MINISTÉRIO DA SAÚDE adverte: viver dói demais

MINISTÉRIO DA SAÚDE

Meus filhos, como todas crianças saudáveis, sempre se machucaram bastante, inclusive resultando em ossos quebrados. Graças a Deus, nenhum dente. Até agora. Todas as vezes que eles se machucavam e choravam no meu colo eu dizia: “Querido, viver dói. Apesar da dor, vale a pena viver.” Hoje, posso acrescentar que: quanto mais se alonga a vida, mais dói. Uma constatação que o Ministério da Saúde deveria divulgar com estardalhaço. Uma brincadeira com as frases de efeito nos maços de cigarro. Mas com um fundinho de verdade…

Meus joelhos e costas doem diariamente. Esporadicamente outras partes do corpo também doem, especialmente quando fico muito tempo sem me exercitar. Problema associado ao quase meio século de vida, eu sei, mas também a excesso de peso e exercícios mal realizados na juventude.

Essas dores crônicas são incômodas e muitas de suas causas não são “curáveis”, mas algumas são “tratáveis”.

Uma das causas mais comuns dessas dores, e que, recentemente deixou meu marido acamado por alguns dias, é a hérnia cervical, conhecida como hérnia de disco.

Os tecidos entre os ossos da coluna são denominados discos intervertebrais, compostos de um centro macio, semelhante a um gel, e um revestimento externo rígido, possibilitando a movimentação da coluna vertebral.Quando o revestimento externo desse disco se rompe, seu centro pode passar pela abertura, gerando uma hérnia de disco.

À medida que envelhecemos, esses discos perdem sua flexibilidade e elasticidade. Os ligamentos em torno dos discos se tornam frágeis e rompem com maior facilidade. Quando ocorre uma hérnia de disco, ela pode pressionar nervos espinhais próximos (radiculopatia) ou pressionar a medula espinhal (mielopatia), causando dolorosos sintomas.

Observe um fato que ocorre não só com os mais experientes como eu: meça sua altura logo ao levantar e após passar o dia trabalhando/estudando/ fazendo suas atividades regulares, observará que diminuiu. Grande parte dessa diminuição é devido à pressão exercida nesses discos ao longo do dia. Então, as dores serão mais comuns ao fim do dia também.

Essas dores são descritas, na maioria das vezes, como cortante e pungente, por vezes piorando ao longo de uma perna ou braço afetado, mas ela também pode ser descrita como dormência, formigamento ou fraqueza, nestes casos, indicando que pode haver um problema mais sério.

Como fatores de risco estão a idade, exercícios repetitivos e lesões por acidente.

Os tratamentos normalmente começam conservadores, com a prescrição de medicamentos, exercícios, e outras terapias não cirúrgicas, como fisioterapia e quiropraxia, mas no caso de pouco sucesso com essas opções, pode ser necessária a cirurgia de descompressão (que tem como objetivo ampliar o espaço do canal espinhal para alívio da pressão), substituição do disco rompido por outro artificial ou fusão espinhal, que utiliza enxertos ósseos, placas metálicas e parafusos para fundir duas ou mais vértebras, estabilizando a coluna vertebral, e assim, aliviando a dor.

Mas não é só de hérnia cervical que sofremos. A hérnia de órgãos também é um grande incômodo.Ela é a protusão, ou seja, o escape parcial ou total de um ou mais órgãos por um orifício que se abriu, por má formação ou enfraquecimento nas camadas de tecido protetoras dos órgãos internos do abdômen.

Os tipos mais frequentes de hérnia são:

– Hérnias epigástricas: aparecem na linha média do abdome, como resultado do afastamento dos músculos retos abdominais, dois músculos localizados na parte anterior e central do abdômen;

– Hérnias umbilicais ou paraumbilicais: aparecem em volta do umbigo e são geralmente causadas pela passagem de alguma alça intestinal através do tecido muscular. Sua incidência é maior nos bebês e podem desaparecer espontaneamente;

– Hérnias inguinais: Surgem na virilha (zona de junção entre a coxa e a parte inferior do abdômen). Nos homens, pode estender-se até os testículos provocando a hérnia inguinoescrotal. Na grande maioria dos casos, a cirurgia é o único tratamento indicado para esse tipo de patologia.

– Hérnia incisional: relacionada às incisões cirúrgicas na região. Por isso, geralmente, afeta as pessoas mais velhas que tendem a ter passado por mais cirurgias que os jovens.

Nem sempre as hérnias dão sinais, principalmente quando são pequenas. No entanto, quando começam a escapar pelos orifícios do abdômen, podem ser reconhecidas com abaulamentos na região ou por causarem muitas dores.

As dores relacionadas às hérnias abdominais costumam ser piores durante esforços físicos, como levantar objetos pesados ou ficar durante muito tempo em pé, ou quando a parede do abdômen é contraída rapidamente durante o esforço para evacuar ou tossir. A pressão feita ao colocar a mão na boca e soprar, exame típico realizado em jovens durante o alistamento militar obrigatório, também pode indicar a presença de hérnias.

Os sintomas podem surgir e desaparecer espontaneamente, voltando a se manifestar de novo. Às vezes, porém, a víscera pode ficar presa no orifício da hérnia, deixando de retornar à posição normal. Quando isso acontece, há um bloqueio da circulação sanguínea no trecho aprisionado, podendo provocar a necrose desse tecido. Se for uma alça intestinal, pode até ocorrer um rompimento. Nesses casos, além da dor, surgem náuseas e vômitos.

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O tratamento-padrão é cirúrgico e quanto mais cedo for realizado, melhor, sendo que nos casos de hérnias aprisionadas, a cirurgia deve ser realizada com urgência. Qualquer outro recurso para o tratamento da hérnia que não seja a cirurgia será apenas para atenuar os sintomas. A recuperação é rápida e pouco dolorosa, mas pode haver recidiva, por isso é necessário o acompanhamento pelo médico.

Escrevendo esse texto, lembrei-me de uma frase de Millôr Fernandes: “Esta é a verdade: a vida começa quando compreendemos que ela não dura muito”. É bem isso, a vida não dura muito e dói pra caramba! (Ilustração: randradefisio.com.br)


ELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora.


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