O ÚLTIMO PASSEIO

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O dia não poderia estar mais propício para um passeio. Era um sábado ensolarado, temperatura amena, bem típica de início de outono, foi então que eu convidei minha mãe para sair de casa, ver as ruas, olhar para a natureza, para as pessoas. Por causa de suas limitações físicas, ela já não gostava tanto de por os pés pra fora de casa. Mas com insistência, naquele dia dona Tica estava animada e aceitou o convite. Ela não sabia, e nem eu, que este seria o seu último passeio.

Muito fraquinha, minha mãe preferia ficar deitada ou sentada no sofá durante a maior parte do tempo. Ela garantia que não sentia dor nenhuma quando estava confortavelmente instalada no quarto. Mas a gente insistia que sair de casa fazia parte da terapia, que precisava se exercitar, mudar de posição, fazer ginástica… e ela seguia nossos conselhos para nos deixar felizes. Muitas vezes, entretanto, se enchia com tantos palpites.

Mas naquele dia especial, dona Tica se animou com a saída. Colocou uma roupa mais bonita, penteou os cabelos branquinhos, passou batom. Eu e a cuidadora sofremos para dobrar a cadeira de rodas e colocá-la no porta-malas. Mas deu tudo certo e partimos rumo ao Jardim Botânico. Sentadinha em sua cadeira, começamos o tour pelo parque, passando pelos lagos, pelos jardins. Muitas pessoas aproveitando a paisagem para fotos, para brincadeiras com as crianças. O local realmente estava muito bonito e cuidado e com certeza minha mãe gostou bastante.

Mas não demorou muito, dona Tica já dava sinais de que queria voltar para o aconchego de casa. O sol, a alegria do lugar, a nossa companhia e brincadeiras, tudo muito bom, mas minha mãe já ansiava pelo sofá ou pela cama, onde se sentia mais segura. Bem diferente de outros tempos, quando frequentava os bailes com o meu pai, desfilava na União da Vila e Refogados, não perdia uma feira livre, cantava bingo, fazia visitas.  Fizemos sua vontade e a levamos de volta.

O passeio lhe fez bem, com certeza. Ela retornou com disposição, comeu com apetite, ficou feliz e chegamos a fazer planos para outros passeios futuros, que infelizmente não se realizaram. Ela faleceu no último dia 13 de junho, numa noite muito fria.

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MAIS UMA ETAPA VENCIDA

Neste momento, ao escrever este texto, lágrimas começaram a rolar, um misto de tristeza pela ausência da dona Tica, mas de profunda gratidão por ter convido com ela grande parte da minha vida. O tempo passa, as pessoas passam, mas deixam marcas indeléveis em nossas almas, em nossas personalidades, em nossos sonhos.  Com certeza ela foi em paz, cercada de carinho e continua a cuidar de mim, do meu irmão, dos netos. Tenho a convicção de que dona Tica marcou positivamente a vida de muita gente, de sobrinhos, primos, amigos, parentes distantes e próximos, vizinhos. Agora, é a saudade.

VÂNIA ROSÃO

Formada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Trabalhou em jornal diário, revista, rádio e agora aventura-se na Internet.

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