PATA com guarda-chuva?

pata

Meus amigos têm gostado de meus artigos. Dizem que estou mostrando o mundo de um outro ângulo.  Tenho que concordar. Muitas vezes a forma de perceber de um deficiente visual, o cego, é bastante diferente. Quando me explicavam os mapas feitos por mamãe eu trabalhava com as mãos num desenho claro. As representações de rios, montanhas e lagos eram feitas de modo a serem muito exatas para mim. E quanto aos outros desenhos? Hoje vou contar a história da pata com guarda-chuva…

Crianças convivem com desenhos. Eles estão em livrinhos para colorir, em figurinhas na televisão e em quase tudo. Retratam pessoas, bichinhos e flores num universo colorido. Muitas vezes os desenhos são o mundo real das crianças. Eu conhecia as coisas e animais como são. Lembro-me de muito pequeno, no colo do papai, quando ele se debruçou e me fez tocar uma coisa quente de pelos ásperos dizendo:

-Olha, Zé, o porcão do papai.

Meus pais me mostravam os bichos. Conheci bezerro, vaca, cavalo, entre outros. E sempre tivemos cachorros.

Eu não havia aprendido a ver o mundo estilizado e retratado numa superfície plana. Pegava as coisas e as tocava por inteiro. Tinham textura, cheiros, formas, sons. Muitas até se moviam. Hoje penso… Meu cérebro não estava treinado para relacionar a forma plana com o real. A criança que vive em mim continua achando uma loucura.

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Uma vez me mostraram uma pata no papel. Eu não a reconhecia. Foram me dizendo:

-Aqui é a cabecinha, a asa…

Perguntei:

-E isso o que é?

-É o guarda-chuva dela.

-Como assim?

Achava tudo um absurdo. Até hoje necessito de ajuda para compreender as formas planas. Creio que, no fundo de minha alma, ainda exista o conflito adulto-criança. Não ouso confessar quem tem razão quanto ao caso da pata usar um guarda-chuva ou não(risos). Foto: Tima Miroshnichenko/Pexels

JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA

Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. WhattsApp: (11) 982190402.

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