PÁSCOA, uma celebração além das fronteiras religiosas

páscoa

A Páscoa é uma das festividades mais significativas do calendário religioso, tanto para os cristãos quanto para os judeus. Tradicionalmente associada à ressurreição de Jesus Cristo, a celebração é marcada por rituais, símbolos e tradições que variam de acordo com as denominações religiosas. No entanto, a Páscoa é muito mais do que uma festa exclusivamente cristã ou judaica. Suas raízes se estendem por diversas culturas e tradições ao redor do mundo, incluindo as influências africanas que desempenham um papel significativo na compreensão e na celebração dessa data.

Na tradição cristã, a Páscoa é celebrada como a ressurreição de Jesus Cristo, simbolizando a vitória sobre a morte e a redenção da humanidade. Assim, para os judeus, a Páscoa está ligada à libertação do povo de Israel do Egito, conforme narrado na tradição do Êxodo, marcando o início da história do povo judeu como uma nação livre.

Já na diáspora africana, especialmente nas Américas, as tradições se mesclaram com as práticas cristãs e judaicas, resultando em celebrações únicas que incorporam elementos de ambas as culturas. Em muitas comunidades afrodescendentes, a Páscoa é celebrada de maneira sincrética, combinando elementos cristãos com rituais e símbolos africanos, como a dança, música e culinária tradicional.

No Brasil, por exemplo, o sincretismo religioso deu origem ao culto afro-brasileiro conhecido como Candomblé e Umbanda, no qual elementos das religiões africanas foram integrados à fé cristã, resultando em celebrações singulares da Páscoa. O feriado de Páscoa também é ocasionalmente associado a festivais africanos de colheita, que celebram a renovação da vida e a fertilidade da terra, demonstrando a interconexão entre espiritualidade e natureza.

Em países caribenhos, como Haiti e Jamaica, a Páscoa é marcada por cerimônias religiosas que combinam elementos do cristianismo com tradições africanas, como o vodu haitiano e o revivalismo jamaicano. Nestas comunidades, a Páscoa é uma ocasião para reunir famílias e comunidades, compartilhar alimentos tradicionais e honrar os ancestrais através de rituais e cânticos.

No contexto afro-brasileiro, o Candomblé e a Umbanda desempenham um papel fundamental na interpretação e celebração da Páscoa. Nessa religião, a Páscoa é vista como um momento de renovação espiritual e conexão com os ancestrais. Durante as festividades da Páscoa no Candomblé e na Umbanda são realizados rituais de purificação, oferecimentos e invocações aos orixás, os deuses africanos, que simbolizam a ressurreição e a renovação da vida.

Cada orixá tem sua própria influência e atributos, e durante a Páscoa, diferentes rituais são dedicados a cada um deles, dependendo das necessidades espirituais da comunidade. Por exemplo, para Oxalá, considerado o rei dos orixás e associado à paz e à criação, os rituais durante a Páscoa podem enfatizar a purificação e a busca por equilíbrio espiritual.

A natureza desempenha um papel significativo nas celebrações da Páscoa no Candomblé, na Umbanda e em outras tradições afro-brasileiras. Elementos como água, terra, fogo e ar são reverenciados como manifestações dos orixás e fontes de vida e renovação. Durante os rituais da Páscoa, é comum o uso de elementos naturais, como ervas, flores e frutas, que são oferecidos aos orixás como símbolos de gratidão e reverência.

Assim como em outras tradições africanas, a Páscoa no contexto afro-brasileiro é uma celebração comunitária, na qual a comunidade se reúne para compartilhar alimentos, cantar, dançar e honrar os antepassados. A solidariedade e a união entre os membros da comunidade são enfatizadas durante as festividades da Páscoa, fortalecendo os laços sociais e espirituais.

Além das práticas rituais, a Páscoa no Candomblé, na Umbanda e em outras tradições afro-brasileiras é um período de introspecção e transformação pessoal. Os devotos são encorajados a refletir sobre suas vidas, reconhecer seus erros e buscar a reconciliação com os outros e consigo mesmos, como parte do processo de renovação espiritual.

Para muitos afrodescendentes no Brasil, a celebração da Páscoa no contexto do Candomblé e da Umbanda e outras tradições afro-brasileiras é uma forma de resistência cultural e afirmação identitária. Ao preservar e praticar essas tradições ancestrais, as comunidades afro-brasileiras afirmam sua herança cultural e resistem à marginalização e opressão históricas.

Em última análise, a Páscoa nas raízes afro-brasileiras é uma celebração da vida, da esperança e da resiliência do povo negro. É um lembrete da importância de honrar as tradições ancestrais e cultivar uma conexão profunda com a espiritualidade e a natureza. À medida que o Brasil e o mundo continuam a enfrentar desafios sociais, políticos e ambientais, a Páscoa nas raízes afro-brasileiras permanece como uma fonte de inspiração e orientação para as gerações futuras.

Ao reconhecer e valorizar as contribuições das tradições afro-brasileiras para a Páscoa, podemos promover a inclusão, a diversidade e o respeito mútuo em nossas comunidades e sociedades. Assim, temos que a Páscoa é uma celebração profundamente enraizada em tradições religiosas e culturais que transcendem fronteiras geográficas e religiosas. Embora muitas vezes seja associada ao cristianismo e ao judaísmo, a Páscoa também possui significados e rituais que refletem as influências das tradições africanas em diversas partes do mundo. Reconhecer essa diversidade de perspectivas e práticas enriquece nossa compreensão da Páscoa como uma celebração universal de renovação, esperança e união.

Em um mundo marcado pela diversidade religiosa e cultural, o sincretismo religioso emerge como um poderoso canal de convergência entre os crentes, independentemente de suas crenças específicas. A Páscoa nas raízes afro-brasileiras exemplifica essa convergência, onde elementos do cristianismo, das tradições africanas e de outras influências culturais se fundem harmoniosamente para criar uma celebração rica em significado e simbolismo.

VEJA OUTROS ARTIGOS DO PROFESSOR AFONSO MACHADO

A PÁSCOA NÃO ACABA NUNCA

PROMESSA CUMPRIDA: ELE VIVE!

ENTRE O CRER E O VIVER

Ao invés de dividir as pessoas, o sincretismo religioso na Páscoa e em outras festividades promove a união, o entendimento mútuo e o respeito pelas diversas formas de expressão espiritual. Portanto, ao celebrarmos a Páscoa, é essencial reconhecer e valorizar sua riqueza cultural e espiritual, que vai além das fronteiras religiosas e étnicas. Da tradição cristã à influência africana, do judaísmo ao Candomblé e a Umbanda, a Páscoa é uma celebração universal da vida, renovação e esperança, enriquecida pelo sincretismo religioso e pela diversidade humana.

Que essa época nos inspire a buscar a harmonia, a compreensão e a solidariedade entre todos os povos, reconhecendo que, em última análise, somos todos ligados por nossa humanidade compartilhada e nossa busca por significado espiritual.(Ilustração: Pinterest)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

VEJA TAMBÉM

PUBLICIDADE LEGAL É NO JUNDIAÍ AGORA

ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES