Estou atuando em três frentes de trabalho, junto a uma população diferenciada, da minha faixa etária. Não se trata de um trabalho social, nem de nenhuma organização com fins outros a não ser a promoção pessoal, afetiva e sociocultural de cada um dos envolvidos. Desta maneira, espera-se que todos caminhem numa mesma direção, com igual tenacidade e foco. Entretanto,alguns mistérios inexplicáveis (por isso mistérios) acontecem.
É mentira que todos caminham na mesma direção. Como é mentira que todos sejam tenazes e mantenham o foco: essa diferença é o que dá gosto à natureza humana, lembrando-nos das nossas diferenças individuais. Nossas atenções são diferentes e diferenciadas de acordo com nossas necessidades, o que nos faz repensar no foco educacional, uma vez que traçamos objetivos gerais e específicos, mas temos 30 a 50 alunos, em sala, cada um com seus próprios objetivos.
Esta pluralidade faz do profissional da educação um ser diferenciado, único, que precisa aprender a lidar com toda esta mescla de percepções que pairam sobre nosso entorno. Porém, em tempos de coronavírus, todas as atenções centram-se em uma promoção de bem estar e saúde mental; em toda minha experiência docente, nunca vivi algo semelhante nem tão constrangedor: nem docente, nem escola e muito menos alunos estão preparados para esta experiência que parece banal.
Digo constrangedor porque estamos vivendo um período desconhecido, com situações igualmente desconhecidas: doença, sintomas, recursos financeiros, aparatos médicos, informações desencontradas, ameaças e notícias boas. Estes apanhados de situações são frequentes em nossos dias atuais e, claro, alteram nossa Vida. Daí a proposta fundamental destas instituições, nesse momento: propor atividades que facilitem, melhorem, alterem, revejam as coisas e garantam um novo caminhar.
Agora começa minha reflexão: todos acreditam nisso? Todos tentam? Ai começa o mistério!!! Por que nem todos tentam? Ou por que a minoria apenas tenta? O que faz com que todos queiram, mas nem todos tentem? Há alguns exemplos estarrecedores, que já me levaram a sérias discussões com pedagogos, pois do ponto de vista da Psicologia, não basta ter material didático, nem espaço interativo: é preciso haver disposição das duas partes, coisa que estou apresentando como inexistente. É ai a morada do mistério, que poucos pretendem entender; é mais fácil ser operacional do que pensar em situações diferenciadas que façam o grupo evoluir
Voltando ao misterioso problema: existem inúmeras propostas para serem oferecidas, em época de coronavírus; cabe a cada profissional fazer sua escolha e explicar aos seus adeptos o valor e significado de cada uma delas. Deixa em aberto o espaço do diálogo, para questionamento e reapresentação de novas saídas; porém, a escolha apontada e indicada, geralmente, é acatada mas não realizada. Sugere viver aquela frase famosa dos anos 80: um pensa que ensina e outro pensa que aprende.
Claro está que o profissional se vê contemplado pelo seu grupo de adeptos e “até acredita” que todos estejam executando suas tarefas e seus modelos de atividades ante-estresses, atividades de manejo de ansiedade, de reforço e manutenção de memória, de equilíbrio físico e mental, enfim. Até que percebe que menos de 5% estão realizando aquilo que seria um encaminhamento para o bem estar. Alguns se perguntam: e meu esforço em me preparar. Outros se iludem: eles receberam as lições. Iludidos. Iludidos.
Onde está a culpa, se assim pudermos chamar este comportamento desviante? A culpa está no fato das pessoas quererem apenas ser percebidas, ouvidas, mas não se preocupam ainda com a mudança de seus comportamentos. Isso vai lhes dar a possibilidade de dizer que não gostaram, que não se sentiram bem ao fazer ou que não lhes interessou o tipo de atividades que nem foram feitas. Mas elas se sentiram foco de atenção, ao receberem as propostas. Foram percebidas. Foram vistas. Foram sentidas. Ainda que não interagissem com a proposta.
