E aí? Me xingaram muito porque o artigo da semana passada não tinha o final da história? Ah, fiz isso porque prezo por vocês e quero vê-los sempre aqui, comigo, neste momento tão legal de reflexão! Acho que agora, com o desfecho do caso, estarei perdoado (espero!). Então, vamos à parte 2!
Bom, vocês se lembram que o nosso personagem principal (vamos passar a chamá-lo de senhor T) havia sido preso em flagrante, “por engano”, acusado de tráfico de drogas, ao sair de um supermercado aqui de Jundiaí, né? O último flash da primeira parte foi exatamente no momento em que a viatura onde ele estava parou… Borá, lá, então!
Do porta-malas do veículo, adaptado como compartimento para presos (Sim! É por isso que os bandidos são chamados de “malas”), ele ouviu os policiais conversando com alguém que, até então, não fazia parte daquele contexto. Era, na opinião de T, o verdadeiro dono da droga apresentada pelos policiais! O que havia ali naquele momento, segundo relato do nosso personagem principal: um “acerto” entre os homens da lei e o traficante. Nada mais do que um plano para todos se darem bem às custas de um bode expiatório.
De repente, a viatura voltou a rodar. Caiu na estrada com destino à delegacia. Lá, o homem que estava na minha frente afirmou ter sido torturado por horas até “assumir o B.O.”, ou seja, assinar o flagrante de tráfico de drogas e responder por aquele crime. Sem suportar mais a violência, T, então, sucumbiu.
Segundo o Banco Nacional de Monitoramento de Presos (BNMP), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), existem mais de 602 mil encarcerados no Brasil – destes, 24% por tráfico de entorpecentes. Nosso personagem se juntava a essa estatística, machucado, atordoado e rezando para acordar finalmente no meio de todo esse pesadelo.
Como foi preso em Jundiaí, T foi enviado de volta à cidade para aguardar o julgamento da Justiça. No Cadeião, logo foi identificado como um cara que não tinha nada a ver com o mundo do crime – principalmente pelo fato de ter 30 anos de carteira assinada e nenhuma passagem pelo sistema prisional.
Quando entrei na história, ouvi seu relato, gravei toda a conversa e fiz uma reportagem contando exatamente o que me relatara. Procurei ouvir também a delegacia sobre a conduta dos policiais, mas ninguém me deu resposta. Com aval de meus editores, publiquei assim mesmo e lembro de ter levado um pito, depois. Um assessor de imprensa, enfim, surgiu para me repreender por ter divulgado o caso sem “esperar o outro lado”. Estaria aguardando a resposta até agora, com toda a certeza…
Meses depois, soube por uma fonte (assim chamamos as pessoas que ajudam jornalistas com informação) que a reportagem havia repercutido muito e que o senhor T fora solto, pois a Justiça entendeu que não havia qualquer cabimento naquela prisão. Como fiquei feliz por ter ajudado aquele homem!
Procurei-o, então, e descobri que estava trabalhando como autônomo. Por telefone dei os parabéns pela liberdade e disse que queria, mais uma vez, registrar aquele fato como uma vitória pessoal dele e pela justiça feita após a divulgação.
A PRIMEIRA PARTE DO ARTIGO DE EMERSON LEITE
“Só te dou entrevista se me arrumar um advogado. Vou pedir uma indenização para a empresa, que me demitiu quando soube da prisão”, disse T, numa pancada só. Decepcionado com aquela resposta, disse que não tinha como bancar um advogado. Pedi desculpas, agradeci pela atenção, desejei-lhe boa sorte e desliguei.
Por dias fiquei remoendo essa história, tentando imaginar que aquilo não foi uma ingratidão, mas uma possibilidade que ele vislumbrou de, novamente, conseguir algo que almejava. Ou não… De qualquer forma, minha missão estava cumprida. Novas histórias caíram sobre o meu colo, mas isto é assunto para um outro artigo. Até sábado que vem!(Foto: m.radioglobo.globo.com)
EMERSON LEITE
Formado em Jornalismo pela UniFaccamp; Pós-graduado em Segurança Pública e Cidadania pela Faculdade Anhanguera; Atua na área desde 1995: passou por rádios, jornais impressos, site e desde 2010 trabalha como assessor de imprensa na área política.