV (PLANHUV 2016).

Ao mesmo tempo em que homens são incentivados a se masturbarem (machismo) desde as mais tenras idades, o mesmo não acontece com o resto do corpo. Eles aprendem muito sobre o próprio pênis, mas apenas informações relacionadas ao orgasmo (deles mesmos), já que a higiene ainda é assunto tabu, assim como a impotência e até mesmo a fimose.

Sendo titular da cadeira de fisiologia, me vi na obrigação de não deixar meus filhos no escuro. Não existem temas constrangedores entre nós.

Desde que tiveram as primeiras dúvidas ou curiosidades é comigo que conversam e, agradeço a Deus, por essa dádiva. Esse relacionamento me permite ensinar eliminando mitos, exageros e evitar traumas, para que meus filhos adquiram conhecimento sobre o corpo e desenvolvam suas sexualidades de forma natural e saudável.

A disparidade de comportamento entre homens e mulheres, tem como base as barreiras culturais. Ainda é comum observar em muitos lares brasileiros uma cultura tipicamente masculina onde os meninos são ensinados a acreditar que homem não chora, é forte, não adoece, não usa rosa e não precisa cuidar da aparência, porque isso é coisa de mulher. É a chamada “síndrome do super-homem”: a procura por ajuda para melhorar a forma física e a saúde é interpretada como sinal de fraqueza ou fragilidade.

A pesquisadora da Universidade de Connecticut, Mary Himmelstein, revelou à BBC Brasil que homens evitam médicos por medo de serem vistos como fracos. Tudo porque nossas sociedades (brasileira e americana) ligam as ideias de bravura e autossuficiência aos papéis masculinos. A pesquisa diz que quanto mais os homens se importam com padrões de masculinidade impostos culturalmente, mais evitam ir ao médico e minimizam problemas de saúde (subterfúgio declarado).

“No caso dos homens, essas crenças contribuem para a seguinte fórmula: ideia de que, para ser um ‘bom homem’, é preciso ser duro, corajoso e absolutamente autossuficiente. O problema dessas crenças é que criam barreiras para pedir ajuda, mesmo em face de doenças e lesões”, explica.

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Uma boa notícia é que nos últimos anos, uma crescente parcela da população masculina tem conseguido romper as barreiras culturais, mudando conceitos e reavaliando tudo o que se refere à qualidade de vida, saúde e bem-estar físico e mental. São homens na faixa dos 30/40 anos, de classe média ou alta, que descobriram que cultivar uma boa aparência é demonstração de cuidados com a saúde e com uma vida saudável.

Nada está sendo mais valorizado hoje em dia, principalmente pelas mulheres, do que os homens que gostam de se cuidar, não comem qualquer besteira e nem se entopem de cerveja todos os dias, cuidam da aparência da pele e dos cabelos, previnem os sinais da idade e, além de tudo, cuidam da saúde praticando esportes e fazendo exames preventivos.

Essa nova postura nada tem a ver com os modismos da metrossexualidade ou com orientação sexual. O controle do peso, do colesterol, o equilíbrio nutricional, a reposição hormonal e outros cuidados já começam a fazer parte do cotidiano masculino de forma consciente e sem preconceitos.

Isto é muito bom, porque a dor nos faz tomar decisões erradas. O medo dela também, diria o sábio Dr. House.


elaine 2ELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora