Estou evitando JOGAR MILHO pros bicos…

milho pros bicos

Daí aparecem aqueles que querem questionar, sem ter entendido o que leram. Ou os que são do contra porque são do contra. Ou ainda alguns que são modernosos e sempre acham que as coisas estão como estão por questão de gerações, sem conseguir entender o que significa ao certo as tais gerações. É cansativo dialogar com pessoas que pensam pouco. Não porque eu penso demais. Mas porque quem não pensa, não consegue defender seus princípios com propriedade. Atualmente estou evitando jogar milho pros bicos.

A questão: mas Afonso, do jeito que você coloca, tudo é perigoso. Você tem celular? Você é usuário das redes sociais? E, obviamente, respondo: é claro que sim para as duas questões. Não sou um ermitão, nem moro em caverna. Tão pouco penso em abandonar o conforto da vida moderna e tecnologizada para viver no pico do Everest, sem contato com o mundo. Mas, posso usar com moderação.

O momento família é momento família; caso um dos membros esteja conectado ou “fissurado” em seu aparelho, cabe ao mais lúcido sinalizar e propor que se conecte com a família, ao vivo, sem celular e sem rede social. A desunião se mostra nesta cena provocadora e frequente, em que pais, filhos e funcionários se conectam com o ciberespaço, num mesmo ambiente. Sim, isso é desagregador, é desestimulante ao diálogo, é distanciador e, uma vez aceito e repetido à exaustão, instala-se a separação física.

O mesmo se concretiza com os famigerados joguinhos: um membro preso no celular, jogando, é alguém distante do ambiente familiar. Não é possível se concentrar no jogo, que exige muita atenção seletiva e no diálogo ou no movimento interno da casa. A atenção dispersa não garante manutenção dos laços afetivos estabilizados. Interessante será perceber que estes tais laços afetivos já são difíceis de se fortalecerem de maneira natural, se pensarmos, então, num elemento desagregadora coisa fica próxima ao impossível, ainda que os usuários relutem a concordar.

Numa análise mais pontual, o jogo traz muitas vantagens: estimula a velocidade da ação, o raciocínio rápido, a atenção seletiva, a coragem, o medo (sim, o medo é importante ser desenvolvido e conhecido), velocidade segmentar, concentração. Estas virtudes são desenvolvidas enquanto os jogadores se exercitam num ou noutro evento, mas não podemos deixar de ver que a imersão cria o vácuo social, o deslocamento para o mundo virtual, de modo a aumentar o isolamento: aí está o problema.

O isolamento social criado no decorrer do jogo facilita ao jogador o distanciamento de sua família, no decorrer daquilo que, para o jogador, é um momento de distração. O fato da ação on-line se motivadora pelo desafio constante e crescente é suficiente para que se credite e permaneça para o próximo round; apenas verifique o quanto se distanciam dos seus familiares, mesmo estando com o corpo presente, em suas casas. Este é o principal problema da imersão midiática. 

A coisa só piora: o Whatsapp. É bom? É excelente. Mas precisa ser usado com moderação. Por meio do Whats podemos conversar com nossos amigos, mandar mensagens, receber fotos e vídeos, enfim. Mas ficar no Whats quando está com pessoas queridas, além de falta de educação é desrespeito àquele que estão acolhendo. Talvez, entre ser o legal da galera e ser desrespeitoso, alguns optem por ser legal. Escolhas, pobres escolhas.

As demais propostas de redes sociais vibram no mesmo sentido: cada uma delas tem seu objetivo mais determinado. Temos a que se preocupa com as melhores fotos, melhores imagens e melhores “vibes”; temos aquelas que mais se assemelham aos “book rosa” ou “book azul”, em que as fotos são trabalhadas e vulgarizadas, expondo o corpo além do necessário e facilitando as abordagens para fins pouco paroquiais; temos aquelas que mais parecem um banco de emprego. Enfim, temos tudo para cada gosto.

Nesse emaranhado, fica difícil dizer que as redes sociais ou que os celulares não são bem-vindos. Claro que são. São úteis e promovem momentos de muita alegria. Entretanto como temos usado cada um deles? Qual nossa preocupação em continuarmos presentes e participantes de nossos círculos afetivos, com efetividade? Qual nosso interesse em estarmos em casa com nossa família ao invés de em casa, como nossos jogos? Qual a necessidade de ampliarmos nossa hora de serviço invadindo nossas refeições e nosso ócio? Cada um de nós deve ter sua resposta e analisar o quanto estamos sendo permissivos para a invasão midiática nos transformar em mais um ser isolado e alienado.

Sim, alienado, pois estaremos num ambiente físico, mas habitaremos um ambiente midiático. Teremos duas vidas, duas funções, sendo que uma é vivida com amplitude e outra é negligenciada. Isso é alienação na melhor das formas, não nos dando meios de atuar com grau de excelência em ambas, tendo em vista que a atenção seletiva estará focada numa e desligada da outra vida: lembremo-nos da “Second Life”, tão criticada mas, atualmente tão vivida.

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Isso é problema? Isso é vantagem? Isso é coisa do modernismo? Sim e não. Sim, problemático pensar no isolamento social, na escolha pela distancia da família e dos amigos, coisa desta geração, sim. Porém, não deixa de ser um meio de comunicação necessário, sem possibilidade de voltar à estaca zero, eliminando a tecnologia do Universo. O problema não está na tecnologia, está no uso dela e no vício que assumimos como benéfico.

Precisamos perceber o que o perigo está na imersão e no vício da tecnologia, onde o primeiro passo reside na percepção das vantagens e desvantagens desta tecnologia na vida humana. É imperioso cuidar dos isolamentos e distanciamentos, que são cáusticos e desastrosos e ter um uso adequado em locais adequados. Não é a tecnologia que é má ou boa: nosso uso e nosso comportamento precisam ser melhor analisados. E que não se preocupe em jogar milho pros bicos: alguns jamais admitirão seus comportamentos viciantes e fortalecerão os distanciamentos e isolamentos sociais. Mas, viva a tecnologia usada com inteligência.

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport

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