“Quero meu prêmio com JUROS”, brinca primeira rainha da Festa da Uva

Pompéia Fabrício Raspantini tinha 19 anos quando um radialista da cidade, Nelson Loda, passou a procurar o pai dela, o agricultor Rafael Fabrício, com a ideia fixa de inscrevê-la no primeiro concurso para Rainha da Festa da Uva de Jundiaí. O ano era 1947 e o evento era realizado por uma rádio da cidade. O pai não queria ver a filha no concurso de jeito nenhum. Nelson Loda apelou ao irmão dela, o comerciante Tomino. Foi ele quem convenceu o patriarca e Pompéia não só participou. Foi a primeira a colocar a colocar a coroa de rainha da festa mais tradicional da cidade. Mas tudo era muito diferente. A rainha não tinha função dentro do evento. Pompéia não ganhou nada pelo primeiro lugar. “No dia da homenagem disse que eu deveria receber meu prêmio com juros e correção monetária”, disse ela dando gargalhadas.  Neste ano, ela – juntamente com outras ex-rainhas, foram homenageadas.

Para entender o porquê da primeira rainha ter sido escolhida somente em 1947 uma vez que o evento foi iniciado 13 anos anos, é preciso relembrar um período negro da história: a Segunda Gerra Mundial. A primeira festa ocorreu em 1934, na Prefeitura, bem perto do antigo mercado municipal. O Grupo Escolar Conde de Parnaíba sediou a exposição industrial. A segunda, quatro anos mais tarde, foi feita no Largo Santa Cruz. Hoje, este local passou a ser conhecido como Praça da Bandeira.

A terceira Festa da Uva de Jundiaí deveria ter ocorrido em 1942. Mas o mundo estava em guerra. Então veio a festa de 1947, com Pompéia sendo a primeira rainha. Era uma grande novidade até então. O Parque da Uva só viria a ser construído em 1953. Pompéia, nesta época, já não estava em Jundiaí.

O Jundiaí Agora entrevistou a primeira rainha da Festa da Uva de Jundiaí que casou, teve oito filhos, morou em São Paulo, mudou-se para Pirassununga e virou atleta da terceira idade:

Qual a idade da senhora?

Tenho 89 anos!

A senhora é jundiaiense? Conte sua história…

Meu pai plantava uva. Ele tinha 14 mil pés. E eu ajudava fazendo as embalagens para vender as frutas. Convivi com as plantações e exposições. até os 24 anos. Depois, eu casei com um paulistano. Fui morar na capital. Ele foi transferido para Pirassununga, para trabalhar na USP de lá. E eu vivo em Pirassununga até hoje.  Em Jundiaí, trabalhei muito quando ainda era solteira. Trabalhei na fábrica dos Milani, na Japi. Depois, fui trabalhar no comércio do meu irmão.

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A senhora queria ser a primeira rainha da uva?

Nem pensava nisto. Meu pai era muito bravo e não queria que eu me candidatasse. O concurso era feito por uma rádio da cidade. Um radialista, o Nelson Loda, passava todo dia e tentava convencer meu pai que sempre dizia não. Um dia, o Loda foi falar com meu irmão. O tomino falou com o meu pai que acabou concordando. Eu fui mais para ajudar o evento. Tinha 19 anos e não namorava.

O concurso tinha muitas candidatas?

Não lembro exatamente. Acredito que umas seis moças no máximo. Não era como hoje…

Acreditava que ganharia?

Não achava que isto pudesse ocorrer. Queriam que eu participasse. Eu fui. Mas, ganhar já era outra história.

Hoje a Rainha e as Princesas tem como principal função divulgar a Festa da Uva. Como era o trabalho da senhora na época?

Eu não fazia nada. Fui coroada numa praça e participei do primeiro dia da festa. Só isto. Não fui entrevistada nem sai em jornal…

Dá para comparar a festa do seu tempo e a atual? (na foto ao lado, Pompéia durante a homenagem feita neste ano)

É tudo muito diferente. Hoje, as vencedoras ganham uma ‘grana’. Eu não ganhei nada. Até brinquei com os organizadores do evento deste ano: vou cobrar com juros e correção monetária(gargalhada). Já imaginou quanto eu iria receber? Mas a corte de hoje tem mais responsabilidades também…

O que achou da homenagem feita à senhora e às outras rainhas?

Achei linda. Fiquei emocionada. Agradeço de coração. Muito obrigada!

E a rainha deste ano, a Mariana Pasqualotti Sena?

Ela é muito bonita bonita, simpática, agradável. Adorei ela. Votei pra ela!

A senhora teve filhos?

Oito…

E como a senhora virou atleta?

Quando eu tinha 68 anos descobri as atividades físicas para a terceira idade. Pensei que fosse praticar exercícios na cidade, Pirassununga. Não pensava em participar de jogos. Eu me inscrevi para três categorias: atletismo, coreografia e vôlei. Comecei e não parei mais. Antes era permitido participar de três modalidades. Agora, só duas. Deixei o vôlei.

Ganhou muitas medalhas e troféus?

Tenho quase 200 medalhas. Troféus, uns 70…