De Estiva a Tocos do Moji, a proteção de Nossa Senhora

nossa senhora

Eu sabia que o trecho entre Estiva a Tocos do Moji seria desafiador: 22 quilômetros de caminhada. Seriam necessárias atitudes fortes. O cenário é de sítios e fazendas até chegar ao destino. Tocos do Mogi é uma cidade muito charmosa e no percurso há muitas plantações de morangos. Mas não tínhamos ideia do que enfrentaríamos pela frente e quantas vezes pediríamos a proteção de Nossa Senhora.

O dia estava bonito. O trecho é de muita subida e por diversas vezes o cão peregrino parou para descansar. Ter saído um pouco tarde de Estiva trouxe preocupação no meio da tarde, especialmente porque mantive meu ritmo de parar e conversar com os moradores locais. Eu recebia morangos de presente de pessoas generosas, mas sempre intrigados com a direção que seguíamos.

Eu não sabia contar quanto tempo faltava, porém o horizonte mostrava a formação de nuvens carregadas e um provável temporal. A beleza do Caminho da Fé, em especial o trecho da Mantiqueira, nos torna solitários por grandes momentos. São quilômetros sem ver nada nem ninguém. Você é abraçado pela natureza com seus sons e desafios. E a natureza me avisava que iria chover forte. Era necessário apertar o passo. O desespero chegava. Daí veio o pedido de proteção que se repetiria várias vezes: Nossa Senhora, cuide de nós!

Subindo uma montanha, a escuridão veio antecipada, trovões fortes e os olhos do meu companheiro foram tomados pelo pânico. Das coisas que ele mais teme, são fogos e trovões. Eu não queria que ele sofresse, coloquei a guia nele, abaixei e olhei dentro dos seus olhos. Dei um abraço no cão e disse que tínhamos um ao outro e que iria ficar tudo bem.

Seguimos com pingos enormes que marcavam a terra. Ventava muito. A realidade de céu azul e morangos foi transformada em escuridão e isolamento. Eu coloquei minha confiança no Caminho da Fé. Não tinha noção do que seria passar por aquilo. Então comecei a imaginar-me, juntamente com o cão peregrino, em frente a grande imagem de Nossa Senhora que existe na entrada da cidade. Na minha mente estávamos felizes e gratos.

Ao invés de me concentrar no problema fiz o que aprendi: ter fé e me inspirar no melhor. Foi aí que algo inimaginável aconteceu. Um ônibus antigo, amarelo, parou ao nosso lado. A porta se abriu, o motorista só fez um sinal para entrarmos, eu e o cão. O Peregrino saltou para dentro do ônibus e procurou abrigo num banco. Sentei ao seu lado enquanto diversos estudantes olhavam para nós. Era estranho para mim e para eles. Em meia hora chegamos na cidade. O veículo parou e descemos. Não me contive e chorei. O motorista, com olhos marejados, só acenou com a cabeça. O ônibus seguiu e ficamos ali, embaixo da grande imagem da santa, com a certeza de que tínhamos acabado de alcançar uma graça.

VALÉRIA GONÇALVES

É repórter-fotográfica e se descobriu peregrina em 2016Saiba Mais: @dog_peregrino

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