PRESO À CONSCIÊNCIA. Apesar das portas escancaradas…

preso à consciência

Não conhecia esse termo preso à consciência. Ouvi do moço há pouco tempo. Veio para me dar os pêsames. Quando nossa mãe partiu, encontrava-se em tratamento para a dependência química. Ao saber, pela noiva em visita ao local em que se achava, chorou muito. Só de dizer, seus olhos navegaram em lágrimas. Creio que viajou até os portos onde conversavam. Ele lhe contava sobre seus avanços e ela o aplaudia e elogiava. Que bom a idade avançada não lhe tirar a capacidade de incentivo e carinho às pessoas. Há três anos, ao nossa mãe quebrar o braço, fez questão de visitá-la por mais de uma vez. Queriam-se bem.

Conheci-o no cadeião do Anhangabaú. Muito receptivo nas visitas da Pastoral Carcerária. Transferido, não nos vimos mais. Tempos mais tarde, nos reencontramos. Reconstruído, feliz e trabalhando como autônomo. Ofício que aprendeu no sistema carcerário, em penitenciária distante, para poder se manter.

No final de 2020, sem conseguir explicar os motivos, recaiu no crack. Com o crack se foi o que havia amealhado. Suas coisas, conquistadas com muito suor, escorreram pelos bueiros do mundo…

Causou-me espanto. Tão determinado na mudança. Em alguns meses, pediu ajuda à noiva com o propósito de se tratar. Dizem que a dependência do crack é terrível. Os dependentes vivem de compulsão em compulsão. Perguntei-lhe como permaneceu, sem remédio, no tratamento por oito meses (o tratamento é de seis, mas preferiu ficar mais dois meses para se fortalecer), em espaço aberto, do qual poderia se evadir a qualquer hora?

OUTROS ARTIGOS DE MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

MISTURANDO ASSUNTOS

O BELA E A LA BELLA

ALERTA AOS CRIMES SEXUAIS

Comentou que ao ser detido, no passado, ordenaram que se deitasse de bruços no chão para algemá-lo. Era manhã de céu aberto e sol a pino. Por uma fresta do olho, observou que, de repente, uma nuvem encobriu o sol. Naquele momento refletiu que acabara, por não procurar auxílio e se considerar autossuficiente, de perder a claridade. Os presídios, mesmo com os pátios para o banho de sol, são de trevas. Dessa vez, concluiu que, se continuasse na pedra, voltaria para o mesmo lugar, do qual saíra desperto sobre a importância da liberdade responsável. Recuou por ele mesmo, se desfez de sua “soberania” e gritou socorro. Concluiu com o comentário de que, embora em um espaço de portas escancaradas, ficara preso à sua consciência. Tão forte essa colocação! Emocionei-me. Ah, se todas as pessoas se prendessem a uma consciência pelo bem de si mesmo e do próximo!(Foto: www.oliberal.com)

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.

VEJA TAMBÉM:

REPOSIÇÃO DE VITAMINAS PARA GESTANTES: VEJA VÍDEO COM GINECOLOGISTA LUCIANE WOOD

ACESSE FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES

PRECISANDO DE BOLSA DE ESTUDOS? O JUNDIAÍ AGORA VAI AJUDAR VOCÊ. É SÓ CLICAR AQUI