Renato Júnior, o ‘Trufa’ (foto acima), assumiu recentemente a Associação dos Vendedores Ambulantes de Jundiaí – que ainda não existe fisicamente – e quem esperava dele palavras contra os comerciantes tradicionais, enganou-se completamente. Voz calma, Trufa tem um discurso conciliador. Talvez por saber que os contrários vão ter de aceitar que os ambulantes não vão simplesmente desaparecer. Por outro lado, o presidente aparenta ter a consciência de que para serem aceitos, os vendedores terão de participar do jogo seguindo as regras estabelecidas.

Renato trabalha como ambulante desde os 14 anos. Vive em Jundiaí desde 2004. Ele é paulistano, nascido na Mooca. É casado, tem um filho de 11 anos, mora com a mãe de 70 anos e trabalha no Terminal da vila Arens.

A entrevista com Renato Trufa:

Só uma chapa concorreu (foto abaixo). Não houve interesse da categoria ou todos estavam fechados com você? 

De uns meses para cá conseguimos ajustar os componentes e firmar diretoria da associação. Mas estamos abertos e acessíveis para membros novos e propostas.

CONCILIADOR

Para o Jundiaí Agora, a Prefeitura de Jundiaí mostrou apoio à criação da Associação dos Vendedores Ambulantes. Em compensação, as entidades que representam os comerciantes tradicionais são contrários à entidade…

O apoio da Prefeitura é fundamental para os nossos projetos. Estamos engatinhando como associação e queremos mudar a visão negativa que muita gente e as entidades têm dos ambulantes.

Vocês pretendem conversar com a Associação Comercial e Empresarial (ACE) e com a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL)?

Sim! Pretendemos nos reunir com os representantes destas duas entidades. Acreditamos em parcerias que busquem os mesmos objetivos.

Mas, se as direções destas entidades não quiserem diálogo com vocês.

Estamos começando agora e queremos demonstrar transparência. Um dos nossos objetivos é tirar a imagem negativa que temos. A Associação dos Vendedores Ambulantes quer ajudar, quer ser parceira. Quer buscar soluções com a ACE e com a CDL.

Os comerciantes tradicionais consideram vocês como concorrentes desleais já que não pagam impostos. Como vê esta argumentação deles?

É extremamente importante que todos os ambulantes se regularizem, que se formalizem. Todos terão de pagar suas taxas e serão contribuintes da própria associação.

Quais são seus planos imediatos?

Precisamos legalizar quem atua de forma ilegal e formalizar quem é informal. Os ambulantes precisam trabalhar com produtos lícitos.

Pretendem fazer um levantamento de quantos ambulantes existem na cidade.

Sim. Vamos fazer esta pesquisa dentro e fora dos terminais de ônibus e passar os números para a Prefeitura. É preciso dizer que o número de ambulantes vem aumentando muito por causa da crise. São pais e mães desempregados que estão encontrando no comércio informal a saída para sustentar suas famílias. Acredito que isto venha ocorrendo em todo o país.

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A Prefeitura trabalha hoje na modernização das leis que regulam o trabalho dos ambulantes. Como a associação vê isto?

Para que nossa categoria se adapte é preciso que as atuais leis sejam realmente modificadas. É preciso que sejam boas para todos os lados.

Um camelódromo será uma boa saída para os ambulantes de Jundiaí?

Não achamos que um local assim seja viável agora. Se o Poder Público for pensar em algo neste sentido, melhor seria uma galeria, com todos os ambulantes inscritos, trabalhando na legalidade e pagando impostos.

Como o senhor analisa a fiscalização?

Nunca tive problema com eles. Sempre me trataram bem. Fazem o serviço deles. Estão agindo normalmente, como já era esperado. É claro que existem algumas situações em que os ambulantes ficam revoltados e há reações mais fortes, principalmente quando as mercadorias são apreendidas. Mas, a nossa orientação é para que os vendedores não respondam e muito menos partam para a briga. Os guardas municipais estão cumprindo o dever deles.