POLÊMICAS à parte…

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Quando se escreve aquilo que se acredita, a polêmica se estabelece, uma vez que não são todos que concordam com nossos pontos de vista. Porém, o que comento costumeiramente é que, no caso de discordância sempre existe a possibilidade de dialogar e encontrar o consenso ou escrever seu próprio texto e expô-lo, para se apresentar como uma saída viável também. No caso da última crônica, quando falei dos bárbaros ataques em escolas, as intervenções foram em contatos pessoais e ouvi, analisei e marquei meu espaço, de modo a avançar minhas indagações. Polêmicas à parte.

O ato de concordar ou discordar não implica em refazer ou retirar a crônica do periódico, porém amplia minha perspectiva diante do assunto e, de uma maneira mais pontual, me coloca de frente às outras vertentes que elucidam e engrandecem o conhecimento de um tema tão emergente. Entendo que o crescimento cultural e intelectual se passa dessa maneira, juntando ao pensamento de origem os fatos novos que chegam pela contribuição dos interlocutores. É sempre assim que crescemos.

De uma maneira bastante direta e pontual, reforço que o ataque de Santa Catarina não aconteceu porque o rapaz era petista, como algumas mídias oportunistas e simplicistas querem insistir em apontar. Tão pouco se trata de uma ação motivada pelos jogos eletrônicos e internet. O fato do rapaz ser usuário assíduo de comunidades virtuais não faz dele um assassino.

É preciso que haja um gatilho com força suficiente para mobilizá-lo para tal feito. E este gatilho não precisa ser, necessariamente, algo muito estranho ou, mesmo, fantástico: atitudes repetidas a exaustão podem criar mecanismos de defesa que levam pessoas à atitudes pouco previsíveis e muito estranhas. O fato dele ter algumas queixas de atitudes agressivas já mostra que, no conjunto, algo que não se apesentava bem e não era de agora. Entretanto, alguma coisa serviu de gatilho para a atitude contra as crianças do educandário. Qual seria este gatilho?

E, na capital de São Paulo, o garoto que assassinou a professora, também segue os mesmos caminhos: comentam que era agressivo, apontam sua transferência de escola como fator de muita violência na escola de origem, falam de sua pouca sociabilidade, indagam sobre sua aversão no trato com demais crianças. Entretanto quem questionou sobre sua criação? Quem se preocupou com o contexto onde fora criado e viveu até dias antes do assassinato? Quem saiu atrás da família deste menino para saber de sua posição com relação ao ocorrido e sobre a forma como ele foi criado? Pois é, são questões de primeira ordem que ainda não se tem resposta, justamente porque não houve indagação preliminar.

Entretanto tivemos o caso dos policiais que espancaram uma mulher que os abordou para pedir ajuda. Ouvimos sobre o caso do juiz de direito que ofendeu guardas municipais numa cidade do litoral paulista. Contaram-nos sobre os jovens ciclistas que assaltam pessoas desprevenidas, no centro da maior cidade do país, agindo em conjunto, e levando os celulares para serem vendidos. Alguém questionou algum destes casos e verificou se o contexto era, também, marcado por cenas de “games”, partidos políticos conflitantes, lares frágeis, lideranças frouxas, grupos sociais tóxicos, programas midiáticos violentas e escolas inadequadas àquelas comunidades de onde partiram cada um destes atores?

Nada disso fica muito claro, mas a imaginação faz com que enxerguemos detalhes bizarros na formação de cada pessoa, sem se dar conta de que outras centenas de pessoas estiveram imersas neste mesmo ambiente viciado e doente. Sim, doente, porque socialmente é inadequado e cruel, marcando seus atores com profundas queixas e mágoas e dores que fortalecem a sociopatia expressa em suas atitudes. Uma questão que não pode passar despercebida é a ação das famílias e sua visão diante do acontecido.

Não podemos fechar os olhos para o fato de que tais desarranjos ocorrem em escolas particulares, em bairros abastados, em famílias poliglotas e ricas, com outra tonalidade e requinte, mas não escondem que a malha social estratificada não é suficiente para produzir homens íntegros. Vale lembrar, de passagem, o caso dos Nardone e da Suzane von Richthofen, universitários, bem formados, anteriores ao movimento “internet” mas, infelizmente, detestáveis e cruéis em suas atitudes. Qual será o elo entre a geração desajustada?

Uma família, seja ela com a formação que for, uma crença, seja ela qual for e uma escola composta por docentes atuantes e desenvoltos, com domínio de sua formação e aplicação, com versatilidade diante do imenso Universo com quem trabalham, gestores com liderança e não com indicações, profissionais da Saúde Mental com boa formação farão a diferença na Vida dos jovens contemporâneos, sejam eles adeptos dos jogos eletrônicos ou não, eleitores de um partido ou de outro, mas educados por líderes  que indicam e promovem caminhadas seguras e adequadas.

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Gatilhos? Sim, estes também terão seus gatilhos, mas foram criados para controlar seus medos, suas angústias, suas frustrações mesmo diante de fracassos a que todos estamos sujeitos. Gatilhos não entendem de classes sociais nem de contextos frágeis; gatilhos entendem de oportunidades para extravasar, sem se importar com as consequências. Gatilhos não avisam que vão disparar: simplesmente disparam e causam os estragos que vivemos.

Gatilhos são caóticos e caos remetem à novos gatilhos. Resta-nos investir em bons professores, bem formados e atuantes, em famílias comprometidas com seus membros, com líderes capazes e envolvidos com o desenvolvimento de cada um deles, em segurança capacitada em segurança!!! Talvez seja óbvio, mas não será exatamente isso que esteja faltando: um pouco do óbvio? Com pais sendo pais, professores sendo professores, mães sendo mães, diretores sendo diretores, policiais sendo policiais e Justiça sendo Justiça? Espero viver para ver.(Foto: Jan Kopřiva/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do Lepespe, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da Unesp. Mestre e Doutor pela Unicamp, livre docente em Psicologia do Esporte, pela Unesp, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Diretor técnico da Clínica de Psicologia da Faculdade de Psicologia Anhanguera, onde leciona na graduação.

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