Este é o mistério: querem, mas não querem muito. Ou pior: nem sabem o que querem. Numa situação desta, sempre me vejo pensando numa aula que tive, no Mestrado, com o meu amado professor e orientador Newton Balzan, quando ele discutiu um tema para lá de polêmico: quem motiva o educador? Com toda sua sapiência, ela começou dizendo que a escola pede isso, aquilo e mais aquilo outro. Os pais cobram tal e qual e mais outras coisas. Os alunos precisam disto, daquilo e mais aquilo. A sociedade demanda de bons estudantes, bons profissionais e bons cidadãos.
Mas, e o professor? Quem vai motivá-lo para desempenhar seu papel com adequação, numa sociedade tão injusta? Quem vai motivá-lo diante de administradores que visam apenas seus lucros, sejam lá quais forem, independente do esforço do docente? Quem vai motivá-lo frente a pais que apenas depositam seus filhos no espaço escolar e esperam aprovação, não a sabedoria e o desenvolvimento do filho? Quem vai motivá-lo diante de alunos tão displicentes e poucos comprometidos com sua própria aprendizagem e melhoria de status?
Então, eis o mistério inexplicável!!!Se quisermos bem estar, porque não aproveitamos as propostas de adquiri-lo? Se quisermos saúde mental, por que não abraçamos as propostas de fortalecê-las? Por que, santo Deus, nós nos negamos a querer nosso próprio bem?
Um sábio amigo, psiquiatra de minha cidade, em conversa online (nunca conversei tanto com meus amigos como nessa temporada) disse-me, com muita propriedade: sabe, Afonso, meus pacientes querem estar bem. Querem estar felizes. Querem estar fortes. Mas eles querem que eu busque a felicidade deles para eles. Que eu traga a segurança deles para eles. Que eu aponte o caminho deles e caminhe por eles. Achei esta conversa muito elucidativa e muito boa para meu momento profissional.
A resposta do mistério está ai: aquele seu problema, aquele seu medo, aquela sua insegurança representa o seu medo. A sua insegurança. O seu problema. Eu posso ajudar a contornar, posso indicar propostas de mobilização e manejo. Posso sugerir mudanças de rotas. Mas você precisa querer mudar. O seu passo é você quem dará.
Não se trata de um trabalho de autoajuda, mas edificação e fortalecimento interior, em que adotaremos todos os recursos disponíveis, aliados à vontade de superar o perigo, desde que eu me mantenha de posse da história de minha Vida e que eu me sinta envolvido e com vontade de seguir adiante. Lição nenhuma é aprendida, se todo material estiver disponível, toda estrutura física estiver perfeita, mas o aluno não se interessar em aprendê-la. Eis o mistério inexplicável.
Como poderemos explicar, um dia, no futuro, que todo mundo sabia da necessidade de máscaras, mas que idosos se reuniam e promoviam graças às gargalhadas, sem a devida proteção das máscaras? Como tentar diminuir culpas daqueles que se expuseram desnecessariamente, frente ao perigo eminente do vírus, quando todos estavam devidamente sabedores de seus deveres? Será que teremos respostas às questões que nos dirigirem, se não estivermos zelando pelos nossos deveres? Entendo que a consciência ajudará a minimizar dores, sempre que os deveres estiverem sendo cumpridos. Acredito.
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Analisemos: diante de uma juventude tão esquecida pelos pais modernos, de uma geração quase que criada por si e pela Natureza, como explicar que os mais jovens estejam sendo mais corteses e amáveis que os adultos? Vários são os exemplos em que os jovens ajudam a empurrar o carrinho de compras, a pegar objetos pesados ou abaixo da linha do quadril, ajudam a remover obstáculos, enquanto os adultos apenas olham. De onde veio este aprendizado? O que estes jovens querem nos mostrar? Santo mistério inexplicável… E vamos seguindo em frente.(Foto: www.1zoom.me)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.
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