Fico pensando se realmente é um período de isolamento difícil. Porque eu tenho vivido experiências fantásticas nesses meses e tenho me dado muito bem na grande maioria delas. Lembro-me de haver contado de uma conversa que tive com um colega da UNESP que estava preocupado com a minha aposentadoria e com a minha saúde mental. Quando perguntei por que ele se preocupava com a minha aposentadoria e contei que estava me preparando para sair e assumir outra proposta profissional, ele entrou em depressão. Que pena de quem não consegue se preocupar consigo e perde tempo preocupando-se com a vida alheia.
Pois é, o isolamento segue esse ritmo. Desde a primeira vez que escrevi sobre ele, eu disse que esperava coisa de ano, de muitos meses e muitos dias. Que uma pandemia é algo que não se tem controle. Quem está no controle é o vírus. Temos, sim, propostas para nos cuidar e nos proteger, mas imunidade não. Se é assim, como viver bem neste período?
Como disse no início, fico pensando se realmente é um período de isolamento difícil? Nunca conversei tanto com a Aneska e com a Silvana, como agora. Nunca me vi tanto tempo me dedicando a leitura e as minhas coisas pessoais como agora. Nunca tive minhas gavetas arrumadas e minha estante cuidada como agora; nunca procurei por pessoas que me fazem bem e nunca me vi livre de tormentos, com tanta segurança, como agora.
Então, será que realmente é um período de isolamento difícil? Quanto ganhei de paz e de recolhimento? Quanto construí para minha vida íntima? Quanto pude economizar de meu tempo livre e útil, em minhas caminhadas íntimas? Será que isso tudo é pouco? Nesse isolamento tive tempo para rever minha trajetória espiritual e isso me deu liberdade, força e capacidade para assumir posturas nunca antes percebidas e assumidas. Ganhei muito, cresci muito e construí muito. Isso não tem preço.
É claro que se tivesse condições de parear, de dividir espaços, de contar com opiniões alheias, a construção seria mais suave, entretanto, as decisões seriam minhas, porque a história de vida minha só pode ser escrita pelas minhas mãos. Demandam meu envolvimento, minha imersão e minha escolha: eu traço a minha história, eu sou o senhor das linhas por onde piso. E o isolamento me fez perceber que o amadurecimento, realmente, se faz presente, ainda que tenhamos rompido com a barreira dos sessenta anos. Quero amadurecer até minha passagem, seja lá quando for. Amadurecer…e quando abrir os olhos do outro lado, quero continuar a amadurecer.
Dizia D. Gabriel Paulino Bueno Couto, em conversas que tinha comigo, com José Ari Carletti e Márcia de Paula, que “a tal passagem é fechar os olhos aqui e abrir lá”. Ainda acredito nisso e espero que seja apenas um piscar, mas um piscar de olhos para o amadurecimento. Não posso crer que lá seja para descansar e se for eu volto: quero agitação, quero ebulição, quero revolução, quero vivacidade. Amadurecer para garantir a ação da vivacidade.
Diante de tal perspectiva, dentro do período de isolamento, penso no mês de setembro, em que me envolvi por demais, na campanha do Setembro Amarelo. Diariamente mudava o post relativo ao mês e diariamente tinha uma palavra de sustentação, de apoio de alerta. E reparei que os usuários das redes sociais de contatos apenas curtem. São pessoas que não conseguem copiar e passar adiante, mesmo que você peça que divulguem; que chato essa atitude. Se alguém posta algo, ela não está pedindo aprovação, visto que ela postou o que acredita ser correto. Ela espera, no mínimo, que sua proposta avance para outros espaços. Rompa barreiras, seja mais visível, por outros meios e pessoas.
Este comportamento de “curtir e basta” é recorrente nas novas mídias, talvez por preguiça, talvez por comodismo e talvez por se mostrar presente e legal. Pessoalmente, não preciso que validem meus atos. São meus atos. Prefiro que os distribuam se acharem dignos e de valor. Ou então não curtam. Pode parecer estranho, mas no mundo das novas comunicações temos que rever muitos conceitos, este de curtir é um deles.
E, voltando a assuntos antigos, a Europa volta ao segundo período de isolamento. E nós, num país de tamanho continental, não saímos do primeiro, conforme observei semana passada. A diferença é que a Europa inicia o segundo ciclo mais sábia, mais prevenida, mais antenada, aplicando o isolamento total em algumas regiões, por perceber que esta é uma atitude acertada. Nós, em nossa primeira fase, apenas conseguimos mostrar que ainda não aprendemos nada. Consciência nenhuma. Avanço nenhum.
Iniciam-se as investigações e investidas da Polícia Federal rumo aos governantes que lucraram com os meses iniciais da pandemia, implantando respiradores e hospitais que não foram usados (ou se foram, foram sucateados de maneira infame) deixando, de início, a população feliz com seu desenvolvimento, mas com o decorrer da coisa, percebeu-se que era mais uma politicagem e que alguém lucraria com aquilo, nem que fosse com visibilidade e voto futuro. Vamos esperar as conclusões e verificar a maturidade destas ações, antes da segunda onda nos atingir, é claro.(Foto: Contagiando Sorrisos/Rede Massa)
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A mesma coisa se passa com a Educação. Sem verbas, com docentes trabalhando 20 horas por dia, nos sete dias da semana, e agora tendo os pais contra eles. Que falta de sensibilidade!!! Os pais se queixam do valor da educação dos seus filhos? Então façam as queixas aos diretores e gestores, que são os mesmos que estão encurralando os docentes à ações dolorosas e sofridas, diante de uma internet fraca e medíocre, mas que nenhum órgão pública se coloca à frente para resolver o problema. Como sempre: nossa internet é uma das mais cara do mundo e uma das com pior qualidade, mas reclamar para quem e onde?
Então, o que muda no mundo exterior? Só muda aquilo que meu olhar buscar um ressignificado. A ressignificação é um exercício solo, adequado aos valentes e corajosos, poderoso para quem quer superar limites, mesmo que doa e que machuque; ela, a ressignificação tem estes poderes, que não são mágicos, mas são pontuais e firmes, estampando novos valores e novas propostas de vida. Isso todos podemos treinar, em especial, neste período em que estamos isolados e buscando coisas para fazer. Momentos de amadurecimento.
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.
